suave água de colónia masculina. Começou a cheirar um sedutor aroma a homem excitado.
Então, ele pegou-lhe pela cintura.
– Estás a tremer – murmurou, roçando a sua cara com o cabelo. – Lamento.
– Lamentas? – exclamou ela, furiosa, envergonhada e confusa.
Procurou o interruptor e ficou furiosa e pálida quando acendeu a lâmpada. Diante dela, um homem de cabelo escuro, olhos azuis, sobrancelhas escuras sobre um nariz magistral e uns lábios que não podiam esconder a sua poderosa sensualidade.
– Estás pálida.
– Estiveste a perseguir-me? – perguntou ela.
– A perseguir-te?
– Estavas a seguir-me. Não me digas que não tentavas esconder-te.
– Estava a tentar não te assustar.
Ela quase soltou uma gargalhada.
– O quê?
– Pensei que se ouvisses passos atrás de ti nestas ruas tão escuras terias razão em ficares assustada.
– Como diabo não ia assustar-me ao saber que tinha alguém a seguir-me? – exclamou ela, largando a mala na mesa do telefone.
– Ignorava que soubesses.
Ele pegou na sua mão e deu-lhe a chave. Depois, tentou dar-lhe um beijo, fazendo com que ficasse com a pulsação acelerada.
– Precisas de um copo – disse, olhando à sua volta.
– Não preciso…
Ele largou a sua mão para a levar até ao salão, a primeira porta aberta no corredor.
– Senta-te – ordenou, levando-a até ao sofá.
– Não preciso de um copo. E se precisasse eu próprio o servia.
Sem dizer nada, o homem aproximou-se da estante onde estavam as garrafas.
Sabendo que não faria caso aos seus protestos, ela deixou-se cair no sofá e esperou até que o homem voltou com um copo de uísque. Ao beber o primeiro gole, os seus olhos ficaram repletos de lágrimas, mas tentou disfarçar.
Ele sentou-se a seu lado. Tinha um braço apoiado nas costas do sofá e olhava para ela com intensidade.
– Bebe tudo.
Deveria dizer-lhe que fosse para o inferno, que não precisava de nenhum homem que a seguisse até à sua casa e que lhe dissesse o que tinha que fazer.
Levantando o copo, bebeu o resto do líquido.
– Vives aqui sozinha?
– Isso não é assunto teu – disse ela, sem pensar.
Por que é que não lhe tinha dito que tinha noivo, marido, namorado, qualquer coisa? Ou que vivia com mais três pessoas.
– Já sei.
– Desde quando me segues?
– Vi-te descer do autocarro na avenida Ponsonby. Costumas regressar a casa sozinha? – perguntou ele, com um tom de reprovação.
A avenida Ponsonby era muito popular pela sua ecléctica mistura de emigrantes, mulheres das ilhas Fiji com os seus lenços de cores, lojas de todo o tipo, locais de moda e galerias de arte. Mas, sobretudo, pelos seus cafés e restaurantes cheios de pessoas e bem iluminados. Apenas estava a trezentos metros da sua casa, mas para chegar ali devia atravessar várias ruas escuras.
– Nunca me tinha acontecido nada até hoje.
– E, hoje, também não te aconteceu nada. Eu assegurei-me disso.
– Muito obrigado, mas não era necessário – replicou ela, sarcástica.
– Quando te vi, apercebi-me que era totalmente necessário. Importas-te que me sirva de um copo?
– Sim, importo-me.
– Estás a ser um pouco grosseira, não? – sorriu ele.
Tontamente, sentiu-se reprovada. Como se aquele homem tivesse algum direito sobre ela.
– O que mereces.
– Queres um pouco mais?
Ela negou com a cabeça.
Sabia que não podia mandá-lo embora da sua casa. Mas aquela era sua casa e ele era um intruso.
– Não esperas que me vá embora, agora, não?
– E se te pedir?
Ele estava a olhar para o seu copo. O líquido não se mexia, as suas mãos estavam perfeitamente firmes. Ao contrário das suas. Todo o seu corpo tremia de forma quase perceptível.
– Estás a pedir que me vá embora?
Ela conteve a respiração.
«Diz».
– Sim.
Não o tinha dito com muita determinação, mas sim claramente, embora em voz baixa.
Passaram uns segundos. Então, ele levantou o seu copo e bebeu um gole. Depois, olhou-a fixamente nos olhos.
– Não.
Ela levantou-se de repente e teve que segurar-se no braço do sofá porque o movimento brusco deixou-a tonta. Além disso, não podia sair a correr. Ele poderia apanhá-la antes de dar dois passos.
O homem bebeu o resto do uísque e deixou o copo sobre a mesa.
– Não – repetiu. – Não podes continuar a fugir de mim, Roxane.
Capítulo 2
– Não estou a fugir – murmurou ela, sentando-se novamente no sofá. – Nunca fugi de ti.
– Então, o que lhe chamas?
– Foi uma decisão racional e sensata.
– Sensata?
Uma familiar mistura de sensações apoderou-se dela: desespero, tristeza, angústia, misturada com um profundo e inexplicável desejo.
– Não achas que seja capaz de fazer algo sensato. Mas foi a melhor decisão da minha vida.
Ele apertou o copo com força.
– Era necessário ser tão dramática? Cortar todo o contacto, fazer jurar os teus padres que não me dissessem onde estavas, obrigar-me a que comunicássemos através do teu advogado, como se eu te tivesse maltratado…
– Disse-lhes que não era assim – replicou ela, olhando para as mãos. – Não me trataste mal, Zito.
– Ah, pensei que nunca voltarias a pronunciar o meu nome.
O rosto de Roxane estava semi-escondido no seu longo cabelo escuro, mas tinha notado uma mudança no tom de voz do seu marido, que fez com que levantasse o olhar para os seus claros olhos verdes, interrogantes.
Apenas encontrou uma expressão rígida e indecifrável, quase indiferente.
– Não pensaste que se quisesse encontrar-te-ia de imediato?
– Eu sei.
Sabia que Zito podia pagar a vários detectives privados durante o tempo que fosse necessário.
– Mas deixaste bem claro que não querias que te encontrasse – sorriu ele, sarcástico. – Ou esperavas que fosse a correr atrás de ti para te pedir que voltasses comigo?
Às vezes fantasiava com essa ideia, que o seu marido voltaria para lhe pedir desculpas e fazer promessas… um homem diferente, um homem humilde. E que tudo, milagrosamente, iria correr bem. Este pensamento tinha-a ajudado a conciliar o sonho durante muitas noites.
Mas seria fatal