Mª Del Mar Agulló

Futuro Perigoso


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      Título: Futuro perigoso

      © Mª del Mar Agulló, 2020

      Tradutor: Lucas Rodrigues Oliveira

      Ilustração da capa: mores345

      Design da capa: © Mª del Mar Agulló

      Primeira edição

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      Este ebook está licenciado apenas para seu uso pessoal. Ele não pode ser revendido ou doado a outras pessoas. Se deseja compartilhar este livro com outra pessoa, favor adquirir uma cópia adicional para cada pessoa com quem deseja compartilhar. Se você está lendo este livro e não o comprou, ou caso ele não tenha sido adquirido para seu uso exclusivo, por favor adquira sua cópia. Obrigado por respeitar o trabalho do autor.

      Para Xena

      1. A ordem a partir do caos

      Carolina trabalhava em um laboratório. Ela era uma jovem de vinte e cinco anos de Maiorca e que estava escrevendo uma tese de biologia. Ela estudava vírus que afetavam os humanos de forma mortal. Procurava possíveis antígenos e, quando entendia que estavam prontos, testava-os em "cobaias humanas".

      As cobaias humanas eram pessoas que se dedicavam a usar seu corpo para fins de estudo clínico. Primeiro, era injetado o vírus, e, depois, o antígeno. Eram submetidas a uma grande variedade de testes antes, durante e depois do processo. Qualquer um poderia ser uma cobaia humana (CoHu); a única condição era ser maior de idade e não ter nenhuma doença mental que afetasse a capacidade de decisão. Os laboratórios pagavam muito bem. Apesar de, no início, a sociedade ser contrária à ideia, com o tempo as cobaias se tornaram populares. Atualmente, havia filas de espera.

      Havia duzentos anos que as cobaias humanas existiam de forma legal, quando o governo da Finlândia legalizou esses experimentos com humanos. Logo chegaram outros países, até que a maioria aderiu. Antes de ser legalizada, essa prática era ilegal e punida com prisão para os funcionários dos laboratórios.

      Muita gente morria nos testes. Alguns porque os antígenos não funcionavam, outros por causa de infecções. Em caso de morte, a família recebia uma grande quantia em dinheiro por vários anos, de acordo com o contrato que havia sido assinado. Havia pessoas que não morriam, mas acabavam com sequelas, como paralisia facial, perda de visão, ganho repentino de peso, entre outras, muitas delas com cura, outras não. Havia também pessoas que passavam por alterações em parte de sua aparência física; algumas ficavam com manchas por todo o corpo, outras sofriam modificações na cor do cabelo ou dos olhos, na altura, etc.

      Atualmente, os vírus mortais haviam se multiplicado de forma exponencial, tornando indispensável o trabalho de Carolina e seus colegas.

***

      Keysi era a típica britânica, com olhos azul-claros e cabelos loiros. Ela morava na Espanha havia três anos, quando conheceu em Londres seu atual namorado, um jovem estudante espanhol da mesma idade, intercambista do Programa Erasmus. Keysi havia trabalhado em laboratórios na Inglaterra, na Alemanha e, agora, na Espanha. Seus pais eram alemães, e seus avós eram ingleses, então ela não tinha problemas com os idiomas.

      Fazia dois anos que Keysi era colega de laboratório de Carolina. As duas tinham a mesma idade e mantinham uma relação cordial. Keysi gostava de trabalhar em silêncio, sem ninguém para incomodá-la; na melhor das hipóteses, ela tolerava música clássica. Entretanto, Carolina falava sem parar, o que no início incomodava a britânica. Após os primeiros dias trabalhando juntas, Keysi disse a Carolina que não conseguia se concentrar se ela não parasse de falar sobre sua vida. A partir daquele dia, o relacionamento delas se baseava nos bons dias e noites de dedicação diária.

      O trabalho de Keysi no laboratório era o mesmo de sua colega: procurar antígenos. Diferente de Carolina, ela sentia a necessidade de encontrar mais de um antígeno; não suportava a ideia de que houvesse pessoas que morressem por causa de um erro seu. Em seus testes, já tinha perdido duas cobaias humanas; com Carolina, morreram três cobaias.

      – Bom dia, senhoritas – disse um homem de quase dois metros de altura e cabelos volumosos, entrando pela porta da Sala 4, onde as duas virologistas trabalhavam diariamente.

      – Bom dia, senhor Norberto – respondeu Keysi.

      – Trouxe cinco novos vírus. Tenham muito cuidado ao manipular, os rapazes da seção de coleta de vírus tiveram dificuldade para encontrar eles. O primeiro – Norberto levantou uma pequena garrafa contendo uma substância esverdeada. – é um vírus que coletamos na Índia; estima-se que tenha afetado trezentas mil pessoas, das quais sessenta mil morreram. Tem prioridade dois e, nas próximas semanas, pode se tornar um, se ele se atingir outros países. Perguntas? – Norberto olhou para Keysi e Carolina, que se entreolharam. – Esse outro – Norberto ergueu um frasco em forma de esfera que continha uma substância que parecia areia vermelha. – é um vírus que encontramos na fronteira entre a China e a Mongólia; lá, eles apelidaram de areia que voa, devido às tempestades que aconteceram nos últimos meses, que faziam com que esse vírus – Norberto apontou para o frasco. – saísse voando por causa do vento. O número de pessoas afetadas é desconhecido, tem prioridade cinco e é muito perigoso em contato com a água. Esse outro – Norberto pegou uma garrafa contendo uma substância azul parecida com massa de modelar. – é um grande mistério. Foi encontrada pela senhorita González – a senhorita González era filha de Norberto e a melhor no departamento de coleta de vírus. – na costa da Austrália durante suas férias. Ele começou matando uma grande quantidade de animais marinhos que apareceram na costa. Mais tarde, o vírus passou para as pessoas.

      – Como passou dos animais para as pessoas? – perguntou Keysi.

      – Por contato direto. A primeira pessoa afetada, o paciente zero, foi uma das pessoas que transportaram os corpos sem vida dos animais.

      – Como sabemos que foi o paciente zero? As outras pessoas que retiraram os animais das praias não se contagiaram? – perguntou Carolina.

      – Não, não se contagiaram. Todas as outras pessoas foram testadas, e todas estavam e continuam saudáveis. As próximas pessoas afetadas pelo vírus foram duas mulheres que atenderam nosso paciente zero no hospital.

      – O que aconteceu com o paciente zero? – perguntou Keysi.

      – Ele morreu três dias depois de ter sido infectado, assim como as duas mulheres e outras vinte pessoas.

      – Quando tudo isso aconteceu? Por que não falaram nada na televisão? – perguntou Carolina.

      – Carolina, todos os dias descobrimos novos vírus mortais. Não dá pra divulgar todos, ou o caos reinaria em cada lugar em que aparecesse um novo vírus. Imagine o que aconteceria na Austrália se dissessem que existe um vírus que pode matar em três dias e que não tem cura. Ou na Índia, que é um foco de surgimento de vírus, onde sessenta mil pessoas morreram só com esse vírus aqui. Nosso trabalho é vencer a guerra contra esse mal, que hoje é a principal causa de morte no mundo. Quando descobriram a cura do câncer, do mal de Alzheimer e de todas as doenças que agora são história, nosso corpo ficou mais forte, mas também mais fraco, e é dessa fraqueza que esses vírus se aproveitam. – Norberto foi até a janela e olhou, sentindo saudade; seu bisavô ficou famoso por descobrir uma vacina contra qualquer tipo de câncer, motivo pelo qual ele decidiu se tornar biólogo. Por várias décadas, as pessoas não morreram de doenças, mas um dia, uma mulher, em sua casa em Paris, começou a ficar doente. Depois de três horas, ela morreu por causa de um vírus. Desde então, os vírus se multiplicaram, e novos laboratórios eram abertos todos os dias para estudá-los em busca de uma cura. – A prioridade