Johannes Biermanski

A Bíblia Sagrada - Vol. I (Parte 2/2)


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cristão. A primeira medida de ordem pública impondo a observância do domingo foi a lei feita por Constantino. (No ano 321.) Êste edito exigia que o povo da cidade repousasse no "venerável dia do Sol," mas permitia aos homens do campo continuarem com suas fainas agrícolas. Posto que virtualmente um estatuto pagão, foi imposto pelo imperador depois de ser nominalmente aceito pelo cristianismo.

      Como a ordem real não parecia substituir de modo suficiente a autoridade divina, Eusébio, bispo que procurava o favor dos príncipes e que era amigo íntimo e adulador de Constantino, propôs a alegação de que o Messias/ Cristo transferira o sábado para o domingo. Nenhum testemunho das Escrituras, sequer, foi aduzido em prova da nova doutrina. O próprio Eusébio inadvertidamente reconhece sua falsidade, e indica os verdadeiros autores da mudança. "Tôdas as coisas," diz êle, "que se deveriam fazer no sábado, nós as transferimos para o dia do Senhor [Editor-Bíblia e Lutero e Erasmo: o dia do Senhor é Sábado nada Domingo!!]." - Leis e Deveres Sabáticos, de R. Cox. Mas o argumento do domingo, infundado como era, serviu de acoroçoar os homens a conculcarem o sábado de YAHWEH (e nosso Senhor Yahshua). Todos os que desejavam ser honrados pelo mundo, aceitaram a festividade popular.

      Com o firme estabelecimento do papado, a obra da exaltação do domingo continuou. Durante algum tempo o povo se ocupou com trabalho agrícola fora das horas de culto, e o sétimo dia, o sábado, continuou a ser considerado como dia de repouso. Lenta e seguramente, porém, se foi efetuando a mudança. Aos que se achavam em cargos sagrados era vedado proceder, no domingo, a julgamentos em qualquer questão civil. Logo depois, ordenava-se a tôdas as pessoas, de qualquer classe, abster-se do trabalho usual, sob pena de multa aos livres, e açoites no caso de serem servos. Mais tarde foi decretado que os ricos fôssem punidos com a perda da metade dos bens; e. finalmente, que, se se obstinassem, fôssem escravizados. As classes inferiores deveriam sofrer banimento perpétuo.

      Recorreu-se também aos milagres. Entre outros prodígios foi referido que estando um lavrador, em dia de domingo, a limpar o arado com um ferro para em seguida lavrar o campo, o ferro cravou-se-lhe firmemente na mão, e durante dois anos êle o carregou consigo, "para a sua grande dor e vergonha." - Discurso Histórico e Prático Sôbre o Dia do Senhor, de Francis West.

      Mais tarde o papa deu instruções para que o padre da paróquia admoestasse os violadores do domingo, e fizesse com que fôssem à igreja dizer suas orações, não acontecesse trouxessem êles alguma grande calamidade sôbre si mesmos e os vizinhos. Um concílio eclesiástico apresentou o argumento, desde então tão largamente empregado, mesmo pelos protestantes, de que, tendo pessoas sido fulminadas por raios enquanto trabalhavam no domingo, deve êste ser o dia de repouso. "É evidente," diziam os prelados, "quão grande foi o desprazer de Deus pela sua negligência quanto a êste dia." Fêz-se então ó apêlo para que padres e ministros, reis e príncipes, e todo o povo fiel, "empregassem os maiores esforços e cuidado a fim de que o dia fôsse restabelecido à sua honra e, para crédito do cristianismo, mais dedicadamente observado no futuro." - Discurso em Seis Diálogos Sôbre o Nome, Noção e Observância do Dia do Senhor, de T. Morer.

      Mostrando-se insuficientes os decretos dos concílios, foi rogado às autoridades seculares que promulgassem um edito que inspirasse terror ao povo, e o obrigasse a abster-se do trabalho no domingo. Num sínodo realizado em Roma, tôdas as decisões anteriores foram reafirmadas, com maior fôrça e solenidade. Foram também incorporadas à lei eclesiástica, e impostas pelas autoridades civis, através de quase tôda a cristandade. - Hístória do Sábado, de Heylyn.

      A ausência de autoridade escriturística para a guarda do domingo ainda ocasionava não pequenas dificuldades. O povo punha em dúvida o direito de seus instrutores de deixarem de lado a positiva declaração de YAHWEH: "o sétimo dia é o sábado de YAHWEH teu Elohim (Deus)," para honrar o dia do Sol. A fim de suprir a falta de testemunho bíblico, foram necessários outros expedientes. Um zeloso defensor do domingo, que pelos fins do século XII visitou as igrejas da Inglaterra, encontrou resistência por parte de fiéis testemunhas da verdade; e tão infrutíferos foram os seus esforços que se retirou do país por algum tempo, em busca de meios para fazer valer os seus ensinos. Ao voltar, a falta foi suprida, e em seus trabalhos posteriores obteve maior êxito. Trouxe consigo um rôlo que dizia provir do próprio Deus, e conter a necessária ordem para a observância do domingo, com terríveis ameaças para amedrontar o desobediente. Êste precioso documento - fraude tão vil como a instituição que apoiava, dizia-se haver caído do Céu, e sido achado em Jerusalém, sôbre o altar de S. Simeão, no Gólgota. Mas, em realidade, o palácio pontifical em Roma foi a fonte donde procedeu. Fraudes e falsificações para promover o poderio e prosperidade da igreja têm sido em todos os séculos consideradas lícitas pela hierarquia papal.

      O rôlo proibia o trabalho desde a hora nona, três horas da tarde, do sábado, até ao nascer do Sol na segunda-feira; e declarava-se ser a sua autoridade confirmada por muitos milagres. Referia-se que pessoas que trabalharam além da hora indicada, foram atacadas de paralisia. Certo moleiro que tentou moer o trigo, viu, em lugar da farinha, sair uma torrente de sangue, e a mó ficar parada apesar do forte ímpeto da água. Uma mulher que pusera massa de pão ao forno, achou-a crua quando foi tirada, embora o forno estivesse muito quente. Outra que tinha massa preparada para cozer à hora nona, mas resolvera deixá-la de lado até segunda-feira, encontrou-a no dia seguinte transformada em pães e estava cozida pelo poder divino. Um homem que cozeu o pão depois da hora nona no sábado, achou, ao parti-lo na manhã seguinte, que do mesmo saía sangue. Por meio de tais invencionices absurdas e supersticiosas, esforçaramse os defensores do domingo por estabelecer a santidade dêste. - Anais, de Rogério de Hoveden.

      Na Escócia, assim como na Inglaterra, conseguiu-se consideração maior pelo domingo, unindo-se-lhe uma parte do antigo sábado. Mas o tempo que se exigia fôsse santificado, variava. Um edito do rei da Escócia declarou que "se deveria considerar santo desde o meio-dia de sábado," e que ninguém, desde aquela hora até segunda-feira de manhã, deveria ocupar-se em trabalhos seculares. - Diálogos Sôbre o Dia do Senhor, de Morer.

      Mas, apesar de todos os esforços para estabelecer a santidade do domingo, os próprios romanistas publicamente confessavam a autoridade divina do sábado, e a origem humana da instituição pela qual foi êle suplantado. No século dezesseis, um concílio papal declarou plenamente: "Lembrem-se todos os cristãos de que o sétimo dia foi consagrado por Deus, recebido e observado, não sòmente pelos judeus mas por todos os outros que pretendiam adorar a Deus, embora nós, os cristãos, tenhamos mudado o seu sábado para o dia do Senhor [domingo é falso: as antigas Escrituras Sagradas disse: Sábado!!]." - Idem. Os que estavam a se intrometer com a lei divina, não ignoravam o caráter de sua obra. Achavam-se deliberadamente colocando-se acima de Deus.

      Exemplo notável da política de Roma para com os que dela discordavam, foi dado na longa e sanguinolenta perseguição dos valdenses, alguns dos quais eram observadores do sábado. Outros sofreram de modo semelhante pela sua fidelidade para com o quarto mandamento. A história das igrejas da Etiópia é especialmente significativa. Em meio das trevas da Idade Média, os cristãos da Africa Central foram perdidos de vista e esquecidos pelo mundo, e durante muitos séculos gozaram liberdade no exercício de sua fé. Mas finalmente Roma soube de sua existência, e o imperador da Abissínia foi logo induzido a reconhecer o papa como vigário de Cristo. Seguiram-se outras concessões.

      Foi promulgado um edito proibindo a observância do sábado, sob as mais severas penas. - História Eclesiástica da Etiópia, de Michael Geddes. Mas a tirania papal se tornou logo um jugo tão amargo, que os abissíniós resolveram sacudi-lo de seu pescoço. Depois de luta terrível, os romanistas foram banidos de seus domínios, restabelecendo-se a antiga fé. As igrejas regozijaram-se com a liberdade, e jamais olvidaram a lição que aprenderam concernente aos enganos, fanatismo e poder despótico de Roma. Estavam contentes por permanecerem dentro de seu reino solitário, desconhecidos para o resto da cristandade.

      As igrejas da África observavam o sábado como êste fôra guardado pela igreja papal antes de sua completa apostasia. Enquanto guardavam o sétimo dia em obediência ao mandamento de Deus, abstinham-se de trabalhar no domingo, em conformidade com o costume da igreja. Obtendo poder supremo, Roma pisou sôbre o sábado do Senhor para exalltar o seu próprio; mas as igrejas da África, ocultas