Barbara Cartland

A valsa encantada


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em seu benefício, vou à procura da aventura!

      CAPÍTULO III

      Quando Wanda chegou à casa da Baronesa Waluzen, grande parte da emoção que sentira ao falar com o Príncipe Metternich começava a decrescer.

      O sol se punha lentamente sobre Viena enquanto sua carruagem seguia pelas ruas tortuosas e congestionadas da cidade. Ela sentiu-se de repente insignificante, jovem demais, porém com muito ânimo para lutar.

      Havia sido realmente corajosa viajando sozinha a Viena, para a maior aglomeração social de todo o mundo!

      Ela pensava no momento em seus vestidos nas malas arrumadas pela velha criada, uma mulher doente que não pudera acompanhá-la. Os vestidos seriam com certeza simples demais e pouco adequados à vida social que a esperava.

      Fora uma luta renhida ir a Viena contra a vontade das tias, que insistiam na imprudência da viagem. Elas teriam impedido se pudessem, mas a vontade da falecida cunhada tinha de ser respeitada. Enfim, deixaram-na ir, resmungando e vendo perigo em tudo.

      E Wanda agora pensava se as tias não haviam tido razão! Não conhecia ninguém em Viena a não ser o Príncipe Metternich, que, verdade seja dita, fora mais gentil do que ela jamais ousara esperar. Wanda podia ainda sentir a mesma emoção quando ele, além de recebê-la bem, pedira-lhe que o ajudasse e que ajudasse a Áustria. O pedido lhe parecera muito fácil a ser realizado de início; mas agora, sozinha, uma onda gelada acabava com seu entusiasmo.

      Como o Príncipe achara simples sugerir que ela conhecesse o Czar, dançasse com ele e o fizesse falar! Mas como era difícil para Wanda, uma vez sozinha, visualizar os planos se transformando em realidade!

      Ainda não sabia em que tipo de lugar iria dormir aquela noite, que receção teria da parte da Baronesa Waluzen ou se obstáculos surgiriam, impedindo-a de ir ao baile.

      Que roupa usaria? Para uma mulher esse era um problema de suma importância. O pânico tomou conta dela e teve vontade de pedir ao cocheiro que voltasse atrás, que a levasse à casa das tias, ao local que lhe era familiar e de forma alguma assustador.

      Lembrou-se então da mãe, de rosto pálido, sofrido, que lhe dissera com insistência:

      —Quero que você se divirta um pouco, querida. Tem de experimentar os mesmos prazeres que eu usufrui quando eu era jovem… bailes e namoros…

      —E onde posso encontrar isso?— perguntou Wanda, sorrindo.

      Ela amava sua casa situada no alto de uma colina, bem distante da aldeia mais próxima. Passava, ela e a mãe, meses sem ver ninguém, excetuando-se os empregados que trabalhavam no campo.

      —Aqui é impossível, concordo com você, minha filha.

      Carlotta Schonbõrn respondera.

      Em seguida, ela fechou os olhos e recostou-se nos travesseiros. Adormeceu.

      Alguns dias mais tarde, contudo, como se uma faísca de entusiasmo reacendesse nela, disse à filha:

      —Wanda, preciso falar com você. Chegue aqui perto e feche a porta.

      Surpresa, Wanda obedeceu. Ao se aproximar do leito, Carlotta pegou-lhe uma das mãos e declarou:

      —Ouça, filha. Tenho um plano. Está havendo no momento uma Convenção em Viena.

      —Todo o mundo sabe disso, mamãe. Tentam restabelecer uma paz duradoura na Europa.

      —Esperemos que consigam. Mas imagina o que uma Convenção representa? Haverá bailes, desfiles e concertos. Quero que você esteja presente a essas festividades.

      —Mas é impossível, mamãe! Como posso?

      —Temos de arranjar isso, filha. Temos de arranjar.

      A ideia da Condessa, transformara-se numa obsessão durante as últimas semanas de vida. Ela escreveu uma carta ao Príncipe Metternich, com o que restava de suas forças, e pôs nas mãos da filha o colar de turquesas e diamantes.

      —Entregue esta carta ao Príncipe pessoalmente, Wanda. Não confie em ninguém. Sei como, nas enormes Chancelarias, os criados e secretários perdem essas coisas ou não se dão ao trabalho de entregá-las aos patrões. Se o Príncipe recusar recebê-la, mostre-lhe o colar. Ele o reconhecerá.

      Na carruagem, indo para a casa da Baronesa, Wanda rememorava o pavor que a invadira quando o Príncipe recusou recebê-la e quando, num gesto de desespero, deu o colar ao lacaio pedindo-lhe que o mostrasse a seu amo. O rapaz lançou um olhar estranho à joia. Wanda sentiu o mesmo que um jogador sentiria ao apostar o restante de sua fortuna nos dados ou nas cartas.

      Fechou os olhos e lembrou-se de como seu coração batera mais forte quando o criado, ao voltar, dissera que o Príncipe a receberia. Mais uma vez sentiu o contato dos lábios dele em seus dedos.

      Poderia ela faltar com a palavra dada? Iria ser tão covarde a ponto de não prosseguir com sua tarefa? Apertou as mãos e parou de tremer. Nesse instante, a carruagem entrava no pátio de uma casa.

      No escuro, a mansão cinzenta, cheia de torres, imensa, pareceu-lhe pouco acolhedora. A porta da frente abriu-se. Wanda revestiu-se de coragem e desceu. O espanto dos criados ao verem a velha e dilapidada carruagem da qual ela descera para entrar no hall de mármore não concorreu em nada para acalmar sua ansiedade.

      —Trouxe uma carta para a Baronesa Waluzen— explicou Wanda—, por favor, entreguem a ela.

      Um lacaio de cabeleira empoada apanhou a carta e outro criado conduziu-a a uma saleta onde acendeu as velas. A lareira estava apagada. Wanda tremia de frio e de medo. E se a Baronesa não a recebesse? E se ela não pudesse ficar lá? Voltaria à Chancelaria ou iria a uma estalagem para passar a noite?

      Viena estava lotada, cada cômodo das casas particulares havia sido ocupado, e os visitantes sem reserva dormiam nas carruagens ou, se não as possuíssem, num banco do Prater, o parque de diversões mais famoso de Viena, talvez da Europa.

      Apesar de toda sua coragem, Wanda começou a tremer. Sentia-se cansada e faminta. Havia dito ao Príncipe Metternich que comera antes de ir vê-lo, mas mentira. Estava excitada demais para engolir qualquer coisa. Porém, naquele instante, a situação era diferente.

      A espera foi intolerável.

      De súbito, um lacaio apareceu na porta. Levou-a, através de um longo corredor repleto de quadros, para um salão profusamente iluminado.

      Era a sala mais esquisita que Wanda já vira. Estava tão cheia de móveis, porcelanas, marfim, cristais e prataria que era difícil atravessar o recinto sem encostar em algum objeto. Mas, apesar de todos esses tesouros, a sala dava impressão de vazia, pois não se via ninguém. Enfim, sentada junto à lareira, achava-se uma velha senhora.

      Tinha o rosto enrugado e os cabelos brancos presos no alto da cabeça, penteado em voga no fim do século dezoito. Apesar da idade, a mulher possuía um corpo ereto. Usava uma quantidade imensa de joias no pescoço e nos braços, e a mão que estendeu a Wanda brilhava com os anéis.

      —Então» você é a filha de Carlotta Schonbõrn!— disse ela com voz rouca.

      Havia qualquer coisa especial no modo como a velha senhora a fitava. Sem dúvida, o olhar da Baronesa era mais jovem que o resto do corpo.

      —Sim, madame, sou filha de Carlota Schonbõrn— respondeu Wanda, fazendo-lhe respeitosa reverência.

      —Você é linda, menina! Lembro-me de sua mãe quando se casou. Duvido que ela tenha sido feliz; seu pai era bem mais velho e um homem taciturno.

      Wanda não sabia o que responder, calou-se, portanto.

      Ficou em pé diante da Baronesa, achando difícil desviar o olhar dos colares de diamantes e turquesas ou das pulseiras de rubis e esmeraldas que brilhavam a cada movimento que madame fazia.

      —Você não se parece nada com seu pai— acrescentou a Baronesa, como se falasse consigo mesma—, e esses olhos azuis... Sim...