Aldivan Teixeira Torres

O Encontro Entre Dois Mundos


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de cada um durante a vida:Inferno, céu e cidade dos homens. Mas a vida continuava de uma forma ou de outra.

      Continuamos a caminhar.Avançamos na trilha e ,em dado momento ,Angel pede para pararmos. Ele pede a mochila emprestada, tira a garrafa d’água e bebe um pouco. Pede que façamos o mesmo. Aproveitamos o intervalo para conversar um pouco sobre assuntos gerais. Quando nos recuperamos totalmente, retomamos a trilha. Caminhamos mais um bom tempo sem perguntas ou questionamentos. Apenas seguindo os passos do mestre atual assim como fizemos das outras vezes. Depois de mais de uma hora de caminhada, temos acesso a uma pequena fileira de casas, cerca de cinquenta, separadas umas das outras. Continuamos seguindo nosso mestre e ele nos leva a uma casa simples, de alvenaria, estilo casa, e de no máximo cinquenta metros quadrados. Ele bate à porta, esperamos um pouco, e de dentro sai uma senhora bem idosa, baixa, cabelos pretos e olhos castanhos claros. Ela se mostra surpresa, se aproxima com dificuldade, e ao chegar mais perto dá um grande abraço em Angel. Ela nos convida a entrar, nós aceitamos e ficamos um tempo sem entender até que são feitas as apresentações.

      —Marcela, estes são meus discípulos:Aldivan, o vidente, (neto do nosso companheiro Vitor) e Renato. Trouxe-os aqui para que pudesse conhecê-los e conversar um pouco com eles. Marcela era uma das integrantes do nosso grupo de justiceiros— Explicou Angel.

      —Muito prazer, Marcela. (Respondemos em coro)

      —O prazer é todo meu, queridos. Quer dizer então que estão se submetendo a um treinamento com Angel? Estão de parabéns pela coragem. Certamente o que aprenderem serão de grande valia para o resto de suas vidas. Hoje, está tudo mais fácil. Antigamente, não, tivemos que batalhar muito para conseguir alguns avanços. (Constata Marcela)

      —Poderia nos contar um pouco sobre sua época? (Pergunto)

      —Um pouco. Prefiro lembrar apenas das coisas boas e das conquistas. Eu, Angel, Vitor, Rafael, Penelope, Cardoso e outros formávamos um grupo de justiceiros contra a demanda das elites da nossa época. Lutávamos contra as injustiças em geral, em defesa dos pobres, dos excluídos e dos marginalizados. Atuamos um bom tempo, conscientizamos a população em geral e alcançamos vitórias e derrotas. Mas era um tempo cruel, de repressão e só depois de muito tempo tivemos resultados concretos. O mais importante é que fomos felizes ou quase todos.

      Após dizer isso, uma leve expressão de tristeza no rosto já enrugado de Marcela apareceu. Sentimos o clima um pouco pesado.

      —Desculpe-me por fazê-la sofrer. Não sabia das suas mágoas. (O vidente)

      —Tudo bem. Faz parte. E você meu jovem, está gostando do passeio ao sítio? (Referindo-se a Renato)

      —Estou. Apesar de que não considero um passeio e sim um trabalho junto ao meu companheiro de aventuras—Respondeu ele.

      —Marcela, poderia lhes falar da sua experiência do “Entendimento” e auxiliá-los em sua busca? (Solicitou Angel)

      —Claro. No entendimento, cada experiência é única e faz brotar no nosso íntimo uma verdadeira contrição, uma vontade de se abrir completamente a luz. Ele nos faz ter uma visão ampla de nossa vida pessoal, do próximo e a melhor maneira de agir. Quando conquistamos o entendimento, temos um poder amplo para direcionar nossas vidas da forma mais adequada. O conselho que eu dou é que não tenham medo de arriscar ou das consequências pois é melhor se arrepender do que fez do que nunca tentar. Boa sorte para os dois. (Respondeu a mesma)

      —Obrigado. A admiramos por fazer parte do grupo dos justiceiros, seres lendários do nordeste e meditaremos nas suas orientações. Muito obrigado por tudo. (Eu, o vidente)

      —Faço das minhas palavras as suas. (Renato)

      —Tudo bem. Podem ir. Continuem andando na direção sudoeste. O desafio se apresentará para vocês. Eu vou ficar um pouco mais conversando com minha amiga Marcela. Encontramo-nos em casa, mais tarde. (Angel)

      Obedecemos ao mestre, nos despedimos da nossa nova amiga e saímos da sua casa. Já fora, pegamos a mesma trilha novamente. O que aconteceria? Continue acompanhando, leitor.

      O retorno à trilha fez aflorar novamente em mim a ansiedade, a inquietação e as preocupações de sempre, referente a minha vida pessoal e profissional. Além disso, a todo instante me pergunto sobre o futuro. Em certa ocasião, a pressão é demais e peço para Renato que paremos um pouco. Ele concorda, nos hidratamos, comemos um lanche e traçamos os nossos planos. Quando nos recuperamos, retomamos a caminhada. Nossos passos nos levam a paisagens desconhecidas e maravilhosas e aproveitamos para tirar algumas fotos. O ambiente era tranquilo e aconchegante e nada nos levava a crer que há cerca de oitenta anos atrás aquele mundo era um mundo de violência e autoritarismo, mas era o que a história registrara. Cabia a nós como aventureiros que éramos descobrir pouco a pouco os detalhes.

      Continuamos caminhando, relaxamos um pouco e concentramos apenas no objetivo atual. Acerto os últimos detalhes com Renato, apertamos o passo avançando cada vez mais. No caminho, passamos por um jardim frutífero e aproveitamos para sentir um pouco o gosto da liberdade alcançada até o momento. Subimos nas árvores como crianças, nos balançamos, derrubamos frutas deliciosas, descemos e nos alimentamos. Enfim, nos sentimos felizes. Um tempo depois, observamos o horário e resolvemos voltar a caminhar na mesma direção de sempre.

      Depois de uma longa caminhada de duas horas, finalmente chegamos ao centro do sudoeste do sítio. Sentamos no chão e esperamos um sinal. Porém, passam mais de quinze minutos e nada acontece. O que estava acontecendo? Que peça o destino estava nos pregando? Não seria possível que tínhamos tido tanto trabalho para nada.

      Sem resposta, conversamos um pouco e Renato me propõe uma oração que aprendera com a guardiã, direcionado a um santo anônimo, desatador dos nós. Aceito por me parecer a única alternativa viável. A oração é a seguinte: “Queridíssimo santo desatador dos nós, eu vos peço que nos sirva de intercessor junto ao senhor dos exércitos para que ele nos mostre um caminho seguro a fim de nos mostrar o nosso destino. Prometo que serei teu ardoroso fiel hoje e sempre. Com atenção, um aventureiro. Amém.”

      Depois de proferir a oração com fé, ficamos na expectativa. Cinco minutos depois, escuto uma voz interior a dizer-me: Dobres a direita e encontrarás o que precisa. Mesmo sem querer acreditar, peço para Renato esperar enquanto vou fazer xixi. Dobro a direita. Imediatamente, o mundo escurece, trevas e luz se aproximam, e meus estigmas são despertados. Sofro bastante, choro, grito, perco totalmente o controle. Enquanto isso, ocorre uma batalha rápida diante de mim entre um anjo e um demônio. Caio em terra e a única opção que tenho é torcer para que tudo terminasse bem.

      Depois de um período de espera, o bem finalmente vence e o anjo se aproxima de mim. Ao chegar bem perto, fico ofuscado com sua luz e tenho que fechar os olhos. Ele encosta em mim e diz: —Toque-me. Obedeço e o contato me faz ter uma visão bem rápida: “Vejo um homem idealista e corajoso chamado Romão, habitante da Ásia menor, proprietário de terras num momento crucial de sua vida. O mesmo tinha oitenta anos,viúvo,fora casado com uma mulher maravilhosa chamada Cris durante cinquenta anos em plena comunhão e amor. Do relacionamento, tiveram cinco filhos que por ironia do destino também já eram falecidos. Há dez anos vivia sozinho, apenas acompanhados por empregados e por colonos que trabalhavam em suas terras. Mesmo com todas as perdas de sua vida, vivia feliz em sua propriedade, e não negava ajuda a ninguém. Em certo dia, realizando exames de rotina, ocorreu que descobriu que era portador de uma doença grave. Mesmo com a má notícia, não se revoltou. Começou a preparar-se para a despedida. Reuniu seus amigos mais próximos e empregados, deu uma grande festa e no final entregou a cópia de seu testamento juntamente com seu advogado. No texto, repassava todos os seus bens a cada um deles, em partes iguais. Emocionados, todos o abraçaram e ficaram muito contentes pois eram pobres e tristes pela iminente perda do amigo pois o que era dinheiro diante de anos de compreensão, apoio e cumplicidade? Aproveitaram o momento e declaram o seu amor por ele. Quando acabou a festa, todos se despediram. No outro dia, Romão foi encontrado morto, foi enterrado e hoje vive em paz, com espíritos evoluídos do céu.