Barbara Cartland

O Duque Sem Coração


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bastante desagradável! Por Deus do céu, Taran, vamos ao menos esperar pelo melhor!

      Foi uma surpresa agradável quando, depois de o navio ter atracado, Robert Dunblane subir a bordo.

      Era um homem alto, bem-apessoado, de mais de cinquenta anos, e sem dúvida causava impressão em seu kilt, com o boné de lado na cabeça de cabelos grisalhos e a capa xadrez, presa ao ombro por um enorme broche de pedras.

      O Duque estendeu a mão para eie.

      –Eu o teria reconhecido em qualquer lugar, Dunblane!

      –Infelizmente, não posso retribuir o cumprimento de Vossa Alteza– retrucou ele.

      O sorriso dele, entretanto, exprimia agrado e aprovação ao ver o Duque .

      Sem dúvida, seria difícil para Robert reconhecer nesse homem alto e bonito, que agora estava diante dele, o rapaz franzino de olhar tempestuoso e rebelde, que fazia força para reprimir as lágrimas, como quando o vira pela última vez.

      A calça justa em baixo e bufante, o fraque, a brancura impecável da gravata bem ajeitada acentuavam o corpo atlético do Duque, de ombros largos e quadris estreitos.

      Robert Dunblane percebeu também as características dos McNarn; o nariz reto, aristocrático, e a boca firme, autoritária, severa.

      –Suponho– disse o Duque, depois da troca inicial de gentilezas– que você tenha um meio de conduzir Lord Hinchley e eu ao Castelo. Não é?

      Robert Dunblane sorriu.

      –Há cavalos à sua disposição, Alteza, ou, se prefere, uma carruagem, mas permita que eu lembre, caso tenha esquecido, que as estradas são muito empoeiradas nesta época do ano, e é bem mais rápido atravessar-se a charneca em linha reta.

      –Pois então iremos a cavalo– disse o Duque–, está bem para você assim, William?

      –Estou pronto para qualquer tipo de viagem– retrucou Lord Hinchley–, desde que não seja por mar!

      –Fizeram uma viagem difícil, milord? – perguntou Robert Dunblane, solícito.

      –Terrivelmente difícil!– respondeu Lord Hinchley–, se eu não tivesse conseguido afogar o sofrimento do modo tradicional, sem dúvida já estaria numa sepultura no fundo do mar!

      O Duque riu.

      –O Lord está exagerando!– disse ele–, o mar estava um tanto encapelado, é verdade, mas felizmente pegamos vento de popa, senão teria sido bem pior!

      –Impossível!– exclamou Lord Hinchley, e eles todos riram.

      Estava um dia ensolarado e uma ventania forte, capaz de arrancar indivíduos franzinos de suas montarias, quando partiram nos cavalos que Dunblane providenciara para eles.

      Deixaram para trás a cidade de Perth e rumaram para o norte, passando pelo Palácio Real de Scone, onde tinha havido várias coroações.

      O Duque ficou imaginando se Lord Hinchley estaria interessado em saber que o Parlamento e o Conselho Geral reuniam-se em Scone, no período entre a ascensão de Alexander I, que nasceu em 1106, e a morte de Robert III, em 1406.

      Mas logo disse para si, com um sorriso cansado, que os ingleses não se impressionavam com a história escocesa e aliás, faziam o possível para destruir tudo o que desse prestígio ou importância àquela que, para todos os efeitos, era uma colônia conquistada.

      Percebeu então, surpreso, que estava pensando como um escocês e, talvez pela primeira vez em muitos anos, sentiu-se melindrado com o costume inglês de desmerecer os escoceses e de considerá-los selvagens e incultos.

      Acreditava que, em grande parte, a hostilidade, a indiferença e até a crueldade deles eram ditadas pelo medo.

      Havia alguma razão para isso, pois, há apenas trinta anos, as tropas inflamadas por propaganda sediciosa, em Register House, Edimburgo, haviam gritado:

      –Abaixo o Rei!

      Lembrou-se também de que, por todo o campo, à medida que chegavam as notícias das vitórias dos franceses, comandados por Napoleão, os escoceses iam plantando pinheiros como símbolos de liberdade.

      Mas agora tudo isso estava terminado. George IV estava para visitar a Escócia e dizia-se que era um gesto de amizade.

      –Não sei se Sua Alteza lhe falou– disse Lord Hinchley a Robert Dunblane, enquanto cavalgavam–, mas devo partir para Edimburgo dentro de um dia ou dois, para os preparativos da visita de Sua Majestade.

      –Imagino que milord vá preferir ir pela estrada– comentou Robert.

      –Com toda a certeza!– respondeu Lord Hinchley–, por muito tempo não vou conseguir olhar o mar sem estremecer.

      –Espero que uma das carruagens de Sua Alteza seja mais confortável– disse Dunblane, cortesmente.

      O Duque, entretanto, estava pensando que, se seu amigo tivesse bom senso, iria a cavalo.

      Era muito agradável cavalgar montanha acima, avistando-se a cidade e seu largo rio prateado, contemplando-se a charneca, com seus urzais azul-violáceos e, lá ao longe, os grandes picos das montanhas Grampian.

      Recortadas contra o céu, ainda com vestígios de neve, elas eram muito bonitas.

      Um bando de perdizes alçou voo, à passagem do Duque, dirigindo-se para um lugar mais seguro no vale.

      Os três continuaram subindo por algum tempo ainda, até que finalmente, no topo da charneca, Dunblane fez parar seu cavalo para que os visitantes apreciassem a magnífica vista.

      O estuário descrevia um desenho azul brilhante à luz do sol, as Torres e tetos de Perth espalhavam-se às margens do rio e as urzes silvestres davam uma sensação de liberdade.

      Ao contemplá-las, o Duque sentiu-se como se tivesse fugido de um cativeiro e essa era uma sensação para a qual não achava explicação.

      Começou a lembrar-se da expressão dos rostos dos criados que estavam à espera deles, quando desembarcaram do navio.

      Dunblane apresentara a Taran o homem encarregado de cuidar deles, um escocês enorme e rude, cujos olhos fitaram o Duque com inegável devoção.

      «Depois de todos estes anos, será que ainda represento algo para essa gente que usa o mesmo nome que eu?» perguntou-se o Duque.

      Gostaria de ter perguntado a Dunblane, mas concluiu que ficaria embaraçado, porque Lord Hinchley sem dúvida riria de sua curiosidade.

      Lembrou-se do quanto havia reclamado de fazer aquela viagem e de quantas vezes repetira que detestava a Escócia,

      –Se você a detesta tanto assim, por que vai voltar?

      –Por questões de família– retrucara o Duque sucintamente.

      Sabendo que seria invadir a privacidade dele, Lord Hinchley não perguntara mais nada ao amigo.

      Contudo não pudera deixar de pensar que Taran era uma criatura estranhamente imprevisível.

      Tinha grande afeição por ele e era impossível não admirá-lo como desportista, mas ao mesmo tempo, sentia no escocês certa reserva que não encontrara em nenhum outro homem que conhecia.

      Ele achava que, como eram amigos íntimos, não haveria nada sobre o que não pudessem conversar; nada seria assunto tabu.

      Mas logo descobriu que o Duque não gostava de falar sobre qualquer coisa referente aos McNarn.

      Dunblane, afastara-se deles e agora, cavalgando no topo da montanha, podiam locomover-se bem mas rápido.

      Tanto o Duque quanto Lord Hinchley estavam acostumados a passar longas horas sobre uma sela. Iam às corridas de Newmarket sem achar fatigante e já haviam disputado páreos entre si, tentando quebrar o recorde do Rei, varias vezes em Brighton.