Barbara Cartland

A valsa encantada


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Adquiri o hábito de morar sozinha, e você precisa me ajudar a vencê-lo. Creio que vai ficar comigo, não é mesmo?

      —Só se a senhora quiser, madame!

      A Baronesa riu muito, um riso zombeteiro.

      O Príncipe Metternich decretou! Não sabe que o Príncipe consegue o que quer? Todos nós o obedecemos em Viena. Você concluirá isso após curta permanência na cidade. E, agora, vá descansar para ir ao baile de máscaras desta noite.

      —A senhora vai, madame?

      —Claro! Achou que ia me deixar em casa? Posso ser velha, mas não tão velha que prefira uma cama quando tenho a chance de observar os tolos se divertindo. Haverá muito tempo para eu descansar quando estiver no túmulo. Vá, menina, e durma um pouco agora, se puder. Não temos muito tempo!

      —Mas... madame... que roupa vou usar?

      Como resposta a Baronesa pegou a carta do Príncipe que estava em seu colo. Apanhando os óculos, leu-a de novo.

      —O Príncipe insiste que você se apresente decentemente. Os homens são interessantes! Onde ele espera que eu providencie uma toalete a estas horas da noite?

      —Eu… eu enho dois vestidos de baile, madame— Wanda gaguejou—, um é de gaze branca enfeitado com fita azul-turquesa. Achava-o lindo; mas agora, em Viena... não tenho muita certeza.

      —Sua mãe o escolheu?

      —Sim, madame.

      —Carlotta tinha bom gosto. Acho que podemos ter certeza de que servirá para esta noite. De qualquer maneira, você usará uma máscara.

      —Como posso manifestar minha gratidão? Tenho muito a dizer, mas não sei como começar.

      —Não há nada a dizer, menina— insistiu a Baronesa—. Obedeço ao Príncipe e, se é meu prazer obedecê-lo, tanto melhor. Ademais, acho que já é tempo dê ter uma pessoa jovem morando comigo. Quando se é velha, não há nada pior que a solidão.

      —Obrigada, madame, muito obrigada!

      Algumas horas mais tarde, já pronta, Wanda considerou seu vestido branco com fita azul-turquesa muito bonito. Simples, sem sofisticação, ficava-lhe talvez melhor que qualquer outra toalete mais elaborada. Ela pôs o colar de turquesa da mãe, luvas da mesma cor e desceu ao salão para se apresentar aos olhos críticos da Baronesa. Erguendo bem a cabeça, fitou-a sem medo.

      Dormira bem, o sono reparador de uma criança. Seus olhos brilhavam e os cabelos escovados pela criada de quarto da Baronesa tinham reflexos dourados, pois a luz das velas dos candelabros incidia sobre eles.

      Se a Baronesa parecera a Wanda bem enfeitada antes, naquele momento sua aparência era surpreendente. Vestia um traje de cetim verde, da última moda em Paris. No pescoço, ela usava um fabuloso colar de diamantes de várias voltas, e na cabeça uma tiara de diamantes. Wanda ficou tão atônita com as joias de madame que se esqueceu por completo de que esperava uma aprovação.

      —Você está linda, minha cara— disse a Baronesa, gentilmente. Depois acrescentou, com um sorriso irônico—, iremos dar pé a comentários: a primavera e o inverno lado a lado!

      —Vamos usar máscaras, não, madame?

      —Vamos, mas duvido que a máscara seja um disfarce no meu caso— observou a Baronesa com secura—, em contrapartida, na sua idade, minha filha, esconda o menos possível.

      —Mas até que vai ser divertido…

      —Claro que sim. Você verá que as mulheres mais velhas usarão disfarces pesados, na esperança de “fisgar” um homem que, em circunstâncias normais, nem olharia para elas. Fantasias são para quem precisa se esconder, não para você. Mas aqui está sua máscara.

      Ela entregou a Wanda uma minúscula máscara de veludo. Não passava de uma tira de fazenda com dois orifícios para os olhos. Quando Wanda a pôs no rosto, achou que a máscara fazia sobressair a brancura de sua pele e o brilho dos cabelos. Ficou muito atraente, provocante até.

      —E agora, vamos jantar— declarou a Baronesa precedendo a jovem na enorme sala de jantar onde lacaios de uniforme vermelho e dourado esperavam-nas.

      Refeição como aquela Wanda imaginara existir apenas em novelas. Os pratos e os molhos eram deliciosos, preparados com certeza por um gênio na arte culinária. Um vinho diferente foi servido com cada prato.

      A Baronesa comia com prazer e Wanda concluiu que esse tipo de jantar, luxuoso, era preparado diariamente para ela, tendo ou não convidados.

      Wanda tinha vontade de rir ao lembrar-se das refeições modestas a que estava acostumada, e que ela sempre considerara excelentes. Não havia termo de comparação entre a comida de sua casa e a que lhe serviam agora. Mas sabia apreciar o que era bom, tanto na arte como na música ou na cozinha.

      Eram quase nove horas quando, enfim, as duas mulheres levantaram-se da mesa e tomaram a carruagem que as aguardava à porta. Seguiram para Hofburg, onde, como a Baronesa informara antes, o baile tinha lugar.

      Havia filas de carruagens indo para o mesmo local. Wanda estava entusiasmada. Tinha a impressão de que uma cortina de palco se levantava e a peça teatral começava. Mas, dessa vez, ela era a protagonista.

      Mencionara à Baronesa que o único motivo de sua ida ao baile era divertir-se. Porém imaginava que a velha senhora, com sua intuição, adivinhava haver outras razões.

      Ela observava Wanda atentamente, não perdia nada. Quando chegaram perto do Palácio, disse:

      —Não tenha medo, filha. Pessoas medrosas não se ajudam nem ajudam aos outros. É a coragem que vence batalhas.

      —Não estou mais com medo— declarou Wanda—, apenas, um segundo antes de chegar à sua casa, tive desejo de fugir.

      —Mas não fugiu.

      —Não, claro que não.

      —Isso é o que importa. Um homem ou uma mulher que lhe disser que nunca teve medo estará mentindo, Wanda.

      Não houve tempo para mais conversas. Os cavalariços baixavam os estribos e abriam a porta da carruagem.

      Dentro do Palácio de Hofburg tudo era luz e colorido, e ouviam-se todos os idiomas. A antiga residência dos reis da Áustria fora especialmente escolhida para o baile de máscaras, onde o incógnito dava oportunidades a intrigas que abundavam na capital austríaca.

      O enorme salão, iluminado feericamente, estava decorado com guirlandas de flores. À volta havia uma galeria circular que dava acesso a muitas salas onde se servia a ceia.

      Cadeiras revestidas de tecido vermelho e dourado tinham sido distribuídas em forma de anfiteatro e, sentados, observando os pares que dançavam, estavam muitos convidados, alguns somente com máscaras, enquanto outros com as mais extravagantes fantasias.

      Várias orquestras tocavam valsas e polonesas. Em algumas salas dançava-se o minueto.

      Quase todos os convidados usavam máscaras, e era óbvio, à primeira vista, que a pompa e a cerimônia foram postas de lado para dar lugar à boêmia, no vasto salão.

      As mulheres sorriam de maneira provocante, desafiando seus pares a adivinhar se eram bem-nascidas ou simples cortesãs. Os homens, com máscaras também, podiam ser um Imperador ou um criado, um membro da corte ou um valete.

      A música, que nunca cessava, penetrava na alma e, pela primeira vez na vida, Wanda viu pessoas dançando num abandono que tinha algo de pagão.

      Ela e a Baronesa atravessaram a pista de dança. Enquanto caminhavam entre os pares dançantes, Wanda constatou que a velha dama acertara em dizer que todos a reconheceriam, apesar da máscara de cetim verde que combinava com o vestido. Todo mundo conversava com ela, alguns respeitosamente, outros com familiaridade, como se um conhecimento mais antigo permitisse tanta intimidade.

      —Acabei de dizer— observou