Victory Storm

Atração De Sangue


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uma mensagem sabe-se lá a quem.

      Sabia que falava enquanto dormia. A tia mo dizia sempre.

      Foi sempre algo que me envergonhou e naquele momento fiquei ainda mais vermelha.

      «Então, onde vamos?» perguntei-lhe para distraí-lo de mim, uma vez que começou a olhar-me curioso.

      Esta pergunta fê-lo voltar a ficar sério.

      «À minha casa».

      «Onde?» voltei a perguntar estupefacta.

      Blake não teve tempo de dizer mais nada, um clacson na estrada buzinou inesperadamente.

      «São eles. Vamos» disse-me, voltando a agarrar-me pelo braço.

      «Eles quem?»

      «Vampiros, obviamente».

      «Olha que para mim, um dá e chega. Não é preciso...» tentei fazê-lo mudar de ideias quanto a dar-me a comer aos seus amigos, mas ele soltou uma estrondosa gargalhada, que quebrou todas as minhas defesas.

      Não podia acreditar. Tinha-o feito rir.

      «Não tenho nenhuma intenção de partilhar-te com os meus amigos, se é isso que pensas» assegurou-me num tom de voz claro.

      Levou-me à saída do edifício, avisando-me para não fazer cenas, uma vez lá fora.

      «Os meus amigos não gostam de contratempos» aconselhou-me.

      Obedeci.

      Saímos. Estava a parar de chover.

      Estávamos no centro da cidade, no meio de diversos passantes. Como é que ninguém se apercebia do perigo que corria ao passear tranquilamente pelas estradas de uma cidade apinhada de vampiros?

      Deixei-me arrastar até um Ford azul, estacionado mesmo à nossa frente. Nos lugares de trás estavam duas pessoas, ou melhor vampiros. Ambos eram pálidos e loiros. O que ia ao volante era muito gordo e velho.

      Tive muita vontade de correr pela estrada e afastar-me, mas a mão de Blake era muito forte.

      «Nem tentes» disse-me. Será que conseguia ler o pensamento?

      Num instante, Blake abriu a porta do carro e fez-me acomodar no banco detrás, sentando-se depois perto de mim.

      Mal a porta se fechou, o condutor pôs o carro em andamento sem sequer pedir indicações acerca da direção, enquanto o outro vampiro ao seu lado começou a olhar-me fixamente.

      Entretanto o carro partiu a toda a velocidade, fazendo-me balançar para a direita e para a esquerda, levando-me, a dada altura, a bater contra o braço do Blake, que acabou por tranquilizar-se com a minha instabilidade e decidiu abraçar-me contra ele.

      Contudo, desta vez o seu aperto foi firme, mas delicado.

      Encontrava-me com o rosto encostado à sua camisa, logo onde estava desabotoada.

      Sempre tive um ótimo olfato e não podia não sentir o seu perfume, tão masculino e sensual.

      Estava prestes a me deixar levar por aquela sensação descuidada de perigo, quando algo me chamou a atenção. O homem sentado à frente olhava-me intensamente.

      «Blake, esta rapariga humana tem um odor fortíssimo! Nunca senti um cheiro desde tipo vindo de um humano. É mesmo avassalador. Está-me a deixar maluco!» o homem desabafou inesperadamente.

      Inicialmente, preocupei-me por não me ter lavado bem naquela manhã, apesar do duche que tomei.

      Depois, ao notar como o vampiro lambia os lábios, comecei a assustar-me seriamente. Involuntariamente escondi-me ainda mais no peito do Blake, que se apercebeu imediatamente do meu desconforto.

      «Will, pára com isso!».

      «Por favor, não digas que não te apercebeste do seu perfume» provocou-o.

      «Apercebi-me. É particular. Eu também levei algum tempo antes de poder aproximar-me sem atacá-la, mas depois habituas-te» procurou tranquilizá-lo Blake, mas o outro vampiro parecia cada vez mais voraz e próximo.

      Continuava a esticar-se sobre o banco da frente para cheirar-me melhor.

      O meu coração começou a bater fortemente de medo.

      Percebi demasiado tarde que aquela sensação o excitava ainda mais.

      Num instante, dei por mim a ser agredida pelo Will que tentou atacar-me o pescoço com os caninos alongados e o olhar hipnotizado. Por sorte o Blake interveio mesmo a tempo e segurou-o pelo pescoço, antes que este pudesse chegar a mim.

      «Controla-te!» gritou-lhe o Blake furioso.

      «Não consigo! Este cheiro é demasiado forte» gritou por sua vez Will debatendo-se.

      «Lembra-te daquilo que nos disse o cardeal Montagnard. O seu sangue é uma arma contra nós. Quero consultar Jack Marley antes de transformá-la em vampiro ou fazer outra coisa qualquer» avisou-o e Will voltou ao seu lugar.

      Então era verdade que o cardeal Montagnard lhe tinha contado algo sobre mim. Ainda bem que lhes tinha avisado para não me morderem, assim podia ganhar tempo.

      Estava ainda perdida nos meus pensamentos, quando o carro parou em frente a um antigo edifício abandonado com pequenas janelas.

      Fui de novo tomada pelo medo de estar presa sozinha naquele casebre.

      «Por favor, Blake, sai depressa e leva contigo essa rapariga antes que lhe salte em cima também eu» disse-nos o condutor, que até aí não tinha aberto a boca.

      «Sim, desculpa. Obrigada, Peter» cumprimentou-o Blake, saindo do carro e ajudando-me a descer.

      Dirigimo-nos para o edifício sombrio. Blake continuou a agarrar-me pelo braço, mesmo quando abria a porta de metal com as chaves que tirou do bolso do impermeável.

      Fora do carro, fazia muito frio e comecei a tremer uma vez que trazia uma simples camisola de mangas compridas e um casaco de ganga, bastante leve.

      Pouco depois fui levada para o interior da estrutura. Fiquei maravilhada pelo cenário com que me deparei.

      Estava de repente num grande apartamento luxuosíssimo e aquecido. Havia um grande salão, com um grande sofá em pele branco virado para a parede, na qual estava encaixado um televisor plasma de cinquenta polegadas.

      As paredes estavam decoradas com diversos quadros de variadas dimensões.

      Por trás da sala, via-se uma cozinha moderna de forma arredondada. À esquerda, distinguia-se uma enorme mesa de doze lugares com outras tantas cadeiras, enquanto à direita, entre a sala e a cozinha, era possível vislumbrar uma espaçosa casa de banho, meio escondida por portas de vidro colorido e fosco.

      Por cima da casa de banho, estava um pequeno sótão, no qual se distinguia uma cama.

      Todo o apartamento tinha sido decorado com um estilo industrial, como se podia notar pela forma das cadeiras, do sofá, da escada que conduzia ao sótão e da cozinha elétrica com o balcão em aço.

      «Este lugar é lindíssimo!» exclamei, ao caminhar lentamente no interior daquele grande open space.

      «És a primeira pessoa a dizê-lo» admitiu Blake, deixando-me espantada. Não podia acreditar.

      «Ficarás aqui por alguns dias, por isso põe-te cómoda. Nunca tive hóspedes não vampiros, por isso se precisares de alguma coisa, pede à vontade» acrescentou depois, tirando o impermeável. De repente, senti-me um hóspede e não uma prisioneira.

      Também Blake pareceu-me mais relaxado e sem nenhuma intenção de fazer-me mal, assim fiz-lhe a vontade fingindo estar cómoda. Para além disso, não acreditava que me quisesse fazer mal, caso contrário já me teria matado na cripta ou não me teria certamente salvado do Will. Uma pequena parte de mim, sentia-se segura com ele, ainda que não soubesse até quando.

      Sentei-me com calma no sofá em pele branco.