um objeto que o outro teria que encontrar; o que encontrasse primeiro ganhava. Quase sempre Óscar encontrava antes, mas fingia que não para deixar seu irmãozinho ganhar.
Naquele dia, Samuel estava mexendo no guarda-roupa de Mónica, que tinha saído para fazer compras. Samuel olhou as gavetas da parte de baixo sem muito sucesso. Depois, pegou uma cadeira para tentar alcançar a parte mais alta do guarda-roupa. Mas, quando puxou um lenço de Mónica, que estava lá, ele sem querer jogou uma caixa de papelão no chão. Óscar, que estava no térreo, subiu correndo quando ouviu o barulho, pensando que seu irmão tinha caído.
– Samuel, você tá bem? – Óscar estava gritando quando subiu as escadas.
– Sim, eu tô bem.
Óscar entrou no quarto de sua mãe. Samuel estava sentado olhando alguns papéis, entre os quais algumas fotografias.
– Quem é esse homem? – perguntou Samuel.
– É meu pai.
Óscar não queria se intrometer na privacidade de sua mãe, então começou a recolher os papéis e as fotos e pediu que Samuel continuasse a procura em outra cômodo. De repente, seu coração disparou. Era uma foto de sua mãe grávida com seu pai. Por trás da foto, estava escrito o nome completo de seu pai, que também se chamava Óscar. Mas naquela caixa havia muito mais. Ele fechou a porta e começou a olhar tudo. Havia cartas de seu pai endereçadas a sua mãe, dedicatórias, poesias. Aquela caixa transpirava amor. Ele encontrou um número de telefone, que ele supôs que era do pai. Mas a pior coisa para Óscar foi o que encontrou no fundo da caixa. Havia vários brinquedos e figurinhas, além de várias cartas fechadas. Ele abriu uma das cartas, que estava endereçada a ele. Todos os brinquedos eram para ele, um presente de seu pai. Inclusive havia fotos ainda mais recentes. Óscar chorava por tudo o que havia perdido. Pegou as cartas endereçadas a ele e colocou o resto na caixa. Ao sair do quarto, mudou a expressão e agiu como se nada tivesse acontecido.
– Samuel, não conte pra mamãe que vimos a caixa.
– Por quê?
– Porque ela ia ficar chateada.
Horas depois, Mónica voltou. Óscar agiu como se nada tivesse acontecido. Tudo parecia normal.
À noite, ele lia cada carta, e a cada carta ele chorava mais profundamente, tentando não fazer barulho.
No dia seguinte, à tarde, Óscar segurava o folheto do laboratório em uma mão e, na outra, o celular com o número do pai gravado. Ele decidiu ligar para ele. Ele saiu da casa com o celular chamando. Três toques. Quatro toques. Antes de soar o quinto toque, atenderam. Era uma voz masculina, quente e suave, como se fosse de uma pessoa da sua idade. Óscar congelou. E se ele tivesse outros irmãos?
– Alô? – a voz repetiu do outro lado da linha.
Óscar desligou e entrou em casa. Sua mãe estava olhando para ele.
– Aconteceu alguma coisa?
– Não, nada.
– Você não sabe mentir. Vamos, me diga, o que tá acontecendo?
– É que eu tô com dificuldade em um trabalho de ciências.
– Deve ser bem complicado pra ser difícil pra você.
Óscar sorriu. Ele tinha um QI alto, sempre tirava boas notas.
No jantar, comeram uma receita da avó de Samuel e Óscar.
– Tá muito bom, mamãe – disse Samuel.
– Brigada – disse Mónica, maravilhada.
– Mamãe, conta a história de como você conheceu o pai de Óscar.
Mónica olhou na direção de Óscar, que ficou vermelho.
– Nós já sabemos a história do meu pai, você já contou muitas vezes – continuou Samuel, enfatizando o "muitas".
– Tá bom, assim que terminarmos o jantar, eu vou contar pra vocês.
3. O que acontece em Maiorca fica em Maiorca
Era meia-noite, e, embora Carolina tivesse ido embora há horas, Keysi ainda estava trabalhando como se estivesse de tarde. Na sala, dava para ouvir a música de Wagner. Enquanto ouvia a abertura de O Holandês Voador, Keysi acreditava que havia encontrado um antígeno para o vírus indiano. Tinha levado cinco dias; sua colega ainda não havia alcançado resultados conclusivos. Keysi observou em seu microscópio como seu próprio vírus afetava o outro, destruindo-o completamente. Ela pegou o telefone e ligou para Norberto.
– Eu consegui – disse a virologista assim que Norberto atendeu.
– Quem é?
– Keysi.
– Keysi, você tem alguma ideia de que horas são? – A voz de Norberto parecia distante.
– Desculpe, espero não ter te acordado.
– Sim, Keysi, eu tava dormindo. Mas, me diga, o que você conseguiu?
– O antígeno do vírus indiano tá pronto para ser testado em uma CoHu.
– Meu Deus, você tá falando sério?
– Totalmente.
– Bem, eu ligo para Clara, embora ela esteja dormindo, pra que possamos fazer os testes amanhã de manhã.
– Amanhã? É muito tarde. E se eu testar em mim mesma?
– Quê? Keysi, nem pense nisso. Eu proíbo.
– Tudo bem, vou esperar.
No tempo que passou desde que Keysi começou a estudar o vírus, o número de mortos subiu para aproximadamente setenta mil, embora se calculasse que poderia haver cerca de vinte mil que não tinham sido contados. O caos reinava na Índia. Por causa desse vírus, todas as fronteiras tinham sido fechadas, e milhares de turistas tinham ficado presos no país, esperando que algum laboratório encontrasse uma cura. Era o procedimento padrão quando um vírus se tornava incontrolável.
Keysi voltou para casa esgotada. Ela passou por alguns turistas ingleses, obviamente bêbados, que estavam andando meio sonolentos. Quando entrou na casa, ligou a TV e preparou algo para comer; não comia nada há doze horas. Ela mudou para o canal de notícias. Keysi ficou espantada; uma nova lei estava sendo preparada em todo o mundo, segundo a qual todos os vírus ativos deveriam ser reportados, informando todos os detalhes. Keysi pensou nas palavras de Norberto na outra semana. Se todos os vírus fossem divulgados, onde quer que houvesse um, as pessoas iriam enlouquecer, esvaziar supermercados e entrincheirar-se em suas casas até o vírus desaparecer.
Keysi se aproximou do Sistema de Controle da casa, um sistema que controlava praticamente todas as funções da casa, e o conectou ao seu celular. No celular, ela clicou em "Encher banheira" e depois nas opções "Água quente" e "Bolhas de sabão".
Ao entrar no quarto para pegar roupas limpas, ela encontrou seu ex-namorado dormindo. Ela abriu o armário sem fazer barulho e pegou as roupas. Tinha que encontrar outra casa logo; a situação estava se tornando cada vez mais desconfortável. Todas as casas que Keysi tinha visto estavam ultrapassadas, sem um Sistema de Controle.
Na manhã seguinte, às sete, Keysi, depois de ter dormido apenas algumas horas, entrou pela porta do escritório de Norberto.
– Você testou? – perguntou ela desesperadamente.
– Bom dia pra você também – Norberto olhava para alguns papéis em sua mesa.
Keysi continuou de pé olhando para ele.
– Sim – disse ele depois de assinar um papel —, eu testei.
– Primeiras conclusões?
– É um sucesso, por enquanto. – disse ele cautelosamente. – Pensei que você e Carolina iam criar um antígeno para cada vírus antes de me entregar – Norberto levantou a cabeça para olhar a inglesa.
– Eu sei. Veja bem, quando Carolina saiu, eu tava terminando