Mª Del Mar Agulló

Futuro Perigoso


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um laboratório que pesquisava vírus, como esse. Toda a ilha está em quarentena. Eu acho que isso vai ser resolvido em breve. O que mais me incomoda é que as pessoas tão começando a odiar as ilhas que têm laboratórios. Você sabia que no começo só permitiam a abertura de laboratórios em ilhas, pro caso de acontecer alguma coisa parecida com essa de Taiwan e houvesse uma epidemia de vírus? É um absurdo. Carolina já chegou?

      – Ainda não.

      Nesse momento, ouviu-se o som de salto-alto se aproximando, seguido por um perfume feminino de alta qualidade. Uma mulher escultural, de cabelos escuros, alta e magra entrou pela porta do escritório.

      – Bom dia, Titania.

      – Bom dia, pai.

      – O que você me traz hoje? Espero que não seja outro vírus.

      – Só passei pra dizer oi – Titania sorriu. – e mostrar isso para você. – Titania colocou na mesa os papéis que estava segurando. Keysi e Norberto se aproximaram e olharam atentamente. – É uma nova máquina que detecta a presença de um vírus a quilômetros. Me pediram para testar em Taiwan.

      – Em Taiwan? Não dá pra entrar em Taiwan, tá em quarentena.

      – Eles que me pediram. Não tem problema, pai, eu vou ficar bem.

      Norberto olhava para a filha com preocupação. Sua filha podia até ser a melhor de seu departamento, mas a situação era instável na ilha asiática.

      Keysi saiu da sala para deixá-los a sós. Assim que entrou na sala onde trabalhava com Carolina, a Sala 4, ela parou para observar tudo: os computadores com sistema de toque holográfico, as várias máquinas e outros equipamentos de laboratório nas mesas brancas coladas nas paredes, os bancos roxos em que elas se sentavam, a grande mesa central branca que elas mal usavam e as paredes também brancas que refletiam a luz que entrava pela janela, voltada para o sul, cuja vista do mar Mediterrâneo era espetacular, já que não havia nenhum prédio na frente.

      Keysi começou a estudar o vírus encontrado na fronteira da China com a Mongólia. Para um vírus, tinha uma estranha beleza. Assim que tirou as primeiras conclusões, ela sabia que levaria um tempo para encontrar um antígeno para esse vírus e, como o número de mortes era baixo em comparação com os outros, mas não o número de infectados, ela decidiu deixá-lo de lado, fazer uma análise preliminar dos outros três vírus restantes e, então, escolher um.

      Por volta das nove da manhã, enquanto sua colega estudava o vírus australiano, Carolina chegou com cara de quem havia dormido pouco. Keysi apontou para o relógio holográfico vermelho na parede.

      – Ultimamente não tô dormindo, meus vizinhos tão sempre festejando. Tomara que eles vão embora logo – os vizinhos de Carolina eram quatro jovens franceses que, naquele ano, estavam estudando na Universidade das Ilhas Baleares.

      Carolina começou a trabalhar. Enquanto isso, Keysi visitou a sala onde a CoHu estava testando seu antígeno.

      – Como eles tão? – perguntou a inglesa a uma jovem enfermeira que tinha acabado de ser contratada pelo laboratório.

      – Todos bem.

      Ao retornar, Keysi parou no corredor e olhou para a galeria de fotos de seu celular. Em quase todas, ela aparecia sorrindo ao lado de seu ex-namorado. Ela apertou os lábios e segurou a vontade de chorar. Nesse momento, se sentiu desamparada. Tinha deixado a vida inteira para trás por um homem que a tinha abandonado. Ela não tinha ninguém na ilha.

      Carolina percebeu que sua colega tinha entrado pela porta com uma expressão de tristeza no rosto.

      – Você tá bem?

      – Sim, é só que… você sabe… eu não tenho mais ninguém aqui na ilha.

      – Não diga isso, eu tô aqui – Carolina ficou na dúvida se deveria aproximar-se para abraçá-la ou não; ela escolheu não se aproximar.

      Keysi ficou surpresa com a reação de Carolina, o que poderia ser o começo de uma amizade entre as duas colegas no futuro.

      As duas continuaram trabalhando com a música de Wagner ao fundo, trocando dados e sugestões, em um relacionamento em que havia cada vez mais cumplicidade.

      4. Uma história de família

      Mónica, depois de recolher os restos do jantar e limpar a mesa, sentou-se no sofá com os filhos e começou a história, enquanto Samuel olhava para ela impaciente e Óscar começava a ler alguma coisa no celular.

      – Conheci o pai de Óscar há muito tempo na escola, quando ele tava prestes a completar doze anos, e eu já tinha completado. Era primavera. Lembro que seu pai – Mónica olhou para Óscar, que fingiu não estar interessado na história que sua mãe estava contando para o irmãozinho. – gostava de cheirar as flores dos pessegueiros da escola, o que chamou minha atenção.

      – Tinham pessegueiros na sua escola? – perguntou Samuel surpreso.

      – Tínhamos árvores de todos os tipos – Samuel abriu a boca, surpreso – você sabia que a gente tinha aulas de botânica?

      – Hoje em dia também temos – disse Óscar, sem levantar os olhos do celular.

      – Um dia, eu me aproximei de seu pai e perguntei por que ele fazia isso. Ele disse que gostava do cheiro delas. Fui até a árvore e peguei uma flor para cheirar, o que fez com que seu pai se chateasse comigo. Ele não queria que ninguém tocasse nas árvores. Ele ficou sem falar comigo durante o ano todo.

      – O que aconteceu depois? – Samuel perguntou, interessado.

      – No ano seguinte, ele me pediu ajuda em um assunto. A gente tava estudando mapas antigos, a gente tinha que desenhar os mapas, e eu era muito bom em desenho. Então, um dia ele se aproximou de mim e perguntou se eu queria fazer o trabalho com ele, e eu disse que sim. No final, acabei fazendo todo o trabalho sozinha. A partir daí, a gente se via todos os dias no recreio e, depois da aula, a gente sempre voltava junto pra casa.

      – E aí vocês se apaixonaram? – perguntou Samuel, curioso.

      Óscar levantou os olhos interessado.

      – Alguém já lhe disse que você é um menino muito inteligente? – Samuel começou a rir.

      – Sim, você – respondeu o filho mais novo de Mónica.

      – Por muitos anos, fomos inseparáveis, até que fiquei grávida de seu irmão.

      – E agora, onde ele tá? – perguntou Samuel.

      Mónica olhou para Óscar, que estava olhando para ela.

      – Ele tá no céu com o papai?

      – Não, querido, ele foi embora.

      – Pra onde? – o menino insistiu.

      – Às vezes, tem gente que vai embora, que desaparece da sua vida.

      – Como a tia Victoria, que mora em Londres? – Victoria era a irmã do pai de Samuel.

      – Sim, tipo isso.

      – Então podemos visitar ele?

      Mónica estava começando a ficar nervosa.

      – Acontece que não sabemos pra onde ele foi – interveio Óscar para ajudar sua mãe e impedir que ela gritasse com Samuel.

      Mais tarde, depois que Mónica colocou o pequeno Samuel na cama, ela foi até a sala e se sentou ao lado do filho mais velho.

      – Brigada por agora há pouco.

      – Não tem de quê. Eu sei que você nunca gostou de falar sobre meu pai e que, quando você fala, acaba parecendo uma pessoa mentalmente perturbada.

***

      No dia seguinte, Mónica acordou Samuel cedo e o levou para o quarto de Óscar.

      – Quando eu falar três – disse Mónica baixinho.

      – Certo.

      – Um,