afastar dos seus braços, aproximou-se mais e pôs-se em bicos dos pés de modo a que a sua cara ficasse muito mais perto da dele. – A tua esposa. Casaste-te comigo há quatro anos e deixaste-me na noite de núpcias. Não és o conde de nada. És o Leonidas Cristiano Betancur, herdeiro da Corporação Betancur. Isso significa que tens tanto dinheiro e és tão poderoso que alguém, certamente, algum membro da tua família, deve ter causado o acidente de avioneta para se livrar de ti.
A pressão das têmporas tornou-se mais forte. E sentiu uma dor aguda na base do crânio.
– Já está na hora de voltares para casa, Leonidas – continuou ela.
Talvez fosse o demónio a apoderar-se dele então. Talvez tivesse sido isso que o levou a puxá-la para ele, como se fosse realmente outra pessoa e estivesse casado com ela como garantia. Talvez tivesse sido por isso que apertou a boca contra a dela, saboreando-a finalmente. Saboreando todas as suas mentiras.
Mas esse era o problema. Um beijo e recordou tudo. «Tudo.» Quem era, como chegara até ali. Os últimos momentos daquele maldito voo e também a sua noiva linda e jovem que deixara para trás sem pensar porque era assim naquele momento, um homem formidável e concentrado.
Era Leonidas Betancur, não um maldito conde. E passara quatro anos numa cabana, rodeado de acólitos obcecados com a pureza, o que era uma ironia, pois nunca houvera nada puro nele.
E beijara a pequena Susannah, a pessoa com quem o tinham casado há anos, um movimento calculado pelos pais repugnantes dela e uma bênção para a sua própria família retorcida, porque ele sempre evitara a inocência. Perdera a dele demasiado cedo às mãos do seu pai brutal.
Leonidas inclinou a cabeça e puxou-a mais para ele, saboreando-a e possuindo-a, saqueando-lhe a boca como um possesso. Sabia a doçura e a desejo e descontrolou-se rapidamente. Pensou que se devia apenas a ter passado muito tempo. A parte de si próprio que acreditara sinceramente que era quem aqueles loucos achavam que era, a parte que desenvolvera uma consciência que Leonidas nunca tivera, disse-lhe que devia parar.
Mas não o fez. Beijou-a várias vezes. Beijou-a até toda ela se tornar suave e maleável. Até lhe rodear o pescoço com os braços e se apertar contra o seu corpo como se não conseguisse segurar-se de pé. Beijou-a até começar a emitir pequenos sons guturais.
Leonidas recordou-a com um vestido branco e rodeada de todas as pessoas que as suas famílias tinham convidado para a cerimónia na fazenda familiar dos Betancur em França. Recordou como tinha os olhos azuis esbugalhados e como parecia jovem, a virgem mártir que a besta do pai lhe entregara antes de morrer. Uma prenda como parte da aliança que beneficiava a família.
Mais uma prova de que o sangue dos Betancur estava tremendamente podre.
Mas Leonidas não se importava.
– Leonidas – sussurrou ela, afastando a boca da dele. – Leonidas, eu…
Não queria falar. Queria a sua boca, de modo que a beijou novamente. Susannah encontrara-o ali. Devolvera-o à vida. Portanto, apertou-a entre os seus braços sem afastar a boca da dele e levou-a para o quarto que, agora, desejava deixar.
Contudo, antes, Susannah devia-lhe aquela noite de núpcias. E estava disposto a tê-la, mesmo que fosse com quatro anos de atraso.
Capítulo 3
A boca de Leonidas estava na dela e não parecia capaz de recuperar daquele choque doce. Beijava-a várias vezes e a única coisa que Susannah podia fazer era render-se àquela sensação épica. Como se tivesse passado todos aqueles anos a dar tombos na escuridão e o sabor daquele homem fosse finalmente a luz.
Devia parar. Susannah sabia. Devia recuar e criar certos limites. Exigir que parasse de fingir que não se lembrava dela, para começar. Não acreditava na amnésia. Não conseguia acreditar que alguém como Leonidas, tão audaz, valente e brilhante, pudesse desaparecer.
No entanto, sempre fora o máximo para ela. Conhecia-o desde criança e, quando os pais lhe tinham dito que ia casar-se com ele, ficara emocionada. O dia do seu casamento parecera-lhe uma estrela brilhante e uma parte dela recusava-se a acreditar que um homem tão poderoso podia apagar-se tão depressa.
E antes de ter a oportunidade de lhe tocar assim, do modo que imaginara com tanto ardor antes do casamento…
Tinha de parar. Precisava de se reafirmar. Precisava de o fazer saber que a menina com quem se casara morrera no mesmo dia que ele e que, agora, era muito mais segura e poderosa do que então.
Contudo, não fez nada do que achava que devia fazer. Quando Leonidas a beijou, retribuiu o beijo, inexperiente e desesperada. Não parou para lhe explicar que tinha pouca experiência com os homens. Rendeu-se e limitou-se a saboreá-lo.
Quando Leonidas pegou nela ao colo, pareceu-lhe que era uma oportunidade excelente para fazer… alguma coisa. Fosse o que fosse. Contudo, enquanto a transportava, não parava de a beijar e Susannah percebeu que mentira a si mesma durante muito tempo.
Mal conseguia recordar a adolescente parva que fora no dia do seu casamento depois de tudo o que acontecera. Sabia que estava protegida, do mesmo modo que sabia que o pai era um banqueiro de alto nível e que a mãe alemã odiava viver em Inglaterra. No entanto, saber que estava resguardada e lidar com as ramificações da sua própria ingenuidade eram duas coisas muito diferentes. E Susannah estivera a lidar com as consequências do modo como a tinham educado, já para não mencionar as aspirações dos pais para a única filha. Com tanta pressão durante tanto tempo, era fácil esquecer a verdade das coisas.
Fora por isso que se entusiasmara com a perspetiva de se casar com Leonidas, em vez de se sentir horrorizada. Leonidas era muito bonito. Era mais velho do que ela, mas já o conhecia e, sempre que se tinham encontrado, tratara-a com muita paciência.
Susannah esqueceu tudo aquilo. Leonidas defraudara-a na noite do seu casamento e, depois, morrera, portanto, ela esquecera. Perdera-se nos escândalos e intrigas da Corporação Betancur e no drama familiar e esquecera por completo que, no que dizia respeito a Leonidas, sempre fora uma criança tola.
E, agora, voltava a sê-lo. Estava claro. Obrigou-se a dizer alguma coisa. Mas, então, deitou-a na cama do quarto do lado e seguiu-a para cima do colchão. E Susannah não se importou de ser tola. Tinham-lhe prometido uma noite de núpcias. Há quatro anos, esperava entregar a sua inocência ao homem que se tornara o seu marido, mas ficara sozinha e viúva num mar de inimigos, embora nem todos fossem assim.
Não conseguia recordar a quantidade de homens que tinham tentado seduzi-la ao longo dos anos, muitos relacionados com Leonidas, mas ela sempre se mantivera firme. Era a viúva Betancur e estava de luto. Aquela pequena ficção protegera-a quando mais nada podia fazê-lo.
– Isto atrasou-se quatro anos – murmurou Leonidas, num tom rouco, pondo-se em cima dela no colchão.
Susannah não fez nada para apoiar os pés no chão. Deixou que Leonidas a possuísse com uma alegria fervorosa que devia tê-la preocupado se fosse capaz de pensar com clareza. Mas não o fez. O que fez foi beijá-lo.
Passou-lhe os dedos pelo cabelo, puxando suavemente até lhe desfazer o coque em que o apanhara. Murmurou alguma coisa que Susannah não entendeu, mas não se importou, pois estava a beijá-la sem parar.
Quando afastou a boca da sua para lhe deixar um rasto de beijos no pescoço, ela gemeu. Depois, puxou-lhe o casaco de caxemira e Susannah endireitou-se para que pudesse tirar-lho do corpo. Leonidas fez o mesmo com o vestido, puxando-o e tirando-lho pela cabeça. Portanto, ficou deitada por baixo dele, vestida unicamente com cuecas e sutiã e as botas até aos joelhos. E o olhar de Leonidas era… selvagem.
Fez com que Susannah tremesse um pouco. Porque se sentia bela. Selvagem. E viva. Como se, depois de todo aquele tempo, fosse mais do que a mortalha que usara a modo de armadura durante tantos anos. Como se não fosse a criança com quem se casara, mas a mulher que desejava ser na sua mente.
– É o presente perfeito – declarou, como se realmente não conseguisse