Quem o enviou?
– Ninguém.
– Iniciativa! Agrada-me, não é, Sophie? Mas… tem algum agente? – se não tivesse, abria-se diante dela uma atraente gama de possibilidades, como um contrato de exclusividade…
Aquele homem perfeito estava a ponto de se converter no novo modelo da temporada.
Quinn era um homem paciente, mas até ele tinha os seus limites. Tinha visto agricultores a examinar o gado com mais delicadeza do que aquela mulher. Será que, de seguida, lhe ia pedir que abrisse a boca para lhe ver os dentes?
– Tire o casaco e a camisa, está bem? – pediu-lhe Anna, voltando a sentar-se.
Quinn, surpreendido, olhou para ela e viu que estava a falar a sério.
– Só isso?
A mulher pequena pareceu sobressaltar-se com a resposta, mas a chefe dirigiu a Quinn um olhar irónico.
– Sim, acho que será suficiente – Quinn permaneceu imóvel. – Não é tímido, pois não?
– Não, claro que não – respondeu ele com sinceridade, mas a ideia de se despir ali recordou-lhe o seu principal e único objectivo: Rowena.
Precisamente quando ia dizer que não estava disponível, abriu-se a porta nas suas costas e ouviu um par de vozes. Reconheceu logo uma delas.
– Tenho a tua permissão para a campanha «Tenha-o todo», Rowena? – perguntou Sylvia Morrow à sua editora.
Rowena era uma mulher alta e bonita, com a tez rosada e o cabelo louro acinzentado. Tinha noção do impacto que o seu corpo esbelto e sinuoso produzia nos homens, mas tinha chegado à conclusão de que essa beleza tinha sido mais um obstáculo do que uma ajuda na luta para atingir os seus objectivos. Desde que se licenciara com distinção, sem dinheiro e sem experiência, a sua inquebrável ambição tinha-a levado até àquele escritório luxuoso e ao cargo de editora, que ainda lhe parecia irreal. O caminho até ao êxito não era fácil e, com frequência, tinha de demonstrar aos outros que a sua juventude não a impedia de triunfar. E, sem dúvida, não conseguia entusiasmar-se com os seus êxitos e por culpa de uma pessoa… Quinn Tyler. Ignorou, convenientemente, que ela era igualmente responsável pelo seu problema.
– Estás bem, Rowena? – perguntou-lhe Sylvia, ao observar que a sua chefe levava uma mão ao ventre, invejavelmente liso.
Na noite anterior, tinham assistido à apresentação de um novo perfume e, enquanto que Sylvia se mostrou incapaz de resistir à comida e à bebida, Rowena apenas provou um pouco.
– Estou bem – disse com um sorriso e afastou a mão. Se não tivesse cuidado, as pessoas iam começar a conjecturar.
Para quem nunca se cansava de repetir que a maternidade não era compatível com o trabalho, um bebé era uma situação embaraçosa…
– O anúncio «Ter tudo» – recordou Sylvia.
Rowena fez um esforço para afastar os problemas pessoais, mas, pela primeira vez na sua carreira profissional, não lhe foi fácil concentrar-se no trabalho.
– Já sabes o que penso disso, Sylvia.
Sylvia assentiu. Não era nenhum segredo que a sua nova editora chefe via como ingénuas as mulheres que achavam que podiam combinar uma carreira de êxito com uma família feliz.
Rowena não se preocupava em ser politicamente correcta e Sylvia perguntava-se se a sua rejeição a filhos e casamento não teria algo a ver com a obsessão que tinha em fazer o trabalho com escrupulosa perfeição.
– Bem, conheço várias pessoas muito ambiciosas que não partilham a mesma opinião e algumas ideias deviam ser escritas. Não podes falar – predisse Sylvia. – Um olhar ao interior dos lares dos famosos, com fotografias dos animais, dos filhos ou do que quer que seja… Já sabes, o lado humano e tudo isso.
A ideia de expor os filhos aos meios de comunicação fez com que Rowena fizesse uma careta de desagrado.
– Pode funcionar – insistiu Sylvia, ao ver a negativa da sua chefe.
– Pode ser que tenhas razão, Sylvia – aceitou Rowena. – Em quem estás a pensar?
– Em Maggie Allen.
– Uma escolha de actualidade – disse Rowena, arqueando uma sobrancelha. Maggie Allen, a nova cara de uma firma farmacêutica, era a típica mulher que parecia ter tudo: um marido carinhoso, os filhos bem-educados e um trabalho com êxito. Mas quanto tempo passaria essa Maggie com os filhos?, perguntou-se Rowena. E quanto tempo mais seria necessário para que o seu marido procurasse outra mulher que lhe interessasse mais?
– És a melhor – disse Sylvia. – Mas espera um segundo. Tenho que dar esta apresentação à Anna – entrou no gabinete de Anna, seguida de Rowena. – Anna, podias…? Oh, meu Deus! – exclamou, ao ver o enorme homem que ocupava metade da sala.
– Acho que podes mandar os outros embora, Sophie – disse Anna, ao ver a expressão de prazer da sua colega. – Temos o nosso homem.
Rowena lançou um olhar rápido ao impressionante corpo que tinha maravilhado Sylvia e afastou o olhar. Os homens fortes e grandes não eram propriamente do seu agrado. E sem dúvida… o novo modelo de Anna, que estava sem camisa, tinha uma certa semelhança muscular com Quinn. Não pôde evitar sentir uma certa compaixão em relação àquele pobre homem desnudado da cintura para cima.
– Bem, deixo-vos – disse às outras mulheres. – Sylvia, às três e meia no meu gabinete…
Naquele momento, o homem voltou-se e olhou para ela.
Rowena ficou sem respiração e pensou que estava alucinada. Era impossível achar que o estava a ver diante dela. Aquele torso, aqueles olhos verdes, aqueles lábios curvados num sorriso sensual… Era ainda pior do que uma alucinação. Era real! Só havia um homem no mundo capaz de combinar num sorriso tanto desprezo e desafio sexual.
O débil gemido que emitiu bastou para que as outras mulheres se fixassem nela. Eram mulheres cujo respeito necessitava, pelo que tinha de fazer algo rapidamente. Algo diferente de sair a correr, a única coisa que lhe passava pela cabeça. Porquê ali? Porquê naquele momento? Porquê a ela?…
Inspirou profundamente. Não era a situação ideal, mas tinha de a solucionar. Sabia que o reencontro era inevitável, mas tinha acalentado a esperança de estar preparada para tal e ser capaz de replicar com razões de peso qualquer protesto que ele formulasse.
– Que diabo fazes aqui? – perguntou num tom acusador, quase sem voz.
– Este é Quinn Tyler, Rowena – explicou Anna. – O nosso modelo para…
– Ele não é modelo! – exclamou ela, apanhando do chão a camisa e o casaco de Quinn. Como é que se podia exibir diante daquelas mulheres que o comiam com os olhos?
– Então, quem é?
– Isso, Rowena, quem sou? – perguntou Quinn.
Rowena sentiu que corava diante daquele olhar.
– Não me tentes! – disse ela. Não conseguia suportar aquele sorriso. – Para tua informação, Anna, informo-te que o Quinn é médico.
– Não se parece nada com um médico – respondeu Anna com algum cepticismo. Apoiou as mãos na cadeira e observou Quinn de cima para baixo.
– Sabe parecer um médico, quando quer – disse ela com um grunhido.
– Vá, obrigado, Rowena – murmurou Quinn provocadoramente.
– Não pretendia lisonjear-te. Até Jack, o Estripador, pareceria um homem respeitável se vestisse um fato Armani – voltou-se para as outras mulheres. – Andámos juntos na universidade.
– Ah, é um antigo namorado.
– Não tão antigo – precisou