de seu corpo completamente nu. Não fechou os olhos dessa vez. Ela ainda não tinha pelos além dos que estavam na cabeça e nas sobrancelhas. A garganta dele, já seca, ficou ainda mais seca do que ele pensava ser possível. O corpo continuava reagindo, prova de que ele ainda não estava morto. E ela o salvara por nenhuma outra razão que não a bondade. O que ele não daria para ter uma mulher tão notável na sua cama. Para a qual voltar para casa à noite ou depois de uma longa viagem. Para amar e cuidar e prover pelo resto dos seus dias.
Só que não ia acontecer.
– Não tenho certeza se entendi por que o casamento é tão importante para a sua gente para que possam ficar a sós com uma mulher, mas posso trabalhar com isso. – Ione assentiu para si mesma. – Mas preciso da sua palavra de que você jamais dirá a outra pessoa sobre a minha origem ou como nos conhecemos de verdade. É a única forma. A segurança do meu povo sempre será mais importante que os meus próprios desejos. – Um tom triste revestia aquelas palavras. Ela soava… solitária. Por que alguém com uma natureza tão receptiva e um brilho tão natural podia ser solitário?
Era fato que James não tinha entendido muito bem com o que estava concordando ao dar a sua palavra. Metade dele acreditava que teria feito qualquer coisa que ela dissesse a esse ponto só para ficar perto dela o máximo que pudesse. Além do mais, depois que morresse, para quem ele poderia contar?
– Juro pela minha vida que nunca revelarei seu segredo para outra pessoa.
O sorriso dela foi radiante.
– Fique aqui.
Ele bufou.
– Tenho certeza de que não irei a lugar algum em um futuro próximo, amor.
Ela meneou a cabeça e voltou para o mar, olhando brevemente para trás, em sua direção. Quando a água chegou à cintura dela, ela mergulhou, a calda dourada emergindo, as nadadeiras salpicando água enquanto ela submergia.
– E lá vai ela – ele disse para si mesmo enquanto a mulher dos seus sonhos nadava para longe. – Ao menos eu posso morrer com ela na minha mente. – Com aquilo, ele deitou a cabeça na areia e fechou os olhos, apesar de nutrir a sensação de que aquilo tudo tinha sido uma ilusão.
Capítulo Três
IONE NÃO FOI LONGE. Poseidon raramente se aventurava em terra, e era mais tolerante se fosse convocado em seu reino aquoso, o que, naquele momento, consistia de todos os oceanos, mares, rios e lagos do planeta. Com Oceano preso junto com a maioria dos Titãs, o deus do mar apreciava seus domínios e não tinha que compartilhá-lo com o panteão. Nereu, o pai de Ione, tinha virado meio que um ermitão e não era visto há séculos, nem mesmo por suas filhas, o que poderia ter influenciado os de sua espécie a vagarem por aí por conta própria.
Com sorte, ela se aproximou de um navio naufragado e destruído por anos de deterioração. Lá dentro, ela encontrou uma lasca de madeira afiada e a usou para fazer um pequeno corte atrás do antebraço, rilhou os dentes por causa da dor momentânea. Enquanto o sangue jorrava e se espalhava pela água à sua volta em um gesto de tributo, ela falou a antiga língua do seu povo, convocando o deus do mar. Momentos mais tarde, depois que o corte no braço já tinha sarado, o chão do oceano retumbou levemente, e um homem apareceu no deque do navio. Ele não tinha nadadeiras como ela; em vez disso, ele estava de pé na sua frente trajando uma armadura escamada feita de pele de crocodilo e segurava o tridente prateado em uma mão. Ele mantinha o cabelo escuro curto, e ela nunca o tinha visto com uma barba, como os homens da superfície costumam esculpi-lo em estátuas e coisas do tipo.
– Ah, Ione. – Poseidon olhou ao redor, falando na mente dela. – Estamos bem longe de casa hoje, não? Esta é a costa da Inglaterra. O que a trouxe ao mar do Norte?
Então foi para ali que ela tinha ido. Ela se repreendeu mentalmente por ter estado tão concentrada em resgatar James que começou a falar inglês com ele sem sequer notar.
– Sim, eu… eu decidi ficar por conta própria como muitas das minhas irmãs fizeram. E eu chamei o senhor para fazer um último pedido antes que eu vá embora. – Mesmo tendo decidido pela terra, falar aquilo em voz alta a fez hesitar. Ione não era conhecida por sua espontaneidade, ainda assim ela sentiu um estranho impulso de seguir o próprio coração. Não chegaria ao ponto de pensar que sua atração e conexão com James fosse amor à primeira vista, mas algo nele clamava por ela de um jeito que nunca tinha acontecido antes. Não era só o desejo de se acasalar. Era algo mais. Algo que ela ainda precisava entender.
O deus piscou rapidamente, tinha sido pego de surpresa, mas abaixou o tridente para que as três pontas afiadas estivessem viradas para baixo.
– Estou ouvindo.
– Resgatei um homem no mar que foi muito machucado e deixado para se afogar. Gostaria de pedir que ele fosse curado e ficasse inteiro. – Ela rapidamente prosseguiu – E estou completamente preparada para trocar minha imortalidade pela mortalidade para que as coisas se equilibrem. – Para que o deus não pensasse que ela estava pedindo favores sem oferecer nenhum sacrifício em troca. Dando e recebendo. A menos que o deus quisesse alguma oferenda ou recompensa, pedidos tinham um preço alto.
Poseidon ergueu as sobrancelhas escuras.
– Você sabe alguma coisa sobre esse humano? Talvez ele tenha sido deixado para morrer por alguma razão. Ele poderia ter mentido sobre o que aconteceu com ele apenas para enganá-la. Machos de qualquer espécie se importam apenas com uma coisa no que diz respeito a belas fêmeas, e humanos são a espécie mais enganadora de todas.
Ione nadou alguns centímetros para trás. Não tinha pensando naquilo. No entanto, ela sempre teve um bom instinto para reconhecer energia negativa. Nada em James lhe deu qualquer razão para duvidar da decência dele. Se aquilo fazia dela uma boba, então que seja. Ela tinha se afastado para viver uma aventura e ter uma mudança, e estaria mentindo se dissesse que não queria acasalar com ele, e também não queria afogar um homem que tinha resgatado daquele mesmo destino quando eles tivessem acabado.
Além do mais, ela não poderia circular entre os humanos sem causar problemas. Como James tinha indicado, ela não tinha um lugar para chamar de lar em terra, nem antecedentes e ninguém que conhecesse para uma visita de adaptação apropriada antes de se envolver em qualquer coisa. Precisaria de James para se ajustar à vida na superfície. E se ela não gostasse daquilo, voltaria a fugir. Teria uma nova aventura, mesmo que o pensamento de deixá-lo tão logo fizesse seu coração doer um pouquinho.
– Tomei a minha decisão.
Poseidon suspirou.
– Você não preferiria acasalar e então eu apagaria a memória dele para que você não tenha que matá-lo? Suas irmãs falam, muito. Você é a única nereida que não tomou um companheiro. Você terá que fazer isso um dia, e se for isso que está impedindo você…
Ela ergueu uma mão para detê-lo, irritada pelo sermão, embora esperasse receber um.
– Primeiro, não tenho que acasalar com ninguém se eu não quiser. Eu me saí muito bem cuidando das minhas necessidades por conta própria. – Só porque as ninfas eram criaturas sensuais que necessitavam de estímulo para florescer, aquilo não significava que precisavam de alguém específico para dar aquilo a elas. Bem, aquilo não era bem verdade. Ninfas mortais normalmente precisavam de um parceiro. As imortais, bem, as que tinham nascido imortais, podiam cuidar das próprias necessidade sem muitos problemas.
– Que eu seja poupado das fêmeas obstinadas. – O deus revirou os olhos para o céu. – Onde está este humano? Leve-me a ele.
Ione nadou em direção à praia e rompeu à superfície, aliviada por ver James exatamente onde o deixou. Sua felicidade virou pânico quando percebeu que ele não estava se movendo. Poseidon apareceu na praia ao lado do humano e o cutucou com a ponta do tridente.
– Ele está vivo? – Ione perguntou enquanto a calda se transformava em pernas e ela saía do mar. A mágica funciona por algumas horas no máximo, e era por isso que precisaria da ajuda de Poseidon caso quisesse ficar em terra para sempre. – Ele estava