Блейк Пирс

Quase Ausente


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sussurrou e seu coração de 12 anos se encolheu em terror. – Você está ai, garotinha?

      Ela apertou os olhos fechados, dizendo a si mesma que era apenas um pesadelo, que estava segura em sua cama e os estranhos no andar de baixo estavam se preparando para ir embora.

      A porta rangeu ao abrir devagar e, na luz derramada pelo luar, viu uma bota pesada aparecer.

      O pé pisou através do quarto.

      – Ei, garotinha – um sussurro rouco. – Vim dizer olá.

      Ela fechou seus olhos, rezando para que ele não ouvisse suas respirações rápidas.

      O sussurro dos tecidos enquanto ele puxou as cobertas... E então o grunhido de surpresa ao ver o travesseiro e casaco que ela havia embrulhado por debaixo.

      – Saiu por aí – ele tinha resmungado. Ela imaginou que ele estivesse olhando para as cortinas encardidas esvoaçando com a brisa, o cano de esgoto insinuando uma rota de fuga precária. Da próxima vez, ela encontraria a coragem para descer; não podia ser pior do que se esconder aqui.

      As botas recuaram para fora de sua visão. Uma erupção de música veio do andar de baixo, seguida por uma discussão aos berros.

      O quarto ficou quieto.

      Ela estava tremendo; se fosse passar a noite se escondendo, precisaria de uma coberta. Era melhor pegá-la agora. Ela relaxou para longe da parede.

      Mas conforme ela deslizou a mão para fora, uma mão grosseira a apanhou.

      – Então você está aí!

      Ele lhe puxou para fora – ela agarrou a estrutura da cama, ferro gelado raspando suas mãos, e começou a gritar. Seu choro aterrorizado preencheu o quarto, preencheu a casa...

      E ela acordou, suada, gritando, ouvindo a voz aflita de Jess. – Ei, Cassie, você está bem?

      Os tentáculos do pesadelo ainda estavam à espreita, querendo atraí-la de volta. Podia sentir os arranhões doloridos em seu braço onde a estrutura enferrujada da cama a cortara. Pressionou os dedos ali, aliviada por encontrar sua pele intacta. Arregalando os olhos, acendeu a luz sobre a cabeça para afugentar a escuridão.

      – Estou bem. Sonho ruim, só isso.

      – Quer um pouco de água? Chá? Posso chamar a comissária de bordo.

      Cassie estava prestes a recusar educadamente, mas lembrou, em seguida, que deveria tomar seus remédios outra vez. Se um comprimido não funcionou, dois geralmente impediriam os pesadelos de voltarem a ocorrer.

      – Eu adoraria um pouco de água. Obrigada – ela disse.

      Ela esperou até que Jess não estivesse olhando e rapidamente engoliu outro comprimido.

      Não tentou dormir outra vez.

      *

      Durante a descida da aeronave, trocou números de telefone com Jess – e, por precaução, anotou o nome e o endereço da família para quem Jess trabalharia. Cassie disse a si mesma que era como uma apólice de seguro que, com sorte, se ela tivesse, não precisaria usar. Prometeram uma à outra que, na primeira chance que tivessem, visitariam o Palácio de Versalhes juntas.

      Enquanto taxiavam para o Aeroporto Charles de Gaulle, Jess deu uma risada animada. Rapidamente, mostrou a Cassie a selfie que sua família havia tirado enquanto esperavam por ela. O casal atraente e as duas crianças sorriam, segurando uma placa com o nome de Jess.

      Cassie não recebeu nenhuma mensagem – Maureen tinha apenas dito que encontrariam com ela no aeroporto. A caminhada até o controle de passaporte parecia interminável. Ela estava cercada pelo burburinho de conversas em uma variedade de idiomas diferentes. Virando-se para o casal caminhando ao seu lado, percebeu quão pouco do francês falado era capaz de entender. A realidade era tão diferente de aulas da escola e fitas de idiomas. Sentia-se assustada, solitária e com sono atrasado, e de repente tomou consciência de quão amassadas e suadas suas roupas estavam comparadas às dos viajantes franceses elegantemente vestidos ao seu redor.

      Assim que pegou suas malas, correu para o banheiro, colocou uma blusa nova e arrumou seu cabelo. Ainda não se sentia pronta para conhecer sua família e não tinha ideia de quem estaria a esperando. Maureen dissera que a casa ficava a mais de uma hora de carro do aeroporto, então talvez as crianças não tivessem vindo. Ela não deveria procurar por uma família grande. Qualquer rosto amigável bastaria.

      Porém, no mar de pessoas a observando, não viu nenhum reconhecimento, mesmo tendo colocado a mochila da Maureen Au Pairs em destaque no carrinho de bagagem. Andou devagar do portão até o saguão de desembarque, observando ansiosa para que alguém a visse, acenasse ou chamasse por ela.

      Mas todos lá pareciam estar esperando por outra pessoa.

      Agarrando o puxador do carrinho com as mãos frias, Cassie ziguezagueou pelo saguão de desembarque, procurando em vão enquanto a multidão gradualmente se dispersava. Maureen não tinha falado sobre o que fazer caso isso acontecesse. Será que deveria ligar para alguém? Será que seu telefone sequer funcionaria na França?

      E então, ao dar uma última volta frenética pelo piso, ela o notou.

      “CASSANDRA VALE.”

      Uma pequena placa, segurada por um homem magro de cabelo escuro, jaqueta preta e jeans.

      De pé próximo à parede, absorvido em seu telefone, ele nem estava olhando para ela.

      Ela se aproximou de forma incerta.

      – Oi, sou Cassie. Você é...? – ela perguntou, as palavras parando ao perceber que ela não tinha ideia de quem ele poderia ser.

      – Sim – ele disse em inglês com um sotaque forte. – Venha por aqui.

      Ela estava prestes a se apresentar apropriadamente, dizer as palavras que tinha ensaiado sobre como estava empolgada por se juntar à família, quando viu o cartão laminado na jaqueta dele. Ele era apenas um motorista de táxi; o cartão era o seu passe oficial do aeroporto.

      A família não tinha sequer se incomodado em vir conhecê-la.

      CAPÍTULO TRÊS

      A paisagem urbana de Paris foi de desdobrando enquanto Cassie observava. Altos apartamentos e blocos industriais escuros gradualmente deram lugar a subúrbios arborizados. A tarde estava fria e cinzenta, com a chuva assoprando de forma irregular.

      Ela ergueu-se para ver as placas de sinalização enquanto passavam. Seguiam em direção à Saint Maur, e por um tempo ela pensou que aquele poderia ser seu destino, mas o motorista passou a saída e continuou pela estrada, saindo da cidade.

      – Está longe? – ela perguntou, tentando puxar conversa, mas ele grunhiu de forma descomprometida e ligou o rádio.

      A chuva batia nas janelas e o vidro estava frio contra sua bochecha. Desejou ter tirado a jaqueta grossa do porta-malas. E estava faminta – não havia comido café da manhã e não tivera a oportunidade de comprar comida desde então.

      Depois de mais de meia-hora, chegaram a campo aberto e dirigiram ao longo do rio Marne, onde barcos de cores vivas forneciam um respingo de cor ao acinzentado, e algumas pessoas, envoltas em capas de chuvas, caminhavam debaixo das árvores. Alguns dos galhos das árvores já estavam despidos, outros ainda cobertos de folhas ouro-avermelhadas.

      – Está muito frio hoje, não? – ela observou, tentando conversar com o motorista outra vez.

      A única resposta foi um murmurado “Oui” – mas ele ao menos ligou o aquecedor, e ela parou de tremer. Encasulada no calor, caiu em um cochilo inquieto enquanto os quilômetros voavam.

      Uma freada brusca e um toque de buzina a assustou, despertando-a. O motorista estava forçando caminho para passar por um caminhão estacionário, virando para sair da rodovia e entrar em uma estrada estreita e ladeada por árvores. A chuva havia