num tom amargo. – Supostamente, devias estar feliz e contente. Ao fim e ao cabo, escapaste de um homem e de um casamento que não desejavas. Imaginava que me tinhas deixado plantado, porque tinhas encontrado exactamente o que procuravas.
– Podemos parar com isto? Já é bastante doloroso encontrarmo-nos novamente de surpresa para, ainda por cima, discutirmos. Ambos estamos aqui por razões mais importantes do que o nosso vínculo pessoal. Sei que temos de falar, mas não me parece que este seja o melhor momento.
Pascual não podia argumentar, embora gostasse de o fazer. Bebeu outro gole de café e deixou a chávena na bandeja.
– Vou ter contigo dentro de cinco minutos – disse. – Sem dúvida, teremos oportunidade de falar de assuntos pessoais durante o fim-de-semana. E, se parecer que não será possível, criaremos uma oportunidade. Posso garantir-te uma coisa: Não vais sair daqui antes de me contares porque fugiste de mim e do casamento. Não te deixarei ir até estar convencido de que me contaste a verdade!
Enquanto tentava conversar com Tina no hall, depois do seu encontro com Pascual, Briana continuava a tremer por dentro. Apercebeu-se de que a sua colega reparava na sua distracção. Briana orgulhava-se da sua capacidade para manter a calma na maioria das situações e, sobretudo, em assuntos de trabalho, mas ia ter de procurar no mais profundo de si mesma para encontrar recursos que a ajudassem a aguentar o resto do fim-de-semana.
Quando, segundos depois, Pascual desceu a escada, ficou com falta de ar. Se queria deixar claro que ele era o convidado VIP daquele fim-de-semana, conseguira. Vestia um casaco preto feito à medida, calças bem cortadas e uma camisa azul. Os joelhos de Briana tremeram ao vê-lo. Sempre parecera incrível com fato. Elegante, muito masculino, elegante sem esforço, tão bonito e sexy que uma mulher esquecia tudo assim que punha os olhos nele, fosse qual fosse a sua idade ou o estado civil!
Não a surpreendeu que Tina se inclinasse para ela para lhe sussurrar ao ouvido.
– Meu Deus! É o homem mais fantástico que vi em toda a minha vida. Temos sorte por ser o cliente VIP.
«Sorte?» Briana não teria descrito assim o que sentia, quando Pascual lhe lançou um olhar desdenhoso, avisando-a de que ainda não acabara com ela.
– Senhor… Domínguez… A sua reunião é por aqui. Por favor, siga-me.
Conduziu-o até à sala elegante onde esperavam três homens de negócios. Levantaram-se em uníssono ao vê-lo. Num tom de voz trémulo, Briana fez as apresentações. Foi óbvio o alívio dos três homens ao verem Pascual e percebeu imediatamente a deferência com que o tratavam. O seu ex-noivo sempre conseguira essa reacção das pessoas. A sua atitude, quase aristocrática, aliada à sua beleza sensacional, garantia-lhe atenção imediata em qualquer lugar que fosse.
Briana descobriu que o impacto que exercia ao entrar numa divisão não diminuíra um ápice naqueles cinco anos. Perguntou o que Tina diria se descobrisse que o argentino bonito e rico era o pai de Adán. Ela própria achava difícil de acreditar. Parecia-lhe que passara uma eternidade desde que o seu romance intenso e apaixonado acontecera. Uma eternidade solitária e manchada de dor.
– Pode trazer-nos mais café e talvez brande, querida? – disse Steve Nichols a Briana, levando-a para um canto. Era director de uma agência publicitária, com sede em Soho e, há pouco tempo, co-proprietário, com os seus dois colegas, de um picadeiro situado em Windsor.
Ela, olhando para os seus olhos azul-claros, a pele pálida e brilhante, sentiu um calafrio de desagrado. Infelizmente, conhecia os do seu tipo. Embora estivesse numa viagem de negócios, considerava que podia seduzir qualquer mulher razoavelmente atraente entre os dezasseis e os quarenta anos de idade. Briana teria de ter muito cuidado. O facto de as suas qualificações empresariais serem impecáveis, não significava que as suas maneiras e comportamento com as mulheres seguissem a mesma pauta.
Com Pascual, um empresário de alto nível que vendia uma coisa que ele desejava, seria lisonjeiro e diferente. Mas podia transformar-se num problema para Tina e para ela.
– É claro. Desejam mais alguma coisa? – perguntou Briana. Esperou até que todos dissessem que café e brande bastariam no momento.
– Volta depressa, querida – sussurrou Steve Nichols, piscando-lhe um olho. Ela percebeu o olhar desaprovador de Pascual e corou. Rogou a Deus para que não pensasse que estava a dar azo à sedução.
A reunião durou três horas, quase até à hora do jantar. Os anfitriões tinham pedido que o jantar fosse proporcionado por um excelente restaurante local. Briana e Tina atenderam os supervisores do catering na enorme cozinha, enquanto os empresários se retiravam para os seus aposentos para se refrescarem.
Briana agradeceu o facto de poder concentrar-se nos aspectos práticos do seu trabalho e livrar-se assim da maré de ansiedade e emoção que a assolava desde que vira Pascual. «Não poderás evitá-lo o tempo todo», pensou. Mais cedo ou mais tarde, exigiria explicações pela sua forma inesperada e abrupta de sair da Argentina.
Exigiria um relato completo da razão por que se fora embora.
A verdade era que as suas razões para se ir embora continuavam a causar-lhe dor, apesar do passar dos anos. Na verdade, às vezes pensava que a perseguiriam para sempre, arruinando qualquer possibilidade de ser feliz com outro homem… Embora nem sequer quisesse estar com outro homem. Pascual não podia ter nenhuma confiança nela, depois do que se passara. Perguntou a si mesma se acreditaria quando lhe explicasse toda a verdade.
Já a meio da noite, depois de o sol se pôr, Tina saiu da sala de jantar privada, com vista para os jardins já escondidos por trás das pesadas cortinas de veludo. Briana levantou-se da poltrona ao vê-la.
– Como estão a correr as coisas lá dentro? Todos contentes? – perguntou.
– A comida tem um aspecto fantástico! Estão a gostar muito. Mas o nosso argentino deslumbrante parece aborrecido. Na verdade, parece que preferiria estar noutro lugar.
Briana sentiu um nó no estômago. Assuntos pessoais à parte, se Pascual parecia aborrecido, os empresários que tinham contratado os serviços da sua empresa deviam estar incomodados e sentia-se responsável. De alguma forma, tinha de salvar a situação.
– Estava a pensar que talvez queiram sair depois. Na cidade, há um clube privado com casino. Telefonei e adorariam receber os nossos clientes.
– Boa ideia! Porque não entras para lhes dizer? – perguntou Tina, piscando-lhe um olho. – Certamente, preferirão ouvir a notícia dos teus lábios. Percebi que não tiram os olhos de cima de ti, sobretudo, o divino senhor Domínguez!
– É imaginação tua.
– Só sei que se tivesse metade da beleza que tu tens, Briana Douglas, tiraria o maior partido possível. Todos os homens que estão a jantar ali dentro são milionários e o senhor Domínguez, o mais bonito de todos, é multimilionário! Nunca sonhaste que um homem vergonhosamente rico e bonito se apaixonaria por ti e se casaria contigo?
Briana ter-se-ia rido se a ironia do comentário da colega não a magoasse tanto. Levou a mão à face com um ar de indiferença. Depois, esticou o casaco de veludo preto, que vestia sobre uma blusa de seda branca e alinhou-o com a cintura da saia a condizer.
– Irei falar com eles. Enquanto isso, Tina, podes ir buscar-me uma chávena de café e uma sandes à cozinha? Não me apetece jantar esta noite. Importas-te?
– Estás louca, não vais provar a comida fantástica do catering? Trouxeram também para nós, suponho que sabes.
– Podes comer a minha parte.
Briana dirigiu-se para a sala de jantar, pensando que já ia custar-lhe muito comer uma sandes. Tinha um nó no estômago, que se apertava cada vez que pensava em manter uma conversa privada com Pascual. Inquietava-a ainda mais pensar no filho, a criança que ele não tinha consciência de ter concebido antes de ela abandonar a Argentina a toda pressa. Um homem com a riqueza e o estatuto social de Pascual poderia tirar-lhe Adán num abrir e fechar de olhos, se essa fosse a