Heidi Rice

Esperanças ocultas - Amores e mentiras


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o nome de Tony.

      – Isto não tem nada que ver com o Tony. Esqueci-me dele há anos.

      – Sim, eu sei, mas estás há seis anos a penitenciar-te por isso.

      – Não sei do que estás a falar.

      – Sabes sim – a amiga suspirou. – Quando foi a última vez que usaste um vestido?

      – Não gosto de vestidos, não me ficam bem.

      – Por favor... quando foi a última vez que pintaste os lábios? Ou que saístes de Londres? Ou que namoriscaste um rapaz? Porque é que tens vergonha de ter beijado Mac Brody? É o sonho de todas as mulheres... – Daisy inclinou a cabeça, como quem aguça o ouvido. – Ah, o Ronan acordou. Mas não te vás embora, assim que lhe der de mamar, continuamos a falar sobre o teu vestido de dama de honor. E quando finalmente conhecer o Mac vou dar-lhe um abraço por ter feito a minha melhor amiga sentir-se uma mulher outra vez.

      Juno resmungou enquanto Daisy saía da cozinha para cuidar do filho.

      Como se o beijo de Brody não fosse suficiente, as palavras da amiga faziam-na sentir-se como se tivesse um problema psicológico.

      Suspirando, enterrou o rosto entre as mãos e fechou os olhos enquanto ouvia Ronan a chorar pelo monitor. Juno imaginou Daisy sentada na cadeira de balouço branca enquanto o amamentava e, de repente, sentiu o coração encolher-se.

      O que se passava com ela? De onde saíra aquele ridículo anseio, aquela sensação de vazio?

      E se Daisy tivesse razão? Sobreviveu ao que aconteceu seis anos antes, mas como podia dizer que o tinha superado se se estava a esconder desde então?

      Por isso beijar Mac Brody fora tão espetacular. Após seis anos a fingir que não sentia o menor interesse pelo sexo oposto, com um único beijo tinha recordado o que estava a perder. E, ao mesmo tempo, foi confrontada com a sua própria vida. Não apenas sensata, prudente e ordenada, mas também terrivelmente vazia e aborrecida.

      Juno olhou para os restos do pequeno almoço que Connor e Daisy tinham partilhado na mesa do pátio, à sombra de um salgueiro. E, de novo, voltou a sentir uma pontada de inveja.

      Mantivera-se à margem durante o último ano, vendo Daisy encontrar o amor da vida dela, e talvez estivesse na altura de dar um passo em frente e admitir que sobreviver já não era suficiente, que vestir-se como um rapaz e tornar-se uma freira deixara de ser útil. Seria assim tão terrível admitir que queria algo mais?

      Ouviu então Daisy cantar uma canção de embalar ao filho e sentiu um calafrio de emoção.

      Podia continuar a ser prática e sensata, mas por que motivo não iria deixar que Daisy lhe desenhasse o vestido de dama de honor? Até então resistira, porque temia que lhe fizesse algo exageradamente feminino... claro que dada a propensão de Daisy para os vestidos exagerados e a esperança que tinha de que ela voltasse a sair com algum homem, a precaução de Juno era perfeitamente justificada.

      Mas já não havia justificação possível. Tinha que parar de ser uma covarde e começar a viver novamente.

      E se podia beijar uma estrela de Hollywood no aeroporto de Heathrow e sobreviver a isso, também podia deixar que a melhor amiga lhe desenhasse um vestido. Especialmente se lhe deixasse claro que queria um vestido simples e discreto.

      Na verdade, o que poderia acontecer?

      – Daisy, não sei o que dizer – Juno olhava-se ao espelho, atónita, o vestido de cetim cor de bronze acariciava-lhe curvas que não acreditava possuir antes. – É quase como estar nua. Não posso entrar na igreja com isto... o padre ia ter um ataque cardíaco.

      Daisy soltou uma gargalhada.

      – O padre não vai ter um ataque, não te preocupes – respondeu, inclinando a cabeça para observar a sua criação. – Mas talvez tente namoriscar contigo. Afinal de contas, é francês.

      – Tenho peito! – exclamou Juno. – Quem diria?

      – Eu disse-te que a roupa interior para profissionais do sexo fazia maravilhas – comentou Daisy, muito tranquila. – Estás sensacional, mas a questão é: como é que tu te sentes? Gostas?

      Juno deu uma volta em frente ao espelho para ver o decote das costas. Nunca vestira algo tão bonito em toda a sua vida... ou tão revelador.

      O cabelo encaracolado que lhe dava pelos ombros, o brilho nos lábios e o rímel nas pestanas faziam com que as feições dela, que sempre lhe tinham parecido normais, parecessem exóticas. E a sua figura, normalmente escondida por várias camadas de roupa, parecia esbelta com o vestido de cetim cor de bronze.

      Daisy fizera com que se sentisse sexy pela primeira vez na vida, mas teria coragem para usar aquele vestido? Quando decidiu exibir a sua feminilidade não pensara mostrar-se tão liberta.

      – Sinto-me uma pessoa diferente.

      – Diferente no bom ou no mau sentido?

      – Tenho medo, mas a verdade é que adoro – confessou-lhe Juno por fim.

      Daisy sorriu.

      – Fico muito feliz. E é normal que tenhas um pouco de medo, vais fazer parar o trânsito. Mas lembra-te: não podes roubar-me todas as atenções. E não deves chorar ou o rímel vai escorrer-te pela cara e parecerás um guaxinim.

      Juno soltou uma gargalhada.

      – Não chorarei, não te preocupes.

      Nunca se sentira tão jovem e alegre.

      Juno apertava o ramo de flores enquanto tentava concentrar-se nas palavras do padre. Os ramos de lírios brancos perfumavam o ar da igreja enquanto Daisy e Connor pronunciavam os votos matrimoniais com uma voz clara e o elaborado corpete do vestido de noiva brilhava sob o sol que entrava pelos vitrais, fazendo com que ela parecesse uma princesa de conto de fadas.

      Juno passou a mão pela saia do seu vestido e sorriu, contente. Deixara de acreditar em finais felizes havia muito tempo mas, estar ali, a ver a melhor amiga casar-se, fazia com que tudo parecesse possível.

      Daisy esforçara-se muito para que a sua relação com Connor funcionasse e encontrara o homem dos seus sonhos. Mas, na opinião dela, os homens como Connor eram muito raros e devia lembrar-se disso para não se emocionar demasiado.

      Juno franziu o sobrolho quando a voz do padre foi afogada por um coro de tosses e sussurros. De repente, sentiu a pele arrepiada e teve a sensação de que alguém a observava. E quando arriscou olhar por cima do ombro... o coração parou-lhe durante uma fração de segundo.

      Era ele.

      Não, não podia ser, era impossível.

      Pestanejou furiosamente, convencida de estar a ter alucinações. Mas não era assim. O homem que fora a estrela de demasiados sonhos durante as duas últimas semanas acabava de entrar na igreja e estava a olhar diretamente para ela.

      – Connor, é o Mac. Ele veio – ouviu Daisy dizer. O sacerdote aclarou a garganta, incomodado com a interrupção. – Excusez-moi, monsieur – desculpou-se ela apressadamente. – Um momento, por favor, chegou uma pessoa muito importante – disse depois, apertando a mão de Connor. – Vem, temos que lhe dar as boas-vindas.

      Juno ficou onde estava, a ver Daisy levantar o vestido de noiva para descer os degraus do altar e abraçar Mac Brody. Pareceu-lhe que ele ficou um pouco tenso e, quando finalmente Daisy o soltou, os dois irmãos apertaram a mão. Não conseguia ouvir o que diziam, mas não lhe passou despercebida a postura rígida de Brody.

      Mordendo os lábios, Juno viu que ele se aproximava do banco dela. Mas não ia deixar que a intimidasse, pensou. Ela não era aquela criança ingénua e inexperiente que ele beijara no aeroporto. Agora era mais forte, mais sofisticada. Ou, pelo menos, parecia-o.

      – Não vais acreditar em quem chegou. Juno, parece-me que já conheces