de minha carruagem e, para ser franco, não gostaria de me ver envolvido em nenhum escândalo...
—Não existe nada disso!— ela disse depressa.
Um tanto depressa demais!
—Tem certeza?— o Duque perguntou—, talvez seja melhor eu mandar a carruagem voltar. O seu veículo já deve estar sendo consertado e pode esperar na estalagem até que esteja pronto.
A moça pensou por alguns instantes.
—Se lhe contar a verdade, promete me ajudar?
—Não posso fazer tal promessa— foi a resposta—, mas, digamos que serei complacente.
—Isso não basta!
—Não posso oferecer mais do que isso.
Novo silêncio.
—Eu... eu fugi!
—Eu já tinha desconfiado— o Duque observou.
—É assim tão óbvio?
—Damas, mesmo que sejam escocesas, não viajam desacompanhadas e não pedem carona a estranhos!
A jovem não respondeu e o Duque prosseguiu:
—Está fugindo da escola?
—Não, claro que não! Tenho dezoito anos e já sou adulta! Na verdade, eu nunca estive na escola.
—Então está fugindo de casa?
—É.
—Por quê?
Ela hesitou.
—Devo insistir em saber toda a verdade— o Duque disse—, e será mais fácil se contar de livre e espontânea vontade, sem que eu tenha de forçá-la. Que tal se começar por me contar seu nome?
—Jacobina.
—Evidentemente faz parte da seita dos jacobinos.
—Claro!— ela concordou—, e toda a minha família também. Meu avô morreu na Rebelião de 45.
—E agora o jovem pretendente, Charles Stuart, está morto também— disse o Duque—, é impossível continuar batalhando por um Rei que não existe mais.
—O irmão dele, James, ainda está vivo!— a garota respondeu, depressa—, e se acha que vamos reconhecer aqueles descendentes de alemães que estão em Londres como nossos legítimos monarcas, o senhor está muito enganado!
O Duque sorriu para si mesmo.
Ele sabia muito bem como grande parte dos escoceses era leal à família real Stuart e não podia deixar de admirar essa coragem. Os ingleses nunca tinham conseguido destruir a persistente e obstinada adoração que tinham pelo querido Príncipe Charles.
—Muito bem, Jacobina— ele disse—, continue sua história.
—Me chame de Jabina— pediu—, Jacobina é muito explícito, mas foi assim que fui batizada e tenho muito orgulho do nome.
—Acredito! Mas você acha que aqueles que a batizaram teriam orgulho de você neste momento? Imagino que devem estar à sua procura.
—Não vão conseguir me encontrar— Jabina garantiu, firme.
—Comece do começo— o Duque usou aquele tom de comando que seus criados conheciam bem.
—Não quero falar disso!— Jabina protestou.
—Sinto muito, mas vou ter de insistir em saber as razões de sua fuga. Senão, levo-a de volta para a estalagem, não tenha dúvida.
Ela olhou para ele com grandes olhos interrogativos.
—Eu acredito que seria mesmo capaz de uma coisa horrível dessas!— ela disse—, o senhor é um Sassenach. E eu sempre soube que não se pode confiar num Sassenach!
—Mas confiou em mim!— o Duque respondeu—, está em minha carruagem e, portanto, sou responsável por você. Pelo menos por enquanto. Do que é que está fugindo?
—Do… do casamento!— ela disse, baixo.
—Está noiva?
—Papai pretendia anunciar o noivado na semana que vem.
—Disse a seu pai que não queria se casar?
—Disse… mas ele não me deu ouvidos.
—Porquê?
—Ele gosta do homem que escolheu para mim.
—E você não gosta?
—Eu o odeio!— Jabina disse, feroz—, ele é velho, chato, desagradável!
—Que acha que seu pai vai fazer quando descobrir que você desapareceu?— o Duque perguntou.
—Vai sair correndo atrás de mim com milhares de membros do clã, brandindo seus espadões.
—Milhares?— ele achou graça—, não acha que está exagerando?
—Posso estar exagerando— Jabina respondeu—, mas tenho certeza de que papai vai me procurar e que vai ficar furioso.
—Não é nenhuma surpresa!— o Duque observou—, no que me diz respeito, não tenho a menor intenção de me ver envolvido em seus problemas matrimoniais. Devemos chegar à próxima estalagem postal antes do entardecer. A partir daí, vai ter de se virar sozinha.
—Não lhe pedi que me levasse adiante!— Jabina disse—, a próxima estalagem fica perto da fronteira e uma vez em território inglês posso pegar uma diligência para Londres.
—Que pretende fazer em Londres?— ele quis saber.
—Não vou ficar lá— Jabina respondeu—, estou a caminho da França. Agora que a guerra com Bonaparte acabou, posso ficar com minha tia, a irmã de mamãe. Ela é casada com um francês e mora perto de Nice.
—Já informou sua tia dessa sua decisão?
—Não, mas ela vai ficar muito contente de me ver... eu tenho certeza. Ela adorava mamãe, mas nunca se deu bem com meu pai.
—Sua mãe já morreu?
—Morreu há seis anos. E eu sei que ela nunca permitiria que papai me forçasse a casar com um homem que odeio.
—Acredito que a maioria das moças não tem escolha no que diz respeito a casamento— depois, tentou confortá-la—, estou certo, Jabina, de que seu, pai deve saber o que é melhor para você.
—É o tipo de coisa que eu esperava que dissesse— Jabina disse, desdenhosa—, o senhor é exatamente igual a Lorde Domach!
—Lorde Domach?— o Duque perguntou—, é esse o nome do seu noivo?
—O senhor o conhece?
—Não. Mas me parece um bom casamento e é isso que a maioria das moças deseja.
—Não é o que eu desejo— Jabina estava irritada.
—Lorde Domach é rico?
—Acho que é muito rico— Jabina respondeu—, mas mesmo que viesse coberto de diamantes da cabeça aos pés eu não o desejaria. Já lhe contei que ele é velho e maçante. Não seria surpresa se ele me prendesse numa das masmorras do castelo e me batesse até a morte!
—Seu problema— começou o Duque—, é que tem uma imaginação muito fértil.
—É exatamente o que diz o meu pai.
—E o que mais diz o seu pai?
—Diz que sou impetuosa, impulsiva, instável e muito necessitada de uma mão forte e segura para me guiar!— Jabina citou, a voz abalada.
—Imagino que deva ser uma descrição bastante exata— o Duque observou secamente.
Jabina