Barbara Cartland

O Duque e a Filha do Reverendo


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a cabeça, surpreso, ao ver a porta abrir-se. Um lacaio ali permanecia de pé, à espera de sua atenção.

      −O que há?− perguntou o Duque.

      −Lorde Tring veio vê-lo, Excelência.

      −A esta hora?− exclamou o Duque−. Faça-o entrar.

       Passaram-se alguns segundos, antes que o lacaio aparecesse anunciando:

      −Lorde Tring, Excelência!

      Bastou um olhar para seu visitante e o Duque compreendeu que acontecera algo errado.

      Lorde Tring permanecia com seus trajes de noite, mas calçara as botas de montaria por cima da calça muito justa, que eram presas por baixo do peito do pé. A gravata, atada com um nó complicado, estava ligeiramente desarrumada.

      Seus cabelos, que evidentemente deveriam ter sido penteados “ à ventania”, segundo a moda do momento introduzida pelo príncipe regente, estavam um pouco em desordem e caídos sobre a testa.

      −Boa noite, Tring− disse o Duque calmamente, sem demonstrar nenhuma pressa−. O que o traz aqui a esta hora da noite?

      O rapaz olhou por cima do ombro, esperando que o lacaio fechasse a porta e disse então, num tom de voz vacilante:

      −Tinha que vir, sir! O senhor é a única pessoa que saberá o que fazer e capaz de enfrentar a situação.

      O Duque compreendeu que ele falava como um jovem soldado dirigindo-se ao seu comandante. Em seus olhos havia uma expressão de confiança, que lhe era quase comovedoramente familiar.

      −Tome um drink− sugeriu ele−, e conte-me o que aconteceu.

      Como se sentisse uma necessidade premente de tomar algo, Lorde Tring dirigiu-se para a mesa, sobre a qual havia uma bandeja com várias garrafas e copos.

      Serviu-se de uma boa dose de conhaque e bebeu-o de um só gole, e m seguida, com a mão trêmula, afastou os cabelos da testa e caminhou na direção do Duque.

      −Trata-se de… Richard, sir!

      −Richard?!− exclamou o Duque−. O que aconteceu com ele? Percebeu que Lorde Tring respirou, antes de responder:

      −Ele matou sir Joceline Gadsby e tentou suicidar-se!

      O Duque permaneceu bastante calmo. Seus olhos perscrutavam o rosto de Lorde Tring, como se procurasse concretizar as palavras que acabara de ouvir. Passaram-se alguns segundos, antes de tornar a falar calmamente:

      −Sente-se! Você parece que veio a galope.

      −Quando vi o que aconteceu− disse Lorde Tring, deixando-se cair numa poltrona, como se suas pernas não mais o aguentassem−, compreendi que a única pessoa que poderia auxiliá-lo seria o senhor.

      −Por que Richard matou Gadsby?− perguntou o Duque.

       Lembrou-se então do baronete como um sujeito maçante, um sócio do White Club excessivamente falador, do qual sempre procurara se esquivar. Julgava-o um intruso e perguntava a si mesmo como poderia ter sido admitido como sócio. Ao pensar isso, sabia o que Lorde Tring responderia.

      −Richard... o encontrou…− respondeu o rapaz, um tanto constrangido−, com… Lady Delyth.

      −Onde?

      −Na… na cama, sir!

      O Duque, que permanecera de pé, sentou-se numa poltrona, como se precisasse de apoio.

      −Conte-me tudo, desde o começo!− ordenou.

      −Richard chegou há dois dias, para ficar hospedado em minha casa. Naquela mesma noite, durante o jantar, anunciou seu casamento com Lady Delyth. É evidente que fizemos um brinde, desejando-lhe toda a felicidade.

      −É claro!− replicou o duque ironicamente.

      −Muitos dos cavalheiros presentes protestaram, alegando que estavam muito tristes e, num tom de brincadeira, tentaram convencer Lady Delyth a mudar de ideia.

      O Duque pensou que seria pouco provável que ela o fizesse, enquanto Lorde Tring continuava:

      −Deduzi que sir Joceline era… um velho amigo e portanto, sentira-se um pouco melindrado com aquela notícia.

      O Duque percebeu que ao dizer “um velho amigo”, o rapaz estava deixando subentendido que sir Joceline, igual a muitos outros, fora amante de Delyth Maulden.

      Tinha certeza de que ele era o tipo de homem que não aceitava um não como resposta, mesmo que ela estivesse comprometida com qualquer outro.

      −E o que aconteceu esta noite?− perguntou.

      −Fomos nos deitar cedo, uma vez que quase todos deveriam sair a cavalo amanhã de manhã. Fui o último a subir e ainda não me despira, por estar discutindo com o meu criado de quarto a respeito da roupa que deveria usar amanhã− fez uma pausa e continuou−. Foi então que enquanto conversávamos, de repente ouvi um estampido. Por um instante pensei que me enganara, depois, julguei que o ruído viera de um quarto no primeiro andar, não muito distante do meu. Seguiu-se outro estampido. Abri a porta e saí correndo pelo corredor. Vi que a porta do quarto de Delyth estava aberta. . .

      Sua voz extinguiu-se, como se achasse difícil continuar a falar.

      −Conte-me o que viu− insistiu o Duque.

      −Evidentemente, Richard estivera parado ao pé da cama, enquanto Lady Delyth e Gadsby estavam… juntos− disse Lorde Tring, em voz baixa−. Gadsby estava morto e havia sangue esparramado pelos lençóis.

      −E Richard?− perguntou o Duque.

      −Estava estendido no chão, com um ferimento a bala perto do coração!

      Fez um esforço para engolir, como se a lembrança da cena o deixasse enjoado.

      O Duque tornou a perguntar:

      −E o que você fez?

      −Primeiro, abaixei-me para examinar Richard. Percebi que, embora estivesse sangrando devido ao ferimento no peito, ainda estava vivo. Como deve saber sir, já vi muitos homens feridos para compreender que não me enganara.

      −Sim, eu sei, mas continue!

      Fui buscar meu criado particular para ajudar-me. Nós o pegamos e o carregamos para os seus aposentos, que não ficavam longe. Tornei a voltar para aquele quarto.

      −O que estava fazendo Lady Delyth, quando você voltou?

      −Ela saíra da cama e vestira alguma coisa para agasalhar-se. Estava muito pálida, porém tranqüila. Foi então que ela me disse: “Joceline está morto e a não ser que você possa pensar em algum modo de tirá-lo dessa embrulhada, Richard será enforcado”. Eu lhe respondi: “Não fale com ninguém e fique com a porta fechada’’. E, então, resolvi vir procurá-lo, sir.

      Mais uma vez, Lorde Tring olhou para o Duque com a expressão de quem se sente aliviado por poder dividir sua responsabilidade com outra pessoa.

      O Duque ergueu-se.

      −Muito bem. Pode confiar em seu criado para cuidar de Richard em sua ausência?

      −Ele esteve comigo no regimento, sir. Tem prática em ferimentos e sabe como tratá-los muito melhor do que alguns de nossos médicos.

      Isso não seria difícil, pensou o duque intimamente, mas disse em voz alta:

      −Mandarei selar um cavalo e voltarei com você. Levarei apenas

       alguns minutos para trocar de roupa. Sirva-se de outro drink.

      Atravessou o vestíbulo, ordenou a um de seus lacaios que providenciasse o cavalo, e subiu depressa mas com dignidade os degraus da escadaria imponente.

      Seu criado particular esperava-o no quarto.

      −Hawkins, vou ao Castelo Tring para buscar o Sr.Richard. Ele sofreu um acidente e precisará de cuidados especiais. Eu o deixarei