Victory Storm

Atração De Sangue


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todos um pouco atordoados.

      Com todas as coisas que podia escrever nos últimos instantes de vida, escolheu uma frase bastante óbvia. Era um típico ensinamento de catequese. Lembrava-me tanto os ensinamentos do padre Dominick. Ele dizia-mo frequentemente.

      «Mais nada?» tentou perguntar a tia.

      «Não, com exceção a alguns papéis relacionados com árvores genealógicas de famílias de origem humilde que trabalhavam na mina, que ressaem a quatrocentos anos atrás».

      Entre eles caiu o silêncio, mas antes que o cardeal abrisse novamente a boca, quis aproveitar para clarear as ideias de uma vez por todas.

      «Desculpe-me, mas quem são eles? Não posso acreditar que tudo isto esteja a acontecer por minha culpa» perguntei timidamente ao cardeal.

      Este último ficou todo vermelho e lançou um olhar furioso à tia e ao padre Dominick.

      «Não sabe de nada? Mas como puderam esconder-lhe que existe um grupo de vampiros que está a revirar a cidade à procura dela para matá-la!».

      Vampiros? Talvez percebi mal, mas não usei repetir aquela palavra para não ser ridicularizada.

      «Um grupo de?» perguntei novamente, procurando o olhar da tia, que teimava em fixar a ponta dos seus pés com um ar culpado.

      «Vampiros! Tens presente aqueles homens que rejeitam a graça divina para ressuscitar e nutrir-se de sangue humano?» gozou o cardeal, ao ver a minha expressão mista de descrença e medo.

      Naquele momento, tentei lembrar-me de todos os vampiros que tinha visto na minha vida na televisão, mas não me vinha à mente nada a não ser um desenho animado que eu via aos sete anos, no qual o protagonista era um fantoche vampiro covarde, mas com um coração bom.

      Duvidava que os vampiros de que me falava o cardeal fossem semelhantes ao fantoche.

      «Não sabia que existiam realmente» gaguejei.

      «Ninguém o sabe, porque a Ordem da Cruz Ensanguentada tem precisamente o dever de manter escondida esta realidade. Todavia existem e como! É muito difícil encontrá-los porque podem transformar-se noutras criaturas e têm uma força sobrenatural. É impossível matar ou capturar um deles, sem primeiro enfraquecê-lo com água benta ou prata...».

      «Mas então para que servem as armas que tinham os dois homens que nos acompanharam até aqui?» perguntei.

      «Os nossos guardas possuem armas muito especiais, carregadas com projéteis de prata pura» explicou-me orgulhoso.

      «E depois?».

      «Depois queimamo-los».

      «E este Blake, porque é considerado tão perigoso?».

      «Porque ele é diferente de todos os outros. Ele é o único vampiro imune à prata ou a outra coisa qualquer, mas o cardeal Montagnard descobriu que em ti existe a arma capaz de o derrotar. Ele é a fonte dos nossos problemas, porque por cada vampiro queimado, ele transforma em vampiros outros dois... é muito bom nisto porque consegue controlar-se quando se alimenta, deixando assim as vítimas suspensas entre a vida e a morte, até cederem ao vampirismo e, muitas vezes, depois decidem segui-lo, ainda que geralmente os vampiros sejam criaturas solitárias e não gostem de ligações com outros senão por breves períodos».

      «Mas porque me quer logo a mim?» insisti com força.

      «Esse é o verdadeiro segredo que o cardeal Montagnard levou para o túmulo. Sei apenas que és especial por causa do teu sangue. Acreditas realmente que te manteria com aquela renda mensal por todos estes anos se não fosse por um motivo bem preciso? Ao que parece, a tua anemia torna-te única, mas creio que isto seja simplesmente devido ao facto que...» comentou o eclesiástico, mas antes de terminar a frase, ouviram-se disparos, do lado de fora da porta.

      Assustamo-nos todos ao mesmo tempo, antes que os dois homens arrombassem a porta, gritando-nos de escapar.

      «Como souberam que estavam aqui?» perguntou enlouquecido o abade, que tinha ficado em silêncio até agora.

      «Não importa. Depressa, Matt, leva a Vera para os subterrâneos. Atravessem a cripta. Ali encontrarão uma pequena porta, onde podem enfiar-vos. Sigam o túnel que vai dar a uma escada, que vos levará ao interior de um edifício abandonado de Change Lane» ordenou de forma autoritária o cardeal a um dos dois homens à sua direita. Sem perder mais tempo, Matt agarrou-me pelo braço e levou-me para fora da sala, mas eu não tinha nenhuma intenção de abandonar a tia. Ela era toda a minha família e não queria deixá-la.

      Tentei protestar, mas a minha voz foi abafada pelos gritos do padre August e pelas ordens do cardeal.

      Também a tia procurou alcançar-me, mas foi impedida pelo cardeal em pessoa.

      Por fim, gritei com todas as forças o nome da tia, procurando libertar-me do punho de ferro daquele homem.

      «Ela pertence à Ordem e deve combater» disse-me Matt, tentando arrastar-me pelo corredor até às escadas, à direita.

      Numa tentativa desesperada de rever a tia, que tinha ficado dentro do escritório do abade, voltei-me e vi pela primeira vez três homens encapuçados, que vinham do outro lado do corredor a correr na nossa direção. Mal chegaram à sala, tiraram o capuz.

      Os três tinham os cabelos negros. Dois deles entraram imediatamente na sala, soltando um grito arrepiante e desumano, que me provocou calafrios por todo o corpo.

      Ao invés, o terceiro homem parou e fixou-me. Por um instante, os nossos olhares se cruzaram.

      Notei os seus olhos azuis, quase cor de gelo, que me penetravam como um animal perante a sua presa.

      Senti-me atravessada por aquelas lâminas de gelo.

      Permaneci por um instante maravilhada pelo seu rosto. Era jovem.

      Não sei porquê, mas esperava um velho, não um rapaz que deveria ser da mesma idade do Kevin.

      Tinha um rosto muito belo, com exceção da expressão dura e ameaçadora. O meu olhar posou brevemente sobre a sua boca e li neles: «É ela».

      Não consegui decifrar mais nada, porque tropecei pelas escadas.

      Felizmente, o Matt segurou-me firmemente e agarrou-me para eu não cair.

      Corremos rapidamente pelas escadas abaixo, até chegar à cripta escura.

      Não via quase nada, mas o Matt continuava a correr, até chegar a uma zona um pouco mais iluminada.

      Aos poucos, os meus olhos habituaram-se àquela escuridão.

      O chão estava todo molhado e molhei os sapatos.

      A dada altura, o homem parou, olhando com atenção em redor.

      «O Blake está perto. Consigo senti-lo».

      Não ouvia nada, mas assustei-me na mesma quando vi que tirou a arma do coldre.

      Olhei à volta, mas não vi nada. Estava demasiado escuro.

      De repente, vislumbrei uma sombra cair sobre o Matt.

      Era o homem com os olhos azuis. Um vampiro.

      Matt apontou-lhe a arma e disparou, mas este deu-lhe um golpe veloz e potente contra a mão, que o fez perder a arma e o projétil disparou no escuro.

      «Foge!» gritou-me Matt, antes de defender-se de um novo ataque.

      Não foi preciso repetir duas vezes, ainda que fosse de novo encantada pelo olhar daquele vampiro que me fixava de forma ameaçadora.

      Sem perder tempo, corri rapidamente até ao fundo da cripta. Devia ser um lugar enorme.

      Estava cansada, assustada e sozinha.

      Por fim, cheguei à porta de que tinha falado o cardeal.

      Tentei abri-la, mas estava bloqueada.

      Dei cabo das minhas mãos ao tentar