Barbara Cartland

A valsa encantada


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replicou a Baronesa ironicamente, e continuou andando sem dar tempo ao frustrado admirador de pensar numa resposta adequada.

      Enfim, a Baronesa sentou-se numa sala onde as pessoas mais distintas se reuniam; então, antes que Wanda fizesse a pergunta que lhe queimava os lábios, alguém a fez por ela.

      —Os soberanos já chegaram?— uma mulher de máscara amarela indagou.

      —Acho que estão chegando agora— um homem de barba avermelhada respondeu.

      —Como sabe?— a mulher insistiu.

      —Eles acham que podem se misturar com a plebe— disse o homem—, mas é impossível. Veja o Rei da Prússia, por exemplo. Parece um touro entrando na arena!

      —Psiu! Psiu!— a mulher de máscara amarela repreendeu-o.

      Wanda percebeu que alguém lhe sussurrava ao ouvido:

      —O Czar está com uma capa preta cheia de estrelas sobre a farda branca com uma única condecoração.

      A pessoa falava tão baixo que, por um momento, Wanda achou que imaginara ouvir sons.

      Olhou para trás e ainda pôde ver um homem fantasiado de macaco, que se afastou rapidamente.

      O macaco se fora, e a Baronesa não escutou nada.

      —Lá está a Baronesa de Oldenburg— disse ela apontando para uma mulher que dançava—, é a irmã do Czar. Pensa que está disfarçada, mas eu reconheceria aquelas pérolas em qualquer lugar do mundo. São muito especiais para serem imitadas.

      —Isso quer dizer que o Czar já chegou?— indagou Wanda.

      —Acho que sim— respondeu a Baronesa com indiferença.

      Nesse instante, um palhaço com máscara multicolori- da inclinou-se diante de Wanda, dizendo:

      —Linda ninfa, quer me dar a honra de uma dança? Se recusar, juro que morrerei.

      Sem pedir permissão à Baronesa, Wanda aceitou o convite. Queria dançar para ter chance de ver mais; queria descobrir onde estava o Czar. Não obstante, ainda não sabia o que iria fazer ao encontrá-lo.

      Deslizou pelo salão ao som de uma polonesa e, enquanto seu parceiro a fazia girar, viu-o; viu a capa preta coberta de estrelas prateadas, viu, também, e muito claramente, diamantes brilhando na farda branca.

      Com uma ligeireza que ela não acreditava possuir, largou seu parceiro no meio do salão repleto e foi para perto do lugar onde vira o Czar , sozinho, apreciando a multidão que se agitava.

      Richard, no papel de Czar, estava irritado e sentia-se pouco confortável em sua vestimenta. O paletó era apertado demais e, embora houvesse concordado em substituir o Imperador, aborrecia-se com sua aceitação.

      Após um lauto jantar ele teria preferido divertir-se, sem o peso de personalizar o Czar. A boa comida e o vinho convidavam a um relaxamento que ele não podia usufruir como “ Czar ”.

      O Imperador Francis era, sem dúvida, um magnânimo anfitrião. Tudo onerava os cofres do país incrivelmente, pois as despesas dos convidados de Hofburg eram pagas pela Áustria.

      O Imperador recebia, mês após mês, vários soberanos, mais de duzentas famílias, Príncipes, embaixadores e o pessoal que acompanhava a corte. Cada dia quarenta pessoas jantavam no Palácio

      Em noites como aquela, não apenas os hóspedes do Palácio ceavam lá, mas muitas outras pessoas eram convidadas a tomar parte no banquete que precedia os bailes.

      Richard detestava reuniões daquela espécie, e não fazia exceção naquela noite. O que o deixara de mau humor, também, fora o fato de, no jantar, não ter sido posto ao lado de Katharina, mas entre duas mulheres, em que nenhuma delas era interessante.

      O jantar havia se constituído, portanto, num fracasso para ele. E ficar por algum tempo ao lado da imperatriz da Rússia aumentou sua irritação.

      Na verdade, ele tentava se compadecer da Imperatriz Eüzabeth, sabendo-a negligenciada pelo marido. Mas, em vez disso, teve pena foi do marido infiel.

      A imperatriz não havia sido, nem mesmo na juventude, bonita como Marie Narischkin. E, no presente, ela perdera os poucos dotes físicos que possuíra, no início da vida de casada. Engordara e seu rosto estava coberto de manchas e espinhas. Não era inteligente e pouco fazia para conservar a dignidade de sua posição. Vivia solitária mas não se esforçava para ganhar popularidade, e em geral evitava cerimônias e aparições em público, embora devesse comparecer a todas elas.

      Foi, portanto, de muito mau humor que Richard, usando as roupas do Czar, fora ao baile. Divertiu-se, é verdade, quando as sentinelas lhe apresentaram armas à porta e, quando atravessou os corredores, os que o encontravam saudavam-no apesar da máscara que usava.

      Olhando-se no espelho, reconhecia que o barbeiro do Czar fizera um trabalho maravilhoso. Ele era, sem dúvida, a imagem perfeita do Imperador.

      «Por quanto tempo terei de aguentar isso?», Richard se perguntava ao entrar no salão de baile.

      Não poderia se retirar antes do Czar. Apenas esperava que o Imperador se divertisse e que valesse a pena o sacrifício.

      Ele não pretendia dançar, somente tomar alguns drinques. Dirigia-se ao bar quando uma vóz feminina lhe disse, segurando-lhe o braço:

      —Oh, o senhor pisou em meu leque! Acho que o quebrou, que pena!

      Richard percebeu que havia algo sob seus pés e, olhando, viu um leque de madrepérola quebrado em dois pedaços. Apanhou-o do chão e enxergou diante de si um rosto lindo com olhos azuis que brilhavam atrás de uma pequena máscara de veludo preto. Os cabelos da moça tinham reflexos dourados. Ele não a conhecia.

      —Sinto muito, mas quebrei seu leque— desculpou- se Richard.

      —Meu Deus! E eu que gostava tanto dele!

      —Vou mandar consertá-lo.

      —É muito trabalho para Vossa Majestade!

      —Ao contrário. Há um homem na cidade que conserta tudo… exceto corações, naturalmente.

      Wanda sorriu, e Richard notou uma covinha na face esquerda da moça.

      —Vamos sair daqui para conversar um pouco— sugeriu ele—, ou prefere dançar?

      —Podemos... dançar?

      —Mas claro!

      Ele pôs o braço em volta da cintura de Wanda. Não imaginava que pudesse existir cintura tão fina. A orquestra executava uma valsa, e Richard lembrou- se de que, um dia, adorara dançar valsa; isso antes de se tornar assíduo do Almanack’s, lugar que as debutantes frequentavam.

      Ele e Wanda dançaram com grande prazer. Não conversaram. Richard apreciou-a por isso e, quando a música parou, estavam perto de uma saleta decorada com flores e samambaias, um verdadeiro jardim perfumado. Encontraram dois lugares vagos, na penumbra.

      —Vamos nos sentar— sugeriu Richard.

      Wanda obedeceu, mas não se sentia muito à vontade.

      —Fale-me sobre você— pediu Richard—, quem é, afinal?

      —Meu nome é Wanda. Quanto ao sobrenome, acho que não é para ser dado num baile a fantasia, onde todos estão incógnitos.

      —Não, claro que não — concordou ele, lembrando- se de que seu próprio nome também tinha de ser mantido em segredo—, conte-me ao menos por que não a conheci antes.

      —É pergunta fácil de responder. Cheguei a Viena esta tarde.

      —Esta tarde?! Então, é seu primeiro contato com a Convenção?

      —Primeiríssimo!

      —E que acha de tudo?

      —Seria muita pretensão minha fazer comentários em tão pouco tempo.

      —Depende