DEZOITO
CAPÍTULO UM
Cassie Vale, vinte e três anos, sentava-se na ponta de uma das duas cadeiras plásticas na sala de espera da agência de au pairs, encarando os pôsteres e mapas na parede oposta. Bem acima do logotipo brega da Maureen Au Pairs Europeus, havia um pôster da Torre Eiffel e outro do Portão de Bradenburgo. Um café em um pátio pavimentado, uma vila pitoresca com vista para um mar azul celeste. Cenas que faziam sonhar, lugares que ela desejava estar.
O escritório da agência era apertado e sufocante. O ar condicionado chacoalhava inutilmente, sem que um respiro de ar saísse da ventilação. Cassie levantou a mão e discretamente secou uma gota de suor escorrendo por sua bochecha. Não sabia por quanto tempo mais poderia aguentar.
A porta do escritório abriu-se de repente e ela pulou, pegando a pasta de documentos na outra cadeira. Mas seu coração despencou ao ver que era apenas mais uma entrevistada saindo, dessa vez uma loira alta e esbelta, exalando toda a confiança que Cassie desejava ter. Ela sorria, satisfeita, segurando um maço de formulários oficiais, e mal olhou para Cassie ao passar.
O estômago de Cassie apertou. Ela baixou o olhar para seus documentos, perguntando-se se também seria bem sucedida, ou se sairia decepcionada e envergonhada. Sabia que sua experiência era inadequada de dar pena, e que não tinha qualquer qualificação apropriada para o cuidado de crianças. Fora rejeitada pela agência de cruzeiros que tinha abordado na semana anterior. Eles disseram que sem experiência não poderiam nem mesmo colocá-la nos registros. Se aqui fosse igual, ela não teria chance.
– Cassandra Vale? Eu sou Maureen. Por favor, entre.
Cassie olhou para cima. Uma mulher grisalha em um terno escuro estava esperando de pé na soleira da porta; claramente, ela era a proprietária.
Cassie ficou de pé e seus documentos cuidadosamente organizados espirraram para fora da pasta. Juntando tudo, seu rosto em chamas, ela apressou-se para a sala de entrevistas.
Conforme Maureen os folheava com a testa franzida, Cassie começou a cutucar as cutículas com as unhas, depois entrelaçando as mãos, a única forma de evitar esse hábito nervoso.
Tentou respirar profundamente para se acalmar. Disse a si mesma que a decisão dessa mulher não seria seu único passaporte para fora daqui. Havia outros meios de escapar e ter um novo começo. Porém, nesse instante, esse parecia ser o único restante. A empresa de cruzeiros tinha lhe dado um “não”. Ensinar inglês, sua outra ideia, era impossível sem as qualificações certas, e obtê-las era muito caro. Precisaria economizar por mais um ano para ter a esperança de começar, mas agora não tinha o luxo desse tempo. Na semana passada, sua escolha fora arrancada dela.
– Então, Cassandra, você cresceu em Millville, Nova Jersey? Sua família ainda vive lá? – Maureen finalmente perguntou.
– Por favor, me chame de Cassie – ela respondeu. – E não, eles se mudaram. – Cassie apertou suas mãos mais forte, aflita com a direção que a entrevista estava tomando. Não esperava ser questionada sobre sua família em detalhes, mas agora se dava conta de que naturalmente eles precisariam do histórico da vida doméstica dos candidatos, já que os au pairs iriam viver e trabalhar nas casas de seus clientes. Ela teria que pensar rápido, porque apesar de não querer mentir, receava que a verdade fosse prejudicar sua candidatura.
– E sua irmã mais velha? Você diz que ela está trabalhando no exterior?
Para o alívio de Cassie, Maureen tinha seguido para a próxima seção. Ela tinha pensado no que dizer caso fosse solicitada, promovendo a própria causa de um modo que não exigisse detalhes confirmáveis.
– As viagens da minha irmã definitivamente me inspiraram a buscar um trabalho no exterior. Eu sempre quis viver em outro país e eu amo a Europa. Particularmente a França, já que sou bastante fluente no idioma.
– Você estudou?
– Sim, por dois anos, mas eu já tinha familiaridade com o idioma antes disso. Minha mãe cresceu na França e trabalhou como tradutora freelancer de tempos em tempos, quando eu era mais nova, então minha irmã e eu crescemos com um bom entendimento do francês falado.
Maureen fez uma pergunta em francês – O que você espera ganhar no trabalho como au pair?
Cassie ficou satisfeita por ser capaz de responder com fluência. – Aprender mais sobre a vida em outro país, e melhorar minha proficiência de idiomas.
Ela esperava que sua resposta fosse impressionar Maureen, mas ela permaneceu sisuda enquanto terminava de examinar a papelada.
– Você ainda mora em sua casa, Cassie?
De volta à família dela, de novo... Será que Maureen suspeitava que ela escondesse algo? Precisaria responder cuidadosamente. Sair de casa aos dezesseis anos, como ela fizera, seria um sinal de alerta para um entrevistador. Por que tão jovem? Havia problemas na casa dela? Ela precisava oferecer uma imagem mais bonita, que aludisse a uma vida familiar feliz e normal.
– Moro sozinha desde os vinte anos – ela disse, sentindo seu rosto ruborizar com a culpa.
– E trabalhando meio período. Vejo que você tem uma referência aqui do Primi? É um restaurante?
– Sim, fui garçonete lá pelos últimos dois anos.
Isso era verdade, felizmente. Antes desse, tinha tido uma variedade de outros empregos, e até mesmo um bico em um bar sujo, porque lutava para pagar sua moradia compartilhada e sua educação à distância. Primi, seu emprego mais recente, fora o mais agradável. A equipe do restaurante tinha sido como a família que ela nunca teve, mas não tinha nenhum futuro ali. Seu salário era baixo e com as gorjetas não era diferente; a atividade comercial naquela parte da cidade era difícil. Ela vinha planejando uma mudança na hora certa,