Barbara Cartland

A Duquesa Impetuosa


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      A DUQUESA IMPETUOSA

      Barbara Cartland

      Barbara Cartland Ebooks Ltd

      Esta Edição © 2020

      Título Original: “The Impetuous Duchess”

      Direitos Reservados - Cartland Promotions 2020

      Capa & Design Gráfico M-Y Books

       m-ybooks.co.uk

       NOTA DA AUTORA

      O homem, vivendo atarefado na era da mecanização, perdeu de vista a fé que sempre orientou os povos primitivos.

      Quem viveu entre os nativos, na África, Índia ou em outras partes isoladas do mundo, compreendeu que esses nativos conseguem realizar verdadeiros milagres porque acreditam no poder da mente e em seus deuses.

      Mas nem mesmo um feiticeiro, na África, pode evitar que uma pessoa morra se essa pessoa já pôs em sua mente que morrerá. Os vodus da América do Sul podem ensinar muitas coisas extraordinárias àqueles que se dispuserem a ouvi-los.

      Os soldados que serviram na Índia no tempo do domínio inglês foram testemunhas de que muitos indianos tinham o poder de saber que um parente havia morrido, estando a centenas de quilômetros de distância.

      O que esses povos usam é seu instinto, ou o que os egípcios chamam de «terceiro olho». Muito do que chamamos de «clarividência» é apenas o instinto que todos nós temos e que, se desenvolvido e usado corretamente, pode nos servir de inspiração e proteção.

       CAPÍTULO I 1803

      —Com licença, Sua Graça.

      O Duque de Warminster levantou os olhos do livro que estava lendo enquanto comia.

      Parado na porta de sua saleta particular na hospedaria postal estava seu segundo-cocheiro, torcendo um tanto timidamente o chapéu entre as mãos.

      —O que é, Clements?

      —O tempo está piorando, Sua Graça, e o Sr. Higman acha que seria melhor não demorarmos muito. Ele ficou sabendo que é uma boa distância até a próxima estalagem onde podemos trocar os cavalos e passar a noite.

      —Muito bem, Clements. Não demoro mais do que alguns minutos.

      O segundo-cocheiro curvou-se e saiu da saleta.

      O Duque fechou o livro, relutante, e pegou o cálice de vinho inferior, o melhor que podia obter naquela hospedaria.

      Não tinha sido uma boa refeição: o carneiro estava duro e não havia variedade de pratos.

      Mas o que se podia esperar numa parte tão rústica do país, nessa época do ano em que pouca gente importante viajava?

      O Duque sabia que era bastante desusada, para alguém de sua importância, a decisão de viajar à Escócia quando ainda havia neve no chão e o tempo, para dizer pouco, era instável.

      Mas ele tinha ficado muito ansioso para discutir com o Duque de Buccleuch, no Palácio Dalkeith, alguns Manuscritos que tinha descoberto recentemente em Warminster e que atestavam a ligação entre as duas famílias no reino de Henrique VIII.

      Tinha, portanto, desafiado os elementos e sua coragem fora recompensada com uma viagem tranquila até Edimburgo.

      Havia passado algumas noites no castelo de Edimburgo e prosseguido, depois, ao encontro do Duque de Buccleuch em seu palácio, para várias discussões longas, eruditas, concentradas, que haviam deliciado a ambos.

      —Warminster é jovem— a Duquesa de Buccleuch disse ao marido—, jovem demais para passar o tempo debruçado sobre livros empoeirados quando devia era estar olhando as mulheres.

      —Sua Graça não considera a vida social contemporânea tão atraente quanto a história passada— o marido respondeu com um sorriso.

      A Duquesa, no entanto, fizera todo o possível para que o Duque de Warminster se interessasse por sua filha mais nova, uma jovem agradável com considerável talento para a música e a pintura.

      O Duque, extremamente polido, deixou bem claro que seu único propósito ao visitar o Palácio Dalkeith era conversar com o proprietário.

      E partira de retorno ao lar, bem satisfeito com o resultado da visita, convencido de que, como já estavam no começo de abril, dava para sentir a primavera no ar.

      Nos últimos dias, porém, ventos sem precedentes haviam sacudido perigosamente a carruagem do Duque nas estradas de terra, muito escorregadias devido as nevadas recentes.

      O Duque, no entanto, mergulhado demais em seus livros, não dava atenção a esses desconfortos insignificantes.

      Tinha ficado no Castelo Thirlstone com o Conde de Lauderdale e algumas noites em Floors, o magnífico edifício construído em 1718 por Vanburgh.

      Agora não tinha mais visita a fazer e não havia mais onde se hospedar convenientemente antes de cruzar a fronteira.

      Como era de se esperar nessas ocasiões, os criados do Duque resmungavam, reclamando dos desconfortos da viagem, muito mais que o próprio patrão.

      Verdade que a segunda carruagem, onde viajava o valete do Duque, acompanhando a bagagem, contava com certos confortos não disponíveis a personagens menores.

      Sua Graça, em viagem, levava sempre seus próprios lençóis de linho, cobertores de lã de carneiro e seus travesseiros especiais de plumas de ganso.

      Havia também algumas garrafas de excelente clarete e de conhaque, que apesar de sacudirem muito na viagem, eram sempre bastante melhores que tudo o que se podia comprar nas estalagens locais.

      Era uma pena que, ao parar no Grouse and Thistle ao meio-dia, a segunda carruagem tivesse ficado para trás.

      A culpa era, sem dúvida, de Higman, o primeiro-cocheiro do Duque que insistira em pegar os melhores cavalos para si mesmo, deixando apenas montarias inferiores para a segunda-carruagem.

      —Eu disse para Sua Graça, antes de começar a viagem— protestava o terceiro-cocheiro—, que não se pode nem pensar em conseguir cavalos decentes num país atrasado como a Escócia. Mas acha que Sua Alteza deu ouvidos? Não!

      Era uma coisa que os outros criados estavam cansados de ouvir desde a partida de Warminster.

      Apesar de inferiores, os cavalos certamente pareciam imunes à dureza das estradas e ao frio cortante do vento que teria perturbado, senão incapacitado totalmente, cavalos do sul, que não estavam acostumados àquele clima.

      O Duque terminou o vinho, levantou-se da mesa e cruzou a sala para pegar o casaco forrado de pele com que sempre viajava.

      Quando ia vesti-lo, a porta tornou a se abrir e uma criada de touca, que ele achava ser filha do dono da estalagem, entrou e fez uma cortesia.

      —Tenho um pedido a fazer a Sua Graça— ela disse com pesado sotaque escocês.

      —O que é?— o Duque perguntou, vestindo o casaco com dificuldade, sem a ajuda do valete.

      —Tem uma velhinha, Sua Graça, que solicita a sua gentileza de levá-la até a próxima estalagem postal. Houve um acidente com a carruagem dela e não tem jeito de chegar lá sem a ajuda de Sua Graça.

      O Duque interrompeu o abotoamento do casaco.

      Ele tinha sérias objeções a viajar de carruagem acompanhado, quanto mais por um estranho.

      Gostava de ler enquanto viajava, ou simplesmente meditar calmamente, em silêncio, os muitos projetos que tinha em andamento em suas propriedades.

      A mera ideia de precisar manter uma conversação ou ouvir alguém falando durante as longas milhas que ainda tinha de viajar até a próxima estalagem postal o encheu de desânimo.

      —Certamente— ele disse esperançoso—, deve haver algum outro jeito de essa senhora chegar ao seu destino.

      —Não,