Aldivan Teixeira Torres

O Encontro Entre Dois Mundos


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      No instante seguinte, a emoção do momento me faz entrar em transe e ter uma visão rápida:Matheus,era um jovem ingênuo,educado,inteligente,com bons dotes pois era filho de comerciantes da cidade do Recife. A época em que vive é o século XVIII,época rica mas cheia de mistérios e incompreensões. O mesmo tem vários amigos, arranja várias namoradas indicadas pelo pai, mas não tem afinidade com nenhuma e resolve inicialmente não se casar apesar da insistência da família pois acredita no amor verdadeiro. Sua decisão é respeitada apesar dos critérios rígidos da época. Mas um belo dia encontra Margareth, uma jovem estrangeira, na escola .Os dois saem,conversam,se apaixonam e depois dum tempo de convivência comunicam aos seus pais. O casamento é aceito e no dia é uma grande festa. Depois da cerimônia de casamento, e com uns trinta dias de casados Margareth revela um segredo ao esposo: Era feiticeira e tinha contrato com as “trevas”, mas mesmo assim o amava. Entre surpreso e decepcionado, Matheus reflete um pouco e decide não deixá-la pois a amava como a si mesmo. Só pediu discrição para que a mesma não fosse pega pelo tribunal da inquisição. Margareth prometeu que tomaria as devidas precauções. Passaram-se três anos em levantar suspeitas. Porém, um belo dia foi descoberta, presa, julgada, e dias depois esquartejada em praça pública e finalmente morta. Matheus só acompanhou de longe, com medo de ser acusado de cúmplice. Depois disso, o mesmo entrou em depressão grave, se afastou da sociedade e chegou até a loucura sendo internado num hospício. Quando recuperou a sanidade, decidiu esquecer tudo, e terminou por encontrar outra mulher chamada Clara, pertencente a sua religião e com ela teve três filhos. Margareth era apenas uma lembrança que deixaria em seu coração gravada, como qualquer outro momento de sua vida. Agora viveria em paz com felicidade com sua esposa atual e seus três filhos. “Todos temos direitos de fazer escolhas na vida, podemos até errar, mas tudo o que vivemos serve de aprendizado para que possamos viver novas experiências e enfim alcançar a tão almejada felicidade”.

      A visão se esvai. Num abrir e fechar de olhos, voltamos a clareira, no nordeste do sítio fundão. De comum acordo, decidimos voltar à casinha de sapê e sem demoras partimos. Pegamos a mesma trilha e começamos a fazer o caminho de volta. No caminho, fazemos planos para as próximas etapas no sítio e prometemos sempre trabalhar em equipe e com muita dedicação. Aonde chegaríamos? No momento atual, ficava impossível de prever, mas se dependesse de nós o céu seria o limite.

      O tempo passa, nós continuamos caminhando em passos firmes e rápidos, e quando menos esperamos chegamos ao destino. Entramos na casinha de sapê e procuramos o mestre a fim de partilhar as experiências. O que aconteceria daqui por diante? Continue acompanhando, leitor.

      Reencontramos Angel na parte referente à sala descansado sobre uma cadeira. Abraçamo-nos, e ele nos convida a sentar também. Quando ficamos frente a frente, o mesmo inicia um diálogo.

      —E aí? Poderiam me contar sobre as experiências vividas nesta primeira etapa?

      —Seguimos seu conselho e pegamos uma trilha rumo ao nordeste. Depois de muito esforço, chegamos ao local indicado mas por um bom tempo nada aconteceu. Depois de fecharmos os olhos, um milagre acontece ,o cenário muda, e três estranhos nos propõem um enigma.Com apenas cinco minutos de prazo para pensar, conversamos entre si e no final chegamos a um denominador comum. Mesmo sem ter certeza,respondi,entramos em contato com o primeiro dom do espírito e confesso que foi maravilhoso. Tive então uma visão que complementou meus conhecimentos. (Eu, o vidente)

      —Eu o acompanhei durante todo o processo e confesso que foi realmente difícil chegar a uma solução em tão pouco tempo. Mas tínhamos um pouco de experiência, usamos o bom senso e encontramos uma resposta entre várias possíveis. Tudo valeu a pena pois reciclamos os velhos conhecimentos e criamos novos. (Complementou Renato)

      —Muito bem. Estão de parabéns os dois. Agora que estão transformados, poderiam me dizer o que é sabedoria? (Indagou o anfitrião)

      —É o dom do espírito responsável em nós pela criação,reflexão,capacidade de aprendizado e que interliga os sentimentos e funções do cérebro. É um dom necessário para evolução humana,social,moral,espiritual que nos faz aproximar de Deus. Sempre procurada e desejada pelos mortais desde os inícios dos tempos ela se mostra aos mais simples, humildes e excluídos de nossa sociedade. (Eu, o vidente)

      —A sabedoria me guia nas escolhas, nos meus sonhos e projetos de vida. Nos momentos decisivos, a consulto interiormente e ela com a função de seta me mostra como posso ajudar. Em suma, ela é o mapa que devemos seguir a fim de alcançar o sucesso. (Renato)

      —ótimo. Agora que descobriram este dom, já podem ter uma visão mais ampla de tudo que acontece ao redor de vocês e antes não percebiam. Já podemos iniciar o treinamento. Querem continuar descobrindo os dons? (Pergunta Angel)

      —Com certeza. Não estamos aqui por acaso. O que devemos fazer? (Pergunto)

      —Estamos preparados. (Concorda Renato)

      —Primeiramente, enquanto preparo o almoço, limpem a casa. Este exercício fortalece os músculos e ocupa a mente. Depois de nos alimentarmos, é que explicarei o que devemos fazer. Está bem? (O mestre)

      —Tudo bem. Aceitamos. (Respondemos em coro)

      Angel se encaminha a pequena cozinha, junto ao fogão de lenha cuidando dos alimentos enquanto eu e Renato pegamos a vassoura, a pá e um pano úmido para auxiliar-nos na limpeza. Ao começar os trabalhos, nos distraímos um pouco e lembramos da aventura anterior. Quantas vezes não tivemos que ajudar os piratas nos trabalhos domésticos? Tínhamos limpado o navio, lavamos louça e tudo tinha sido um grande aprendizado apesar do medo do desconhecido e da fama que os piratas tinham. Com o tempo, descobrimos que eram pessoas maravilhosas e comuns.

      Agora, estávamos convivendo com Angel, um homem quase centenário, homossexual assumido, detentor dos dons do espírito santo, que criara história numa época cheia de preconceitos e de autoritarismos das elites. Desde o início, admirávamos sua coragem ,simpatia e conhecimento. Certamente ele poderia nos ajudar em nosso caminho.

      Continuamos a limpar e seguimos atento a todos os detalhes. Organizamos a bagunça, espanamos os poucos móveis e varremos todos as partes da pequena casa. Por último, retiramos o excesso de barro do piso. Ao terminar, Angel dá um pequeno grito e nos chama à cozinha. Com alguns passos, chegamos no destino, sentamos à mesa e o anfitrião gentilmente começa a nos servir. Almoçamos um pouco de arroz, feijão verde, farinha de mandioca, tomates e galinha de capoeira. Estávamos cansados e com muita fome. Por isto, terminamos de comer em menos de quinze minutos. Adoramos a comida. Angel tinha realmente um talento especial para culinária. Depois dum breve silêncio, puxamos conversa.

      —Em que consiste este treinamento? É muito difícil? (Pergunto)

      —A partir do segundo dom, os desafios serão maiores e antes de enfrentá-los quero repassar um pouco do que aprendi com a vida para vocês. Mas não se preocupem, não é eliminatório. O objetivo é aumentar o leque de conhecimento de vocês para que tomem as decisões certas nos momentos certos. (Angel)

      —Entendi. Quando iremos começar então? (Renato)

      —Agora mesmo. Peguem um pouco de alimento e água e iremos para o sudoeste do sítio. (ordenou o chefe)

      Obedecemos Angel . Quando estamos com tudo pronto, saímos da casinha de sapê procurando a trilha mais próxima que nos leva a direção. Ao encontrá-la, aumentamos o nosso ritmo. O que aconteceria daqui por diante? Continuem acompanhando, leitores.

      O começo da caminhada nos desperta a curiosidade. Apesar de continuarmos andando num ritmo rápido, temos tempo para apreciar a natureza, o clima, e a presença do nosso mestre. A cada passo e a cada nova paisagem, não cansamos de perguntar a nosso guia e ele nos explica tudo, numa grande viagem no tempo.Com as informações, imaginamos as situações como se fossem atuais e isto nos proporciona um pouco de prazer e angústia também. Onde estaria este povo sofrido do nordeste do início do século XX? O que estivessem vivos, como