Barbara Cartland

O Duque Sem Coração


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a pouca distância, dentro de cinco minutos avistaremos o Castelo .

      O Duque conhecia-o bem desde a infância, contudo, quando, depois de contornarem um penhasco, viu o Castelo adiante, foi impossível não achá-lo maior, mais impressionante e imponente do que ele se lembrava.

      Uma enorme construção em pedras cinzentas, com Torres, janelas e portas alongadas, no estilo do século XVII, o Castelo Narn, era um dos mais importantes e certamente o mais suntuoso das Highlands.

      Lord Hinchley ficou boquiaberto, fitando-o com indisfarçada admiração.

      –Meu Deus do céu, Taran!– disse ele–, você nunca me disse que possuía algo tão maravilhoso quanto o Castelo Windsor!

      –Alegra-me que tenha gostado– disse o Duque secamente.

      Entretanto, não pôde evitar uma sensação de orgulho.

      Ele tinha chegado a odiar o Castelo , que fora uma sombra em sua infância, tão ameaçador e opressivo, que quando fugira dele, no meio da noite, pensara que nunca fosse voltar.

      Contudo, ao vê-lo assim, com o sol batendo nas janelas, a bandeira tremulando ao vento na Torre mais alta, a posição de domínio sobre as terras que o circundavam, o Duque sentiu que o Castelo realmente era digno do chefe dos McNarn.

      Olhou para trás, para ver se os criados da estrebaria que os acompanhavam ainda estavam à vista.

      A bagagem estava seguindo pela estrada e eles tinham sido escoltados por seis homens a cavalo, que agora estavam se aproximando bastante deles, não mais mantendo a distância que haviam respeitado durante o percurso todo.

      O Duque virou-se para a frente de novo e Robert Dunblane disse calmamente:

      –Eles estarão esperando do lado de fora do Castelo, para cumprimentar Sua Alteza.

      –Eles?– perguntou o Duque–. Quem?

      –Os homens do Clã. Somente, é claro, aqueles que moram nas vizinhanças do Castelo. Os outros virão das montanhas amanhã ou depois.

      O Duque ficou em silêncio por instantes e depois perguntou:

      –Para quê?

      Foi uma pergunta sem rodeios, na qual ele mesmo sentia haver um certo toque de apreensão.

      Dunblane franziu as sobrancelhas e olhou para ele imediatamente.

      –Há uma cerimônia tradicional para dar as boas-vindas a um novo chefe de Clã e eles estão esperando ansiosos por sua volta.

      O Duque não respondeu.

      Era impossível dizer a Dunblane que, ate receber a segunda carta, ele não tinha tido a menor intenção de voltar.

      Lembrava-se vagamente do pai, presidindo reuniões do Clã, das quais Taran não participava, e conduzindo festas de Natal, das quais participava.

      Agora estava percebendo quão importante um chefe era para seu povo e, embora tivesse tentado se convencer, ainda em Londres, de que essas coisas estavam fora de moda, sabia agora que se enganara.

      Desejou ter dito claramente em sua carta a Dunblane, quando anunciara sua chegada, que ele não queria alarde, nada de cumprimentos especiais, nada de membros do Clã prestando homenagens.

      Depois, achou que, mesmo que tivesse feito isso, ninguém faria caso de seu pedido.

      Um chefe era o pai de seu Clã e, se antigamente detivera o poder de vida ou morte sobre seu povo, era também responsável por seu bem-estar.

      Como era mesmo aquilo que tinha lido num livro, quando estava em Oxford? Era um texto que visava explicar a posição dos chefes de Clã , e dizia:

      “Como senhorio, patriarca, símbolo, juiz e general, seu poder era total e absoluto, mas de vez em quando discutia questões de grande importância com os membros de sua família e os membros líderes de seu Clã ”.

      «Uma coisa é certa», pensou o Duque, «eu não tenho parentes próximos com quem discutir, nem planos imediatos. Meu pai morreu, graças a Deus e, infelizmente, minha irmã Janet também».

      Só restava Torquil, e fora justamente aquele jovem desmiolado, seu herdeiro presuntivo, quem o havia trazido de volta à Escócia, arrancando-o do conforto e divertimentos de Londres.

      Devia haver, ainda, outros parentes dos quais não se lembrava. Em tom deliberadamente casual, o Duque perguntou a Dunblane:

      –Há alguém morando no Castelo ?

      –Só Jamie, Alteza.

      O Duque ficou confuso.

      –Jamie?

      –O filho mais novo de Lady Janet.

      –Ah, é claro!

      O Duque havia-se esquecido do nome do sobrinho e só se lembrou dele quando Dunblane falou.

      Tinha sido justamente por ocasião do nascimento desse segundo filho que Janet morrera de parto.

      –Ele é mesmo muito engraçado– disse Dunblane–, corajoso e ousado, um verdadeiro McNarn em todos os sentidos!

      –Ousadia não é um atributo que eu deseje encontrar em meu sobrinho precisamente agora!

      Disse o Duque, com certa rispidez. Dunblane sentiu-se repreendido e ficou um tanto nervoso, mas não disse nada.

      Depois, tão repentinamente que Lord Hinchley e o Duque se sobressaltaram, surgiram homens de entre as urzes e precipitaram-se para eles, cercando-os.

      Estavam todos de braços erguidos, em saudação, e bradavam em conjunto o que o Duque reconheceu ser o grito de guerra, o lema dos McNarn.

      Era uma exaltação entusiástica e selvagem, que tanto fazia lembrar um passado heroico quanto incitava a matar o inimigo.

      O Duque lembrou-se de que aquilo fazia parte da identidade do Clã , tal como a insígnia de urze ou murta que os homens usavam no boné.

      O lema foi gritado várias vezes; em seguida, o som doce das gaitas de fole fez-se ouvir e os homens desmontaram, marchando ao lado de seus cavalos, em direção ao Castelo .

      E, antes mesmo que se desse conta, o Duque viu-se cavalgando sozinho à frente deles, enquanto Dunblane e Lord Hinchley seguiam um pouco atrás, junto com a escolta de seis homens.

      Um instante depois, o som das gaitas foi abafado por centenas de vozes, aclamando, e o Duque viu os homens de seu Clã esperando por ele, formando um corredor até a entrada do Castelo.

      Eram estranhos, rudes e pobres, contudo havia orgulho em suas posturas, e os ombros largos e os braços fortes mostravam que eles eram homens para se respeitar.

      As aclamações eram fortes e não havia possibilidade de falar com alguém individualmente, ou responder às saudações, a não ser com um aceno de mão e uma inclinação de cabeça.

      Então, quando chegou à porta do Castelo o barulho, o vozerio e a música das gaitas cessaram de repente.

      Os homens do Clã ficaram observando-o em silêncio, e o Duque pôde ver as esposas e os filhos deles, mais distantes, sem participarem, espiando por trás dos arbustos.

      Taran tinha tido intenção de entrar direto no Castelo, mas algo mais forte do que sua vontade, um instinto de fazer o que era certo e que ele não podia ignorar, fez com que parasse e virasse de frente para os homens que haviam lhe dado as boas-vindas.

      –Obrigado– disse ele, numa voz que empolgava–, obrigado e que a boa fortuna esteja convosco!

      Foi um cumprimento que lhe veio à mente, surgindo de seu passado, mas o mais estranho foi que ele proferiu a frase em gaélico, a língua que não falava há doze anos!

      Um grande viva ergueu-se da multidão, espontâneo e sincero. O Duque levantou de novo o braço em saudação, depois virou-se e entrou no Castelo.

      –Agora,