Caitlin Crews

Unidos pela paixão


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pensar melhor.

      – Não é a tua esposa – repetiu Robert, fazendo uma careta. – Tu não tens esposa. És o Conde, o líder do caminho glorioso e a resposta para todas as perguntas dos crentes.

      – Sim, sim. – O Conde abanou a mão. Robert não sabia se aquela mulher era a sua esposa. E ele também não. Porque não era possível que o Conde tivesse surgido do nada no meio de uma labareda, como todos diziam. Sabia isso desde o começo. Se tivesse aparecido um dia num arrebatamento de glória, não teria precisado de tanto tempo para recuperar, pois não?

      Contudo, aprendera que era melhor não comentar aqueles mistérios da fé em público. O que sabia era que, se chegara de algum outro lado, isso significava que tinha uma vida anterior. Fosse onde fosse. E, se aquela mulher dizia que o conhecia, talvez pudesse ser uma fonte de informação. O que o Conde mais desejava era informação.

      Não esperou para ver se Robert obedecia. Sabia que o faria porque todos o faziam. O Conde saiu da sala de vigilância e dirigiu-se para o acampamento. Conhecia-o perfeitamente, cada sala e cada parede construída com troncos. As lareiras de pedra e os tapetes grossos do chão. Nunca pensara para além daquele lugar, porque tudo o que queria estava ali. A montanha dava e os seguidores recebiam, era assim que funcionava.

      Sidney. São Petersburgo. Vancouver. Oslo. Roma.

      Porque conseguia «ver» tantos lugares de repente? Lugares não esculpidos em pedra e escondidos naquelas montanhas em que só se viam árvores em todas as direções.

      Dirigiu-se para os seus próprios aposentos, que eram separados dos outros quartos onde o resto das pessoas dormia. Manteve uma expressão fechada enquanto andava, como se estivesse a comunicar com o Espírito, tal como pensavam que fazia e, assim, evitou que se aproximassem.

      Quando chegou aos seus aposentos, esperou na sala exterior. Quando recuperara os sentidos assim que chegara, rejeitara a austeridade daqueles aposentos. Pareciam-lhe uma prisão, ainda que, de certo modo, soubesse que nunca tinha estado numa. Mas, agora, preferia-os aos quartos relativamente mais acolhedoras do outro lado da porta. Paredes brancas. Mobiliário mínimo. Nada que distraísse um homem do seu propósito.

      Na sua consciência, ficava o facto de nunca ter conseguido sentir a determinação que todos presumiam que tinha.

      Não teve de esperar muito até lhe trazerem a mulher. E, quando chegou, a austeridade das paredes fez com que o impacto da sua roupa preta fosse muito mais enérgico em comparação. Era tudo branco. A roupa que ele usava, larga e fluida. As paredes, a madeira do chão, até a cadeira em que se sentava, que parecia um trono de marfim.

      E ali estava aquela mulher no meio de tudo com roupa preta, olhos azuis e joelhos firmes. Aquela mulher que o observava com os lábios ligeiramente entreabertos e um brilho nos olhos que não era capaz de definir.

      Aquela mulher que dizia ser a sua esposa.

      – Eu não tenho esposa – declarou, quando os seus seguidores se foram embora e os deixaram sozinhos. – O líder não tem esposa. O seu caminho é puro.

      O Conde ocupava a única cadeira da sala. Mas, se a mulher se incomodava de estar ali de pé à frente dele, não se notou. De facto, o seu rosto refletia algo mais parecido com o espanto.

      – Estás a brincar, não é?

      Foi a única coisa que disse. Foi um sussurro áspero, mais nada. E o Conde deu por si fascinado com os seus olhos. Eram de um azul impressionante que o fazia pensar nos verões da montanha.

      – Eu não brinco – disse. Ou, pelo menos, era o que achava. Pelo menos, não ali.

      A mulher que tinha à sua frente respirou fundo como se estivesse a fazer um grande esforço físico.

      – Durante quanto tempo tencionas esconder-te aqui? – quis saber, como se estivesse zangada.

      O Conde não conseguiu pensar em nenhuma razão para que estivesse zangada.

      – Em que outro sítio haveria de estar? – Inclinou ligeiramente a cabeça enquanto a observava, tentando encontrar sentido para a emoção que percebia nela. – E não estou a esconder-me. Esta é a minha casa.

      Ela deixou escapar uma gargalhada breve, mas carente de humor. O Conde franziu o sobrolho, algo que nunca fazia.

      – Tens muitas casas – assegurou ela, num tom que pareceu um pouco rude. – Gosto das águas-furtadas de Roma, mas o vinhedo da Nova Zelândia também não lhes fica atrás. A ilha do Pacífico Sul. A casa de Londres ou a villa grega. Ou todos os hectares de terreno que a tua família tem no Brasil. Tens muitas casas em todos os continentes possíveis, isso é o que quero dizer, e nenhuma delas é um manicómio nas montanhas do Idaho.

      – Um manicómio? – repetiu ele. Aquela era outra palavra que não conhecia, mas que lhe pareceu familiar assim que ela a pronunciou.

      – Isto é uma espécie de quarto de hospital? – perguntou a mulher, cruzando os braços. – Isto foi um retiro de saúde mental de quatro anos longe das tuas responsabilidades? – fixou o olhar azul no dele. – Se sabias que ias fugir assim, porque te incomodaste em casar-te comigo? Porque não fizeste o teu ato de desaparecimento antes do casamento? Suponho que imagines como tive de lutar durante este tempo. O que te fiz para merecer que me deixasses sozinha no meio de toda aquela confusão?

      – Estás a falar comigo como se me conhecesses – disse o Conde, num tom baixo e grave.

      – Não te conheço. Por isso é pior. Se querias castigar alguém com a tua empresa e a tua família terrível, porque me escolheste? Tinha dezanove anos. Não devia surpreender-te saber que tentaram comer-me viva.

      Havia algo agudo dentro dele, como vidro partido, e cortava-o com cada palavra que aquela mulher dizia. Levantou-se.

      – Eu não te escolhi. Não me casei contigo. Não sei quem és, mas eu sou o Conde – assegurou, levando as mãos ao peito.

      – Tu não és um conde – contradisse ela. – A tua família sempre gostou da aristocracia, mas não tem nenhum título.

      A cabeça do Conde dava voltas e doíam-lhe as têmporas. Não havia nenhuma razão para que atravessasse a divisão com os pés descalços para se abater sobre ela, mas a mulher devia ter-se assustado. Se fosse algum dos seus seguidores, ter-se-ia precipitado para os seus pés, suplicando clemência. Mas ela ergueu o queixo e olhou para ele nos olhos como se não percebesse que era bastante mais alto.

      – Se fosse a ti, teria muito cuidado com o modo como falas comigo – avisou.

      – Qual é o sentido desta farsa? – quis saber ela. – Sabes que não acredito. Sei perfeitamente quem és e nenhuma ameaça mudará esse facto.

      – Isto não foi uma ameaça, mas um aviso. E deves saber que a minha gente não tolerará a tua atitude.

      – A tua gente? – A mulher abanou a cabeça como se aquilo não tivesse sentido. – Se te referes à seita que está do outro lado da porta, não acho que penses que são mais do que acessórios de um crime.

      – Eu não cometi nenhum crime – defendeu-se, sem saber porquê.

      Nada na sua memória o preparara para aquilo. As pessoas não discutiam com ele nem lhe faziam acusações. Todos no acampamento o adoravam. Nunca antes estivera na presença de alguém que não o idolatrasse. E era revigorante em certo sentido. Reconhecia o desejo, mas surpreendia-se com a forma que ganhara. Queria afundar as mãos no seu cabelo bem penteado. Queria saborear aquela boca que se atrevia a dizer semelhantes coisas.

      – Segundo parece, desapareceste da cena de um acidente – continuou a mulher, sem indício de medo. – Toda a tua família acha que estás morto. Eu também achava. E, no entanto, aqui estás, bem vivo e vestido de branco. Escondido nas montanhas enquanto a confusão que deixaste para trás se complica mais com cada dia que passa.

      O Conde não pôde evitar aproximar-se dela e agarrar-lhe os braços.

      – Eu sou