empregadora era violenta.
– Antes de você ser contratada, uma das empregadas da cozinha fazia suas obrigações. E pode fazer de novo, temos muitos criados. Este é o seu segundo aviso. Eu não tolero preguiça, nem empregados que me respondem. Sua terceira transgressão significará demissão imediata. Agora, pare o choro dessa criança, para finalmente conseguirmos dormir.
Ela marchou para fora do quarto, batendo a porta atrás de si.
Freneticamente, Cassie empacotou Ella em seus braços, sentindo imenso alívio conforme os soluços altos diminuíam.
– Está tudo bem – ela sussurrou. – Tudo certo, não se preocupe. Da próxima vez, eu venho até você mais rápido, vou saber o caminho melhor. Gostaria que eu dormisse aqui o resto da noite? E podemos deixar o abajur aceso para ficarmos mais seguras?
– Sim, por favor, fique. Você pode ajudar a impedir que eles voltem – Ella sussurrou. – E deixe a luz acesa. Eu acho que eles não gostam.
O quarto era mobiliado em tons neutros de azul, mas o abajur de cúpula cor-de-rosa era um item alegre e reconfortante.
Mesmo enquanto consolava Ella, Cassie sentia-se prestes a vomitar e percebeu que suas mãos tremiam violentamente. Ela contorceu-se debaixo das cobertas, satisfeita com o calor, pois estava congelando de frio.
Como ela poderia continuar trabalhando para uma empregadora que abusava dela verbal e fisicamente na frente das crianças? Era impensável, imperdoável, e avivava muitas das próprias memórias que ela havia conseguido esquecer. A primeira coisa que faria ao amanhecer seria fazer as malas e ir embora.
Mas... Ainda não tinha recebido nenhum pagamento; teria que esperar até o fim do mês para ter algum dinheiro. Não havia como pagar pelo táxi de volta ao aeroporto, e muito menos condições para arcar com a despesa de alterar o bilhete do voo.
Havia também a questão das crianças.
Como poderia deixá-los nas mãos dessa mulher violenta e imprevisível? Eles precisavam de alguém cuidando deles – especialmente a jovem Ella. Não podia sentar aqui, consolando-a e prometendo que tudo ficaria bem, somente para desaparecer no dia seguinte.
Nauseada, Cassie percebeu que não tinha escolha. Não poderia ir embora a essa altura. Estava financeiramente e moralmente obrigada a ficar.
Ela teria que tentar se equilibrar na corda bamba do temperamento de Margot para evitar cometer a terceira e última transgressão.
CAPÍTULO CINCO
Cassie abriu os olhos, encarando o teto desconhecido em confusão. Demorou alguns instantes para se orientar e perceber onde estava – na cama de Ella, com a luz da manhã atravessando uma fenda nas cortinas. Ella ainda dormia profundamente, meio enterrada sob o edredom. A parte de trás da cabeça de Cassie latejou quando ela se mexeu, a dor recordando-lhe de tudo o que havia acontecido na noite anterior.
Sentou-se apressadamente, lembrando-se das palavras de Margot, do tapa ardido e das advertências que tinha recebido. Sim, ela era culpada por não ter atendido a Ella imediatamente, mas nada do que acontecera depois fora justo. Quando tentara se defender, só tinha sido ainda mais castigada. Então, talvez precisasse discutir calmamente algumas das regras da casa com a família Dubois esta manhã, para garantir que isso não acontecesse de novo.
Por que o alarme dela ainda não tinha tocado? Tinha o programado para seis e trinta, esperando que significasse sua chegada pontual ao café da manhã, às sete.
Cassie checou seu telefone e descobriu com um choque que a bateria tinha acabado. A busca constante por sinal devia tê-lo drenado mais que o habitual. Saindo da cama em silêncio, ela foi até o seu quarto, ligou-o no carregador e esperou ansiosamente que ele ligasse.
Praguejou em voz baixa quando viu que era quase sete e trinta. Tinha dormido demais, e agora teria que acordar e aprontar a todos o mais rápido possível.
Correndo de volta para o quarto de Ella, Cassie abriu a cortina.
– Bom dia – disse. – É um belo dia de sol e é hora do café da manhã.
Mas Ella não queria se levantar. Ela devia ter batalhado para adormecer depois do sonho ruim e tinha acordado de mau-humor. Irritada e cansada, ela apegou-se chorando ao edredom quando Cassie tentou puxá-lo. Eventualmente, lembrando-se dos doces que tinha trazido consigo, Cassie recorreu ao suborno para fazê-la sair da cama.
– Se ficar pronta em cinco minutos, você ganha um chocolate.
Mesmo assim, mais lutas estavam pela frente. Ella recusou-se a vestir a roupa que Cassie escolheu para ela.
– Quero usar um vestido hoje – ela insistiu.
– Mas, Ella, você pode ficar com frio se for lá fora.
– Não ligo. Quero usar um vestido.
Cassie finalmente conseguiu um meio-termo escolhendo o vestido mais quente que pôde encontrar – de mangas compridas, feito de veludo de algodão, acompanhado de longas meias e botas revestidas de lã. Ella sentou-se na cama com as pernas balançando e seu lábio inferior tremendo. Uma criança estava pronta, finalmente, mas ainda havia duas para aprontar.
Quando abriu a porta do quarto de Marc, ficou aliviada em ver que ele estava acordado e já fora da cama. Trajando pijamas vermelhos, ele brincava com um exército de soldados espalhados pelo chão. A grande caixa metálica de brinquedos debaixo de sua cama estava aberta, cercada por modelos de carros e um rebanho completo de animais de fazenda. Cassie teve que andar com cuidado para evitar pisar em qualquer um deles.
– Olá, Marc. Vamos para o café da manhã? O que você quer vestir?
– Não quero vestir nada. Quero brincar – Marc retorquiu.
– Você pode voltar a brincar depois, mas não agora. Estamos atrasados, temos que correr.
A resposta de Marc foi explodir em lágrimas barulhentas.
– Por favor, não chore – Cassie implorou a ele, ciente dos preciosos minutos que passavam. Mas as lágrimas dele escalaram, como se ele se alimentasse do pânico dela. Ele simplesmente recusava-se a sair do pijama e nem mesmo a promessa de chocolate podia fazê-lo mudar de ideia. Eventualmente, com sua destreza chegando ao fim, Cassie forçou um par de chinelos nos pés dele. Pegando a mão dele na sua e colocando um soldado no bolso do pijama dele, ela o persuadiu a ir com ela.
Quando bateu na porta de Antoinette, não houve resposta. O quarto estava vazio e a cama perfeitamente arrumada com uma camisola rosa dobrada sobre o travesseiro. Se houvesse esperança, Antoinette teria seguido sozinha para o café da manhã.
Pierre e Margot já estavam sentados na sala de jantar informal. Pierre estava vestindo um terno e Margot também se vestia de forma elegante, maquiada à perfeição, seus cabelos enrolados acima dos ombros. Ela levantou o olhar quando eles entraram e Cassie sentiu seu rosto arder em chamas. Rapidamente, ajudou Ella a subir em uma cadeira.
– Desculpe por estarmos um pouco atrasados – ela desculpou-se, afobada e já se sentindo como se tivesse começado com o pé errado. – Antoinette não estava em seu quarto. Não tenho certeza de onde ela esteja.
– Ela já acabou o café da manhã e está treinando piano – Pierre acenou com a cabeça para a sala de música antes de servir mais café. – Ouça. Talvez reconheça a música. “Danúbio Azul”.
Levemente, Cassie ouviu a reprodução precisa de uma melodia que, de fato, soava familiar.
– Ela é muito talentosa – Margot ofereceu, mas o tom azedo de seu comentário não casava com as palavras. Cassie olhou para ela com nervosismo. Será que ela diria alguma coisa sobre o que tinha acontecido na noite anterior?
Porém, enquanto Margot a encarava em um silêncio frio, de repente Cassie se perguntou se não estaria se lembrando de algumas partes erroneamente. A parte de trás de sua cabeça estava sensível