pena. Ainda bem que a guardiã me orientou direitinho e em tempo sobre a luz e as trevas. Hoje, sou um adolescente feliz, cheio de amizades e aventuras. (Renato)
—Que bom,Renato.Foi uma pena,Aldivan.Mas vocês são jovens ainda. Vão ter tempo suficiente para tudo. Eu também vivi, na minha época, uma espécie de repressão pelo fato da minha opção sexual distinta. Mesmo assim, lutei pelo aquilo que acreditava. Confesso não ter sido completamente feliz mas tive momentos felizes. Amei, chorei, sofri, vivendo intensamente muitos sentimentos. E vocês? Já tiveram algum tipo de experiência? ( O mestre)
—Sim, durante meus trinta anos de vida, já conheci muita gente.Eu me apaixonei umas três vezes sentindo o fogo do amor gritar dentro de mim e posso dizer que é maravilhoso. Apesar de não ser correspondido, valeu pela experiência e estou disposto a novos desafios nessa área. Quero investir também na literatura, na matemática, nas relações pessoais.Enfim,busco a felicidade e acredito que a mereço. Aliás, todos merecem. (Comentei, o vidente)
—Eu nunca experimentei o amor porque não tenho idade para isso nem é meu foco. Quero estudar e fazer novas amizades, por enquanto. (Renato)
—Claro. É normal. Mas tenha cuidado com o amor. Ás vezes ele machuca muito. (Angel)
—Angel, mudando de assunto, poderia nos explicar melhor como se dará o nosso treinamento? (Vidente)
—Vão ser seis etapas. Cada uma representando um dom do espírito santo. Cada um envolvendo um desafio complicado. Se forem aprovados, vão passando de fase. Quando chegar a última, estarão prontos para desvendar a primeira história que desafia o tempo. (Explicou ele)
—Entendi. Quando começamos? (Renato)
—Amanhã mesmo, pela manhã. Mas pensemos nisso depois pois disse Jesus: A cada dia, a sua preocupação. Observem o céu e agradeçam pela vida. (O ancião)
Obedecemos ao mestre e ficamos um largo tempo a observar o céu. Quando ficamos totalmente exaustos, nos despedimos do mesmo e fomos dormir. O próximo dia escondia aventuras intrigantes num fim de mundo inóspito.
O primeiro desafio:Sabedoria
Amanhece no sítio fundão, Município de Pesqueira, agreste de Pernambuco-Brasil. Acordamos um pouco tontos com os raios de sol batendo nos nossos rostos e o canto melodioso dos pássaros. Mesmo lutando contra a preguiça e o cansaço, conseguimos levantar na segunda tentativa e nos encaminhamos para trás da casa, a fim de tomar o banho matinal. De comum acordo,eu vou primeiro. Pego um balde de água, encho na cisterna e vou me banhar não tão tranquilo pois tenho medo de ser flagrado em minha nudez por pessoas desconhecidas .Com alguns passos, chego no destino, tiro a minha roupa, e jogo um pouco de água fria no corpo. Esfrego-me, ensaboou-me e jogo um pouco mais de água e na medida em que vou me lavando aproveito também para pensar um pouco na minha própria trajetória. Aonde tudo aquilo me levaria? Já enfrentara a gruta,desafios,a montanha, o Eldorado e ainda tinha sede de conhecimento. De um simples sonhador passara a vidente poderoso, capaz de realizar milagres mas ainda não me realizara. Faltava galgar os degraus da evolução um por um e descortinar os véus das histórias realmente importantes. Era isto que eu me propunha e esperava obter o sucesso. O objetivo maior era ser feliz.
Continuo o banho, toco nas minhas partes sensíveis e imagino o quanto era importante manter o foco, a integridades, meus valores em quaisquer circunstâncias. Além de tudo, trabalhar com dedicação e persistência era o segredo da vitória. Foi com estes ingredientes que me descobri e me abri para o mundo e continuaria agindo dessa forma sempre.
Jogo um pouco mais de água no corpo, uso sabão, xampu e sabonete e tento retirar todas as impurezas. Quando me sinto pronto,enxáguo-me,pego a minha toalha, enxugo-me e entro na casa aliviado. Aviso a Renato e o mesmo vai tomar banho. Pouco depois, Angel finalmente acorda. Cumprimento-o e vou vestir minha roupa. Quando estou em condições, aproximo-me do mesmo e para minha surpresa o café está pronto. Ele me convida a comer e eu aceito pois estava esfomeado.
O desjejum é composto de frutas típicas da mata como caju,abacaxi,melancia,Fruta-de- palma além do tradicional beiju e macaxeira. Um verdadeiro banquete dos deuses. Comemos em silêncio, deixamos um pouco para Renato que volta do banho. Quando todos ficam satisfeitos, a conversa é iniciada.
—Estão prontos, sonhadores? O desafio está lançado. (Pergunta Angel)
—Sim. O que devemos fazer e do que se trata? (Pergunto)
—Queremos todos os detalhes. (Renato)
—O primeiro desafio envolve o dom da sabedoria. Procurado desde os tempos remotos, este dom ajudou na evolução da humanidade e fez os homens um pouco mais humanos. O desafio consiste em dirigir-se ao nordeste do sítio e decifrar um enigma antigo que se apresentará espontaneamente para vocês. Se errarem, despertarão a fúria dos deuses o que pode provocar graves conseqüências. Mas não se preocupem: Confio totalmente em vocês. (O mestre)
—Como devemos agir? (Perguntamos em coro)
—A questão é óbvia. Ajam com bom senso e a sabedoria dos humildes. Ela é alcançada através da contínua oração e meditação. Mas lembrem-se: Não vale trapacear— Respondeu ele.
—Quando devemos ir? (Pergunto)
—Agora mesmo pois o tempo urge. Boa sorte e mantenham contato com o interior de vocês. (O ancião)
Angel se aproxima, nos abraça e se despede finalmente. Pegamos uma mochila com alimentos e uma garrafa d’água e finalmente saímos da casinha de sapê. Procuramos a trilha mais próxima que dá acesso ao nordeste do sítio e quando a encontramos começamos a caminhada. Apesar de todas as dificuldades que se apresentam no caminho, avançamos num bom ritmo e conversamos entre si preparando a melhor estratégia. O que nos esperava? A vaga indicação de Angel nos deixava cheios de dúvidas, mas não tínhamos escolha a não ser arriscar e descobrir.
No caminho, encontramos pedras, pássaros, espinhos, vozes interiores que nos guiam e a instigante força que move o universo a que muitos chamam de Deus ou de destino. A cada passo dado, parece que já podemos decifrá-lo apesar de nossa inexperiência. O que aconteceria? Não importava. O importante era o nosso empenho, era o momento que talvez não se repetisse mais. Não podíamos desperdiçar esta chance como eu já tinha desperdiçado boa parte da minha vida em lamentar minha condição. Em certo momento, acordei e estava disposto a viver, junto com Renato, aventuras incríveis e que talvez nos consagrassem não pelos feitos em si, mas pela coragem. Esta era a palavra-chave: Coragem.
Animado por esta força, continuamos avançando embrenhados na mata virgem procurando algo que não se via ou que ninguém jamais tinha encontrado. Com isso, o tempo passa. Depois de cerca de duas horas, chegamos exatamente no centro do nordeste do sítio Fundão e nada (exatamente nada) tinha acontecido. Exaustos pelo esforço da procura, resolvemos sentar numa clareira próxima, comemos e nos hidratamos um pouco. Fechamos os olhos, descansamos um pouco e ao abrir temos uma grande surpresa: os céus tinham desaparecido, nuvens coloridas nos envolviam, nossos corpos flutuavam no ar com facilidade. Mesmo que antes perguntássemos o que estava acontecendo, três belos anjos se aproximam de nós em glória o que nos provoca bastante medo. Ao chegar bem perto, eles mantêm contato telepático e nos tranqüilizam,dizendo que não vão fazer mal, que apenas são mensageiros da sabedoria. Eles perguntam se queremos descobrir mesmo o dom da sabedoria? Respondemos que sim e eles nos propõem um enigma: O que dois amigos fazem que três não podem fazer? E dão um tempo de cinco minutos para que pensemos. Eles nos alertam que caso errássemos cairíamos num abismo sem fundo.
Eu e Renato começamos a discutir as possibilidades. Falamos um pouco de tudo, discutimos, trocamos experiências. No final do tempo, usando a minha experiência, tenho uma resposta apesar de não ter a certeza de que está correta. Entro em contato com os anjos, repasso a resposta mentalmente: Compartilhar um segredo a dois. Eles se reúnem em círculos, proferem orações misteriosas, a terra treme, o céu escurece e no final do ritual uma bola de fogo abrasadora é lançada de encontro aos nossos corpos. Temos medo, tentamos correr,