Sei que você me ama, Sylvie, e trouxe-lhe isto!
Charles tirou do bolso um pequeno estojo de veludo e abriu-o. Sylvie não escondeu sua admiração ao ver o belíssimo anel com um diamante enorme, branco-azulado, cercado de diamantes menores. Deixou escapar da garganta um pequeno grito revelador da sua surpresa e seu encanto.
A jóia refulgiu ao sol da tarde. Era inegavelmente um anel de grande beleza e valor incalculável.
Feliz com a reação da namorada, Charles colocou o estojo na mão dela e a enlaçou nos braços para beijá-la.
—Espere!
A voz de Sylvie, um tanto alta e aguda, surpreendeu Charles. Quando ela se desvencilhou dos seus braços, ele ficou pasmado.
—O que foi?— indagou, confuso—, imaginei que você tivesse gostado do anel e concordado em ser minha esposa.
—Sinto muito… mas… não posso aceitar seu pedido de casamento— ela respondeu.
Por um instante reinou pesado silêncio no salão. Por fim Charles encontrou a voz para perguntar:
—O que quer dizer com isso?
—Não vou me casar com você… portanto… não posso aceitar este lindíssimo anel de noivado.
Relutante, Sylvie fechou o estojo e devolveu-o a Charles que o pegou num gesto automático, ainda atônito, duvidando de sua capacidade auditiva.
—Não compreendo— ele murmurou—, quando a beijei, na Devonshire House, você não só demonstrou sentir afeição por mim, como murmurou que me amava. Comprei este anel de noivado hoje cedo, certo de que você concordaria em ser minha esposa.
—Sim... confesso que… naquela noite… no jardim… o seu beijo me fez vibrar de emoção— Sylvie admitiu—, mas… agora… penso que tudo mudou.
—O que aconteceu? De que você está falando?
Charles continuava perplexo, sem poder acreditar no que estava ouvindo. Nunca lhe passara pela mente que Sylvie Bancroft ou qualquer outra mulher fosse capaz de rejeitar seu pedido de casamento.
Vendo-a dar uns passos para trás, afastando-se dele. Charles seguiu-a com um olhar indagativo.
—Imagino que você esteja chocado ao ouvir a… minha recusa… mas… prometi casar-me com... Wilfred Shaw— Sylvie respondeu.
Se antes Charles não entendia o motivo de Sylvie recusá-lo, a presente resposta deixou-o ainda mais abismado.
O Marquês de Shaw, apesar de rico e de vestir-se com apuro, era um homem extremamente feio, falava muito alto e apenas sobre cavalos ou os desentendimentos com a família.
Era tão insuportável que todos os sócios do White’s Club fugiam dele.
Como era possível que Sylvie Bancroft, uma beldade que tinha aos seus pés tantos pretendentes, pudera concordar em ser esposa de um homem tão sem graça e desagradável?
De repente, quase como se estivesse com o jornal aberto na sua frente, Charles lembrou-se exatamente do que havia lido no Morning Post ainda nessa manhã, à mesa do breakfast.
“O Duque de Oakenshaw encontra-se seriamente enfermo e todos os parentes foram chamados às pressas para se reunir na casa ancestral, em Oxfordshire.
Ao Marquês de Shaw, sobrinho e herdeiro do Duque, foi confiada a administração dos bens e das propriedades de Sua Alteza.”
A pequena notícia não despertara grande interesse de Charles. Ele apenas dissera a si mesmo que Wilfred, quando se tomasse um duque, certamente ficaria mais insuportável do que já era.
—Lamento… se o desapontei— a voz de Sylvie interrompeu as reflexões de Charles.
—Desapontou-me?! O que você esperava? Nunca imaginei que você se rebaixasse ao ponto de se casar com Wilfred Shaw por causa do seu título!
Sylvie virou-se para o jardim por não ter coragem de encarar Charles. Disse em tom queixoso:
—Eu sabia que você nunca iria entender os meus motivos. Quero ser uma duquesa. Quero ter uma posição privilegiada na corte. Quanto a você... pode demorar muitos anos… para… herdar o título.
Era demais! Charles respirou fundo para controlar-se. Sabia que Sylvie pensava nele como o "Nunca-nunca-nobre". Não precisou ouvir mais nada.
Guardou o estojo de veludo no bolso e com voz sarcástica e amarga, disse:
—Dou-lhe os parabéns e lhe desejo felicidade no casamento.
Curvou-se, respeitoso, e caminhou para a porta, e já ia sair quando Sylvie chamou-o:
—Espere, Charles! Ouça-me!
—Nada mais há a dizer— ele replicou, a voz glacial.
Fechou a porta bem devagar, silenciosamente, e caminhou pelo corredor sem pressa. Atravessou o hall, mudo, e foi diretamente para a porta sob o olhar surpreso dos três lacaios em serviço.
O cavalariço aguardou que o patrão subisse no faetonte e correu para tomar seu lugar no banquinho traseiro.
Assim que os cavalos puseram-se em movimento Sylvie apareceu no alto dos degraus. Chamou Charles e acenou-lhe, mas ele virou o rosto. Tocou os animais mais depressa e desceu rapidamente pelo bem cuidado caminho de entrada da casa.
Ainda não se refizera daquelas emoções desencontradas que o deixaram tão abalado. Sentia raiva, surpresa, desapontamento e o orgulho ferido. Era como se o tivessem esbofeteado.
Sylvie demonstrara claramente que o amava. Era inacreditável que tivesse concordado em se casar com um homem tão desagradável quanto o Marquês de Shaw.
A medida que Charles refletia sua raiva aumentava. Estava zangado com Sylvie, porém furioso consigo mesmo. Como pudera acreditar que ela e o amava e que seria boa esposa?
Ambiciosa! Interesseira! Tudo o que desejava era agarrar o título mais elevado que lhe oferecessem! Pouco lhe importava o homem possuidor desse título.
Charles amara a mãe, uma mulher linda e meiga que havia adorado o marido e o filho. Fora pensando na mãe que ele escolhera Sylvie Bancroft para ser sua esposa.
Naquelas três semanas Sylvie mostrara-se suave, tema e parecia amá-lo. Como pudera ser tão falsa e tão esnobe?
Embora não tivesse um título de nobreza. Charles sentia-se superior aos seus contemporâneos. Era inteligente, fora sempre o melhor aluno em Eton e ganhara inúmeros prêmios.
Praticara várias modalidades de esportes, o que lhe valera um físico perfeito e dezenas de troféus. Destacara-se no Exército e recebera medalhas por atos de bravura.
Além disso tinha beleza, elegância e uma fortuna invejável. No entanto, não conseguira conquistar Sylvie Bancroft.
O faetonte havia alcançado a estrada que nesse trecho era estreita e sinuosa; a velocidade dos cavalos teve de ser diminuída.
Charles se censurou por ter sido ingênuo a ponto de ficar cego diante de um belo rosto. Envergonhava-se também de ter-se comportado como um adolescente tolo.
Não que tivesse sofrido uma desilusão amorosa. A questão não era essa, pois reconhecia que não amava Sylvie Bancroft perdidamente.
Escolhera-a para ser sua esposa por achá-la bela e meiga, mas enganara-se quanto ao seu caráter.
Felizmente ele não dissera a ninguém sobre a intenção de desposá-la, o que lhe pouparia ouvir dos conhecidos e daqueles que o invejavam, brincadeiras de mau gosto.
Em todo caso, considerou, todos o viram muitas vezes com Sylvie Bancroft e poderiam tirar suas conclusões.
Ainda nessa manhã, no White’s Club, quando ele dissera que estava de partida para o campo, um grande número de sócios fizeram-lhe