Victory Storm

Atração De Sangue


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embora sem ao menos voltar a ver a minha tia.

      Comecei assim a fincar os pés, apesar do formigueiro que ainda me incomodava.

      «Espere, quero ver a minha tia Cecília» supliquei-lhe.

      «Não» respondeu-me simplesmente, continuando a arrastar-me pelo novo corredor que aparecia diante de nós.

      Naquele caso, não aceitava uma resposta do género.

      «Não vou embora daqui sem a minha tia!» levantei a voz estridente com toda a minha coragem.

      O vampiro parou e voltou-se para mim com um olhar assassino.

      Não me interessava se tinha provocado o seu instinto sanguinário, não tinha intenção de ceder facilmente.

      Estava numa pilha de nervos. Sentia novamente as lágrimas roçarem-me os olhos, mas correspondi na mesma o seu olhar.

      «Agora saímos daqui, sem a tua tia e tu vais parar de gritar. Fui bem claro?».

      «Não» murmurei desesperada.

      «Preferes que te mate aqui agora?» gritou já irritado pela minha insistência.

      Parecia que me tinha esbofeteado, de tal forma foi violenta a frase.

      Não consegui acrescentar mais nada.

      Rendi-me ao seu punho e ao seu passo determinado e rápido.

      De repente, tropecei nalguma coisa que sujava o chão e caí desastradamente por terra, raspando o joelho e rasgando as calças naquele lugar.

      Mal vi sair sangue da ferida, cobri imediatamente o joelho por medo de que a visão do sangue o excitasse, uma vez que era um vampiro.

      Olhei-o, à espera que não tivesse visto a cena, mas ele já estava ali a olhar-me fixamente indiferente.

      «Está tranquila, não perco a cabeça por duas gostas de sangue» desabafou irritado como se me tivesse lido a mente.

      Como comecei a cambalear, abrandou o passo.

      Por fim, chegamos a uma escada de madeira que conduzia a um alçapão escondido no sótão.

      «Tenho que a abrir. Tu, ficas aqui. Aí de ti se tentas escapar. Juro que te volto a apanhar e faço-te pagar» ameaçou-me, deixando-me o braço.

      Olhou-me fixamente mais um instante e depois começou a subir as escadas.

      Mal chegou ao cimo, começou a arrombar a fechadura.

      Tinha chegado a hora.

      A hora de escapar.

      Estava prestes a abrir o alçapão, depois de ter arrombado o cadeado com as mãos que pareciam garras de aço.

      Sem perder mais tempo, comecei a correr apesar da dor no joelho ferido.

      Corri a toda a velocidade. O importante era não olhar para trás e ter sempre em vista a meta.

      Senti um grito de raiva atrás de mim, mas não fiz caso e corri ainda mais rapidamente que antes.

      Por sorte, tinha tomado uma hemodose há pouco tempo, por isso estava em forma.

      Mais uns metros e chegaria às escadas para subir para a abadia.

      Já tocava o corrimão. Mais um passo e...

      Senti um aperto no meu braço esquerdo e depois cobriu-me completamente, tirando-me o fôlego.

      Fui atirada para trás contra o seu peito.

      Blake tinha-me apanhado.

      Voltei-me e gritei-lhe na cara: «Deixa-me!».

      Nem sabia de onde vinha a coragem para enfrentá-lo assim tão abertamente, mas não aguentava mais. Estava prestes a explodir e não me importava se queria matar-me naquele momento.

      Recusava de fazer a pobre vítima indefesa. Sentia uma força e um orgulho crescerem dentro de mim.

      Olhei o seu rosto incrédulo perante a minha reação.

      «Quero a minha tia, está claro?» repeti a dose.

      «A tua tia não está mais aqui. Toda a abadia foi evacuada há três horas atrás» explicou-me com calma.

      «Para onde foram?» perguntei baixinho, transtornada pela ideia de ter sido abandonada.

      «Não me interessa. Encontrei o que procurava».

      Ignorei a sua alusão.

      «Quero apenas saber se está bem».

      «Acho que sim».

      «Achas?»

      «Quando fugiu com o cardeal, estava a sangrar do braço. Foi isto que me disseram» disse Blake apressado.

      Por momentos, as pernas cederam de alívio ao saber que ainda estava viva, ainda que ferida.

      Suspirei profundamente por um instante, mas foi preciso apenas uma fração de segundo para perceber que fiquei sozinha.

      «Bem, vamos agora?» ele perguntou com um tom de voz que não aceitava certamente um não como resposta.

      Não sabia mesmo o que fazer, mas por agora estava sozinha e a força do vampiro era claramente maior que a minha.

      Ninguém viria proteger-me, nem mesmo o Matt.

      «E o Matt?»

      «Se por Matt queres dizer o homem que te escoltava, eu tratei dele»

      «O que queres dizer com isso?» gaguejei recusando pensar que estava morto por minha culpa.

      «Nada. Agora vamos».

      «Mas eu...».

      «Chega de perguntas. Trata de caminhar e depressa» ordenou, arrastando-me novamente para o alçapão aberto.

      Senti o joelho latejar e estava exausta, mas não queria apoiar-me nele.

      Subir a escada foi uma verdadeira tortura. O joelho continuava a esbarrar nos degraus. Além disso, começava a sentir o cansaço da corrida. Sabia que com os meus problemas de saúde, devia evitar demasiada atividade física, caso contrário, seria necessário tomar uma hemodose antes do habitual e, naquele caso, não fazia ideia como obtê-la.

      Quando saí do alçapão, estava num edifício abandonado, com as paredes cheias de mofo e grandes janelas.

      Lá fora já estava escuro e continuava a chover.

      «Mas que horas são?» perguntei desorientada.

      Quando entrei na abadia faltava pouco para o almoço e agora como é que já estava escuro?

      Talvez houvesse um eclipse.

      «São quase cinco»

      «O quê? Mas como é possível?»

      «Estiveste escondida naquele buraco com aquele gato nos braços a chorar e acabaste por adormecer. Dormiste por três horas antes de acordar. Nem te apercebeste da minha presença» explicou-me, fazendo-me corar de vergonha. Viu-me chorar, um luxo que não concedo nunca, com exceção de algumas ocasiões.

      Só a tia me tinha visto chorar uma vez e isso me tinha deixado muito chateada na época.

      Não deixava que ninguém visse as minhas fraquezas e agora senti-me perdida diante do olhar do Blake que me tinha visto naquele estado.

      Provavelmente tinha também os olhos vermelhos e o rosto ainda pálido, como acontecia sempre depois de ter chorado.

      «Quem sabe o monstro que eu estou agora?» desdramatizei.

      «Não sei. É a primeira vez que vejo alguém chorar. Geralmente, as pessoas gritam e suplicam-me para que eu as poupe, não choram a pensar na tia ou na sua casa» respondeu-me olhando-me com um ar interrogativo.

      «E tu como sabes isso?» perguntei-lhe tratando-o por tu.

      «Falavas