uma vinícola, as fileiras de uvas arrumadas encurvando-se em torno da encosta.
Reduzindo a velocidade, o motorista passou por um vilarejo. Casas de pedra pálidas com janelas abobadadas, íngremes e com telhados de azulejos, ladeavam a estrada. Além, viu campos abertos, e vislumbrou um canal ladeado por salgueiros-chorões enquanto cruzavam uma ponte de pedra. O alto pináculo da igreja atraiu seu olhar e ela se perguntou quão antiga era a construção.
Deveriam estar perto do castelo, ela cogitou, talvez até mesmo em seu bairro local. Então, mudou de ideia ao deixarem o vilarejo para trás, adentrando mais nas colinas, até que estivesse totalmente desorientada e perdesse o alto pináculo de vista. Não esperava que o castelo fosse tão remoto. Ouviu o GPS notificar “sinal perdido” e o motorista exclamar em irritação, pegando seu telefone e olhando de perto para o mapa enquanto dirigia.
Em seguida, após virarem à direita, entre portões altos, Cassie sentou-se ereta, vendo a longa entrada de cascalhos. Adiante, alto e elegante, estava o castelo, o sol poente realçando suas paredes de pedra.
Pneus trituraram na pedra quando o carro parou do lado de fora da entrada alta e imponente, e ela sentiu uma punhalada nos nervos. Essa casa era muito maior do que imaginara. Era como um palácio, coroado com altas chaminés e torres ornamentadas. Contou dezoito janelas, com trabalhos em pedra e detalhes elaborados, nos dois andares de sua fachada imponente. A casa em si tinha vista para um jardim, com sebes imaculadamente podadas e caminhos pavimentados.
Como ela poderia se relacionar com a família lá dentro, que vivia em tanto esplendor, quando ela tinha vindo do nada?
Percebeu que o motorista batia os dedos impacientemente no volante – ele claramente não a ajudaria com as malas. Rapidamente, ela desceu.
O vento implacável a gelou imediatamente, e ela se apressou até o porta-malas, tirando sua mala e atravessando o cascalho até o abrigo do átrio, onde ela ergueu o zíper de sua jaqueta.
Não havia campainha na pesada porta de madeira, apenas uma grande aldrava de ferro que estava gelada em sua mão. O som era surpreendentemente alto, e alguns momentos depois Cassie ouviu passos leves.
A porta se abriu e ela ficou de frente com uma empregada de uniforme escuro, cabelo puxado para trás em um rabo de cavalo apertado. Atrás dela, Cassie vislumbrou o hall de entrada amplo, com paredes revestidas de forma opulente e uma magnífica escadaria de madeira ao fundo.
A empregada olhou de relance ao redor quando uma porta bateu.
Imediatamente, Cassie pressentiu a presença de uma briga. Podia sentir a eletricidade no ar, como uma tempestade se aproximando. Estava na atitude apreensiva da empregada, no estrondo da porta e nos gritos caóticos ao longe, desvanecendo até silenciarem. Seu interior contraiu-se e ela sentiu um esmagador desejo de fugir. Correr atrás do motorista e chamá-lo de volta.
Em vez disso, ela manteve-se firme e forçou um sorriso.
– Sou Cassie, a nova au pair. A família está me esperando.
– Hoje? – a empregada parecia preocupada. – Aguarde um momento – ela entrou apressada na casa e Cassie ouviu-a chamando – Monsieur Dubois, por favor, venha depressa.
Um minuto depois, um homem robusto com cabelo escuro e grisalho entrou no hall a passos largos, seu rosto como um trovão. Ao ver Cassie na porta, ele parou.
– Você já está aqui? – ele disse. – Minha noiva disse que chegaria amanhã de manhã.
Ele virou-se para encarar a jovem de cabelos loiros descoloridos que o seguia. Ela trajava um vestido de noite e suas feições atraentes estavam esticadas em tensão.
– Sim, Pierre, imprimi o e-mail quando estava a cidade. A agência disse que o voo chega às quatro da manhã – virando-se para a mesa de madeira adornada do hall, ela empurrou um peso de papel de vidro veneziano para o lado e brandiu uma folha como defesa. – Aqui. Está vendo?
Pierre deu uma olhada na página e suspirou.
– Aqui diz quatro da tarde. Não da manhã. O motorista que você contratou obviamente sabia a diferença, então aqui está ela – ele virou-se para Cassie e estendeu a mão. – Sou Pierre Dubois. Essa é minha noiva, Margot.
Ele não apresentou a empregada. Em vez disso, Margot ordenou que ela fosse preparar o quarto oposto ao das crianças, e a empregada saiu correndo.
– Onde estão as crianças? Já estão na cama? Eles deveriam conhecer Cassie – Pierre disse.
Margot balançou a cabeça. – Eles estavam jantando.
– Tão tarde? Eu não te falei que o jantar deve ser mais cedo quando eles têm escola no dia seguinte? Mesmo estando de férias, já deveriam estar na cama para manter o cronograma.
Margot encarou-o e deu com os ombros, zangada, antes de andar até a soleira da porta à direita, seus sapatos de salto estalando.
– Antoinette? – ela chamou. – Ella? Marc?
Foi recompensada por um estrondo de pés e exclamações altas.
Um garoto de cabelos escuros correu para o hall, puxando uma boneca pelos cabelos. Ele veio seguido de perto por uma menina mais nova e gordinha, aos prantos.
– Devolva minha Barbie! – ela gritou.
Derrapando até parar ao ver os adultos, o garoto deu uma arrancada para a escadaria. Conforme ele se lançou, seu ombro pegou o lado curvado de um grande vaso azul e dourado.
Cassie cobriu a boca com as mãos, horrorizada, enquanto o vaso balançava em seu pedestal, em seguida se espatifando no chão, estilhaçado. Cacos de vidro coloridos espirraram por todo o assoalho de madeira escura.
O choque silencioso foi quebrado pelo berro furioso de Pierre.
– Marc! Devolva a boneca para Ella.
Arrastando os pés, seu lábio inferior protuberante, Marc deu passos cuidadosos em meio aos destroços. Com relutância, entregou a boneca a Pierre, que a passou para Ella. Os soluços diminuíram conforme a menina alisava o cabelo da boneca.
– Aquele vaso era arte de vidro Durand – Margot silvou para o garoto. – Antiguidade. Insubstituível. Você tem algum respeito pelas posses do seu pai?
Um silêncio carrancudo foi a única resposta.
– Onde está Antoinette? – Pierre perguntou, soando frustrado.
Margot olhou para cima e, seguindo seu olhar, Cassie viu uma garota magra de cabelos escuros no topo das escadas—ela parecia a mais velha dos três, com diferença de alguns anos. Vestida com elegância em um vestido perfeitamente engomado, ela esperou com uma das mãos no corrimão até ter toda a atenção da família. Então, de queixo erguido, ela desceu.
Ansiosa para causar uma boa impressão, Cassie limpou a garganta e fez uma tentativa de saudação amigável.
– Olá, crianças. Meu nome é Cassie. Estou tão feliz de estar aqui, e feliz por cuidar de vocês.
Ella sorriu de volta, tímida. Marc encarou o chão de forma implacável. E Antoinette a encarou por um longo tempo, desafiando-a. Depois, sem uma palavra, deu as costas a ela.
– Com licença, Papai – ela disse a Pierre. – Tenho lição de casa para acabar antes de dormir.
– É claro – Pierre disse, e Antoinette marchou para o andar de cima novamente.
Cassie sentiu seu rosto arder de vergonha com o desdém deliberado. Perguntou-se se deveria dizer algo, fazer graça com a situação ou tentar dar desculpas para o comportamento rude de Antoinette, mas não conseguiu pensar nas palavras adequadas.
Margot murmurou, furiosa. – Eu te disse, Pierre. O humor da adolescência já está começando – e Cassie percebeu não ter sido a única que Antoinette havia ignorado.
– Pelo menos ela está fazendo a lição de casa, apesar de ninguém a