contente que assim seja – disse ele, metendo as mãos nos bolsos das calças.
A roupa de Zito estava sempre impecável, muito cara. Não com o intuito de impressionar os outros.
Ele estava a inspeccionar as paredes que Roxane tinha pintado de verde, com baratas reproduções artísticas.
Então, olhou, para o sofá em segunda mão. Por um segundo, a sua atenção desviou-se para o tapete antigo pelo qual Roxane tinha pago muito dinheiro. O seu único capricho.
– Não gostas da minha casa? – perguntou, desafiante.
– Não está mal. Pequena, mas agradável.
– Gosto das coisas pequenas.
Zito olhou para ela, incrédulo.
– É tua?
– Minha e do banco.
– Se precisas de dinheiro, poderias ter-me pedido. Através do teu advogado, se fosse preciso. Disse-lhe…
– Não quero o teu dinheiro. Tenho um bom trabalho e posso pagar a hipoteca.
– Hipoteca!
Tinha falado como se fosse uma palavra feia. Roxane sorriu.
– É isso o que fazem as pessoas normais para comprarem uma casa, Zito.
– Não tens necessidade de comprar uma casa. Eu posso dar-te tudo o que quiseres… dei-te tudo, se bem me lembro.
– Não tudo – disse Roxane em voz baixa. – Não me deste o que mais desejava.
– Amava-te! – exclamou ele, furioso.
– Eu sei, sei que me amavas. À tua maneira.
Zito passou uma mão pelo cabelo, irritado.
– Dei-te o meu coração e a minha alma, tudo o que tinha. Não sei que mais poderia dar-te.
Claro que não sabia. Maurizio Riccioni apenas faz as coisas à sua maneira. E quase sempre com sucesso. Por que é que iria imaginar que a sua mulher não sucumbiria a essa profunda segurança em si mesmo?
– Nem tudo foi culpa tua. Eu era demasiado jovem e deveria ter dito «não» quando me pediste em casamento.
– E disseste – recordou ele.
Sim, era verdade. A primeira vez que a pediu em casamento, demonstrou um certo bom senso. Mas a sua oposição não durou muito. De imediato, os seus medos foram dissipados perante a vontade de Zito.
Inclusive, convenceu os seus pais, apesar deles não aprovarem que a sua filha casasse aos 19 anos.
Zito esperou até que cumprisse os 20 e no dia do seu aniversário casaram na catedral de Melbourne, perante várias centenas de convidados.
Mas, o casamento era algo mais do que um vestido branco e um ramo de flores. E o seu não tinha resistido ao desafio.
– Deveria ter-te dito que não.
– Obrigado – murmurou ele. – Mas eu podia convencer-te de todas as formas.
– Estás tão seguro de ti próprio…
– Eu nunca te magoei, Roxane. Se tivesse sido um marido terrível, compreenderia que me tivesses abandonado.
Então, aproximou-se do seu escritório e olhou para os papéis.
– São coisas privadas – protestou Roxane. Ele pegou num envelope e voltou-se, interrogante.
– Roxane Fabian? – Roxane encolheu os ombros.
– É o meu apelido.
– Mas disseste que gostavas do meu.
– Não me importou… Não era tão importante.
– Para mim era.
Mas ter o seu apelido tinha sido importante para ela. Seguramente, era algo simbólico.
– Por que é que pensavas que eras o meu dono? – Zito soltou uma gargalhada.
– Se realmente pensavas assim, eras demasiado jovem.
Ou demasiado tonta, parecia insinuar.
– Então, não pensavas isso.
A reacção do homem foi notável, mas ela conhecia-o tão bem que viu como dava, sem dar, um passo atrás.
Não queria magoá-lo. Sabia que ficaria furioso, mas não o abandonou para se vingar ou castigá-lo, apenas por sobrevivência.
Na sua longa e possivelmente incoerente carta de despedida, tinha-lhe dito que não o odiava e que não devia culpar-se a si mesmo pelo que não podia evitar. Tinha tentado não o magoar.
Talvez a dor fosse mais profunda do que ela esperava. Tinha tido doze meses para a esquecer, mas não parecia tê-la esquecido.
– Lamento. Pensava que compreendias.
– Há outro homem? – perguntou ele abruptamente.
– Por favor! – exclamou Roxane. Não entendia que o tinha deixado porque queria estar sozinha. – Outro homem depois de viver contigo durante três anos? Como te atreves a sugerir que te fui infiel?
Zito ficou em silêncio durante uns segundos.
– Durante meses, torturei-me com essa ideia.
Roxane nunca tinha pensado nisso. Essa era mais uma prova de que não a conhecia, que nunca tinha tentado compreendê-la ou entender os seus desejos.
– Pois enganas-te.
Ele encolheu os ombros, como se não tivesse importância. Mas tinha. Tinha o seu orgulho ferido e essa era, seguramente, a razão pela qual não a tinha procurado através de um detective.
– Quebraste outras promessas do casamento – disse então. – Por que não essa?
– É diferente.
– Porquê?
Roxane não podia responder a essa pergunta.
– Porque sim – disse, suspirando.
– E agora?
– Agora, a minha vida privada é a minha vida privada.
Nesse momento, começou a tocar o telefone e Roxane levantou-se para ir para o corredor.
– Diga-me?
Zito ficou a olhar para ela desde o salão, enquanto ela tentava concentrar-se na chamada.
– Diz-me, Leon… No sábado? Sim, bem, tenho que ver a agenda.
Roxane abriu a mala que tinha deixado sobre a mesa do telefone.
– No sábado da semana que vem? Que género de festa? Se há muitos convidados…
Leon garantiu que não. Uma festa de boas vindas, pelos vistos, para o filho de um cliente que voltava da Europa com a sua noiva.
– É apenas uma reunião familiar. Uma centena de convidados.
– Uma reunião familiar? – sorriu ela. – Para que os familiares vejam a pobre noiva?
– É uma proeminente família de Auckland e os contactos vêm mesmo a calhar. Espero que possas organizá-la.
– Claro que sim – prometeu Roxane.
– Sei que posso confiar em ti.
Quando voltou ao salão, tinha um sorriso nos lábios. Zito estava a olhar pela janela, com um ar muito sério.
– O teu noivo?
Roxane não tinha noivo, mas a pergunta fez com que vacilasse um pouco.
– Não, uma chamada de trabalho.
– Trabalho? – repetiu Zito, incrédulo. – A estas horas?
–