Блейк Пирс

Quase Ausente


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a tensão com algumas perguntas.

      – Bem, Marc, sei seu nome, mas gostaria de descobrir quantos anos você tem – ela disse.

      – Tenho oito anos – ele resmungou.

      Olhando entre ele e Pierre, ela definitivamente podia ver a semelhança de família. O cabelo rebelde, o queixo forte, os brilhantes olhos azuis. Até a forma como franziam a testa era similar. As outras filhas também eram morenas, mas Ella e Antoinette tinham feições mais delicadas.

      – E Ella, qual sua idade?

      – Quase seis – a pequena garota anunciou com orgulho. – Meu aniversário é no dia depois do Natal.

      – É um dia bom para fazer aniversário. Espero que isso signifique que você ganhe um monte de presentes a mais.

      Ella sorriu, surpresa, como se esta fosse uma vantagem que ainda não tinha considerado.

      – Antoinette é a mais velha de todos. Ela tem doze anos – ela disse.

      Pierre bateu as palmas. – Certo, hora de ir para a cama agora. Margot, você pode mostrar a casa à Cassie depois de colocar as crianças na cama. Ela precisa saber se virar por aí. Seja rápida. Temos que sair às sete.

      – Ainda preciso terminar de me arrumar – Margot respondeu em tom ácido. – Você pode pôr as crianças na cama e chamar o mordomo para limpar essa bagunça. Mostrarei a casa à Cassie.

      Pierre puxou uma respiração irritada antes de olhar para Cassie e apertar os lábios. Ela supunha que sua presença tinha o feito engolir suas palavras.

      – Para cima e para a cama – ele disse, e as duas crianças o seguiram relutantemente pela escadaria. Ela alegrou-se em ver Ella virando-se e acenando para ela.

      – Venha comigo, Cassie – Margot ordenou.

      Cassie seguiu Margot pela porta da esquerda, encontrando-se em um salão formal com extraordinários móveis requintados e tapeçarias revestindo as paredes. O cômodo era enorme e frio; não havia fogo aceso na lareira maciça.

      – Este salão é raramente usado e as crianças não tem permissão para ficar aqui. A sala de jantar principal está adiante. As mesmas regras se aplicam.

      Cassie perguntou-se com que frequência a mesa de jantar de mogno era utilizada – parecia imaculada, original, e ela contou dezesseis cadeiras de encosto alto. Três outros vasos, parecidos com o que Marc havia quebrado antes, estavam no escuro aparador polido. Ela não conseguia imaginar conversas alegres à mesa do jantar neste espaço austero e silencioso.

      Como seria crescer em uma casa assim, onde áreas inteiras estavam fora dos limites por causa de mobília que poderia ser danificada? Ela imaginou que isso pudesse fazer uma criança sentir ser menos importante do que os móveis.

      – Aqui chamamos de Sala Azul. – Era uma pequena sala de estar com papéis de parede azul-marinho e grandes portas francesas. Cassie imaginou que abrissem para um pátio ou jardim, mas estava totalmente escuro e tudo que ela podia ver eram as luzes difusas do cômodo refletidas no vidro. Desejou que a casa tivesse lâmpadas de maior potência – todos os cômodos eram mal iluminados, com sombras à espreita nos cantos.

      Uma escultura chamou sua atenção... O suporte da estátua de mármore tinha sido quebrado, então ela estava deitada de rosto para cima sobre a mesa. Sua feição era inexpressiva e imóvel, como se a pedra cobrisse o rosto de uma pessoa morta. Seus membros eram robustos, esculpidos de forma rude. Cassie teve calafrios, afastando o olhar da visão arrepiante.

      – Essa é uma de nossas peças mais valiosas – Margot a informou. – Marc a derrubou na semana passada. Vamos mandar restaurar em breve.

      Cassie pensou na energia destrutiva do garoto e na forma como ele batera o ombro contra o vaso mais cedo. A ação havia sido totalmente acidental? Ou houvera um desejo subliminar de estilhaçar o vidro, de ser notado em um mundo onde as posses pareciam ser a prioridade?

      Margot guiou-a de volta pelo caminho que tinham vindo. – Os cômodos naquela passagem ficam trancados. A cozinha é por aqui, à direita, e adiante ficam os alojamentos dos criados. Há uma pequena sala de estar à esquerda, e um espaço onde jantamos em família.

      No caminho de volta, passaram por um mordomo em um uniforme de cor cinza que carregava vassoura, pá e escova. Ele deu passagem a elas, mas Margot não manifestou nenhum reconhecimento.

      A ala oeste era uma imagem espelhada da leste. Cômodos enormes e sombrios com mobília requintada e obras de arte. Vazios e silenciosos. Cassie estremeceu, ansiando por uma luz com brilho de lar ou o som familiar de uma televisão, se é que algo assim existia nesta casa. Ela seguiu Margot para o segundo andar pela magnífica escadaria.

      – A ala dos hóspedes. – Três quartos intocados, com camas de dossel, eram separados por duas espaçosas salas de estar. Os quartos eram tão alinhados e formais quanto quartos de hotéis, e as colchas pareciam ter sido engomadas para permanecerem retas.

      – E a ala da família.

      Cassie iluminou-se, feliz por finalmente chegar à parte da casa onde as pessoas moravam.

      – O berçário.

      Para sua confusão, era outro quarto vazio, ocupado só por um berço de barras altas dos lados.

      – E aqui, os quartos das crianças. Nossa suíte é no final dessa passagem, virando o corredor.

      Três portas fechadas consecutivas. A voz de Margot baixou e Cassie supôs que ela não quisesse entrar para olhar as crianças – nem mesmo para dizer boa noite.

      – Este é o quarto de Antoinette, este de Marc, e o mais próximo do nosso é o da Ella. Seu quarto é de frente com o de Antoinette.

      A porta estava aberta e duas empregadas estavam ocupadas arrumando a cama. O quarto era enorme e frio. Era mobiliado com duas poltronas, uma mesa e um grande guarda-roupa de madeira. Pesadas cortinas vermelhas cobriam a janela. Sua mala tinha sido colocada ao pé da cama.

      – Você vai ouvir as crianças se eles chorarem ou chamarem. Por favor, cuide deles. Amanhã, precisam estar vestidos e prontos às oito. Eles sairão ao ar livre, então escolha roupas quentes.

      – Farei isso, mas... – Cassie reuniu sua coragem. – Será que eu poderia jantar, por favor? Não comi nada desde o jantar no avião ontem à noite.

      Margot encarou-a, perplexa, depois balançou a cabeça.

      – As crianças comeram mais cedo porque estamos de saída. A cozinha está fechada agora. O café da manhã será servido a partir das sete, amanhã. Pode esperar até lá?

      – Eu... Eu acho que sim – ela estava passando mal de fome; os doces proibidos em sua mala, que seriam para as crianças, de repente tornaram-se uma tentação irresistível.

      – E eu preciso enviar um e-mail para a agência informando que estou aqui. Seria possível pegar a senha do Wi-Fi? Meu telefone não tem sinal.

      Agora Margot estava sem expressão. – Não temos Wi-Fi e não há sinal de celular aqui. Só um telefone fixo no escritório de Pierre. Para mandar um e-mail, tem que ir até a cidade.

      Sem aguardar a resposta de Cassie, ela deu as costas e foi para o quarto principal.

      As empregadas partiram, deixando a cama de Cassie em um frio estado de perfeição.

      Ela fechou a porta.

      Jamais tinha sonhado que ficaria com saudades de casa, mas naquele momento ela ansiava por uma voz amigável, o burburinho da televisão, a confusão de uma geladeira cheia. Louças na pia, brinquedos no chão, vídeos do Youtube nos telefones. O caos alegre de uma família normal – a vida à qual ela havia esperado se tornar parte.

      Em vez disso, sentia já ter se enredado em um conflito amargo e complicado. Nunca poderia ter esperado tornar-se amiga instantânea destas crianças – não com a dinâmica familiar que havia se desenrolado até