Amy Blankenship

A Posse De Um Guardião


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      Ele se virou em pânico, procurando o homem de asas negras que o assombrava tanto. Não havia mais ninguém ali. Os seus olhos brilhantes se viraram lentamente para olhar as suas próprias asas e a respiração deixou os seus pulmões como se alguém o tivesse chutado no peito. Ele tinha as asas do seu pai.

      – Não! Eu não vou me tornar você! – Kamui passou os braços ao redor de si em negação. – Eu não vou me tornar você! – ele gritou assim que avistou Shinbe à distância. – Faça isso ir embora, por favor... apenas faça isso ir embora. – ele sussurrou, não querendo que Shinbe o visse com penas de ébano. Deixando o seu corpo cair, ele rapidamente foi envolvido pelas árvores.

      Aterrissando com força no chão da floresta, Kamui se ajoelhou por um momento antes de abrir os olhos. A primeira coisa em que os seus olhos brilhantes caíram foram as suas asas negras. Com um grito angustiado, Kamui agarrou uma delas com força. Ele gritou em agonia enquanto tentava arrancar a asa da meia-noite da sua própria carne.

      Soltando o apêndice emplumado, ele deixou o seu corpo cair exausto no chão. Lágrimas caíram dos seus olhos quando ele viu a erva à sua volta assobiar com o poder maligno que ele mantinha no fundo da sua alma. Estava a vazar dele como uma praga que mataria tudo o que tocasse... ódio, raiva, ciúme e poder bruto indomável. O único presente que o seu pai tinha lhe dado era pura maldade!

      Enrolando-se numa bola apertada, o seu corpo começou a brilhar e cintilar com cada batida do coração enquanto aquele poder formava um casulo apertado ao redor dele. Se ele se libertasse da escravidão, ele seria o mal encarnado?

      – Não deixe isso acontecer comigo. – ele implorou baixinho enquanto lutava com cada respiração. – Não me deixe ser o pesadelo que o meu pai quer que eu seja.

      Os lábios de Shinbe se estreitaram sentindo Kamui morto à frente. Ele podia sentir o poder de Kamui se tornando instável e não era um bom presságio. – Vamos Kamui, se recomponha... Kyoko vai precisar de nós. – Algo preto flutuou por ele e ele rapidamente o arrebatou ao vento.

      Uma pena da meia-noite... mas não era de Hyakuhei. O olhar preocupado de Shinbe percorreu a vizinhança em busca do verdadeiro dono... de Kamui. – Você não quer fazer isso Kamui. – A sua voz continha uma pitada de medo. – Se você abrir a porta para tal destruição... podemos nunca mais fechá-la... por favor.

      A floresta abaixo dele brilhava com uma força vital estranha e Shinbe rapidamente se dirigiu diretamente para ela. Uma grande esfera azul repousava numa pequena clareira iluminando tudo ao seu redor num tom azul vibrante. Aterrissando ao lado dele, Shinbe sentiu o conflito perigoso crescendo na esfera. Os seus olhos de ametista mostraram a sua tristeza quando ele viu as penas de ébano que ainda cobriam o chão.

      – Kamui? – Shinbe sussurrou enquanto estendia a mão e tocava suavemente a cor rodopiante na superfície da orbe.

      No segundo que a sua mão tocou a esfera, o conflito interno se estabilizou por um momento... tornando-se puro. Os olhos de Shinbe se fecharam enquanto ele pegava a essência de Kamui dentro dele, deixando-a crescer. Todo o puro amor e inocência de Kamui... toda a sua malícia oculta, também o poder indomado que ele tirava desses sentimentos.

      Kamui abriu os olhos sentindo alguém ali, mas tudo o que podia ver era a gaiola que tinha construído em torno de si. Através das paredes grossas, ele podia ver uma aura de ametista e sabia que Shinbe estava ali. – Não olhe... – Ele sussurrou enquanto abaixava a cabeça, – ...Eu não quero que você veja a verdade.

      Ele podia ouvir o pedido de partir o coração de Kamui. Enquanto a ligação entre ele e Kamui era tão forte, Shinbe usou o seu poder telepático para alcançá-lo através da barreira. Ele encostou a testa no escudo e pressionou as palmas das mãos de cada lado... fazendo os seus músculos empurrarem e puxarem ao mesmo tempo.

      Enviando a sua voz para dentro da barreira de Kamui, Shinbe tentou argumentar com ele. – Kamui, deixa pra lá... você não precisa de lutar contra Hyakuhei sozinho. Não assim. Faremos isso como irmãos... juntos. Mas agora há alguém que precisa mais de nós. Kyoko precisa de você Kamui.

      – Kyoko? Mas... eu não sou um irmão de verdade. – Kamui gritou de dentro da sua cela. Ele podia ver o seu próprio reflexo e era perturbador quando olhos negros o encaravam de volta. – Eu nunca serei isso... independentemente do quanto eu quero... preciso disso. Você não sabe o que está dentro de mim a tentar sair. E se eu a magoar?

      Os olhos ametistas de Shinbe lacrimejaram em compreensão. – Deixe para lá, Kamui. Esse conhecimento foi enterrado e esquecido por um motivo. Você teve uma escolha e nos escolheu. Você é meu irmão... um guardião de Kyoko. Nós a protegemos com tudo o que somos... mesmo que tenhamos que esquecer de onde viemos.

      – Mas... é uma mentira! – Kamui gritou e ficou em estado de choque ao ouvir a voz de Hyakuhei provocá-lo de longe. – Você pertence a mim... criança. A sua sacerdotisa também.

      Shinbe podia ouvir a voz de Hyakuhei dentro da barreira e isso o irritou. – Você quer que ele coloque essas mesmas correntes em Kyoko que você usou uma vez !? – Shinbe gritou, tentando fazer Kamui ouvir a razão. – Lute contra as memórias por ela. Enterre-as bem no fundo e nunca olhe para trás. Você pode escolher o seu próprio destino! Você não precisa se tornar ele! Pense em Kyoko, droga.

      – Kyoko? – Uma lágrima caiu da bochecha de Kamui enquanto ele olhava para baixo e a observava quebrar com a sua cor brilhante. Se ele fosse realmente o seu pai... as suas lágrimas seriam negras como a noite ou carmesim até... não o espectro de luz que ele via agora. Ele imaginou Kyoko lutando contra Hyakuhei e sabia o que tinha que ser feito. A única maneira que ele poderia vencer contra tal mal era se tornando mau... mas ele nunca trairia a sua sacerdotisa dessa forma. Ele a amava muito.

      Shinbe deu um passo para trás da esfera quando ela começou a subir vários metros do chão. A aura azul que o rodeava brilhava como diamantes enquanto a luz interna se tornava tão brilhante que o dominava.

      – Você não pode ter a mim ou a ela. Mais uma vez Hyakuhei... Eu nego você. – Kamui sussurrou assim que a esfera se estilhaçou.

      A vários quilómetros de distância, os olhos de Hyakuhei brilharam vermelhos de raiva quando ele ouviu as palavras de Kamui e ele respondeu: – Você não pode esconder a verdade por muito tempo... você e eu somos o mesmo.

      Shinbe correu para pegar Kamui quando ele caiu. O menino estava desmaiado. Os seus olhos ametistas se arregalaram com o seu sorriso ao ver o brilho colorido que caía das suas asas translúcidas. Ele abraçou Kamui sabendo que tudo ficaria bem... pelo menos por enquanto. De alguma forma, ele tinha esquecido a escuridão mais uma vez.

      – Bem-vindo de volta Kamui. – ele sorriu quando os olhos do rapaz, muitas cores para contar, se abriram para encará-lo em confusão.

      *****

      – Eu simplesmente não entendo... por que Kyou de repente decidiu que quer Kyoko? – Suki andava de um lado para outro irritada porque ela não estava ali ajudando a trazer a sua amiga de volta.

      Sennin esfregou a têmpora enquanto olhava para a filha, – Suki, por favor, sente-se. Está me deixando tonto. – Ele pegou um pedaço de pau e cutucou o fogo enquanto continuava. – Kyou é um guardião... portanto Kyoko está segura com ele. Quanto a ele quere-la... bem, se ele quiser, já está fora das suas mãos.

      Suki virou-se para encarar Sennin. Como assim? Ele não é uma criança. Ele pode controlar o que faz!

      Sennin olhou para o fogo e declarou: – Se foi o sangue do seu guardião que a escolheu, então nem mesmo Kyou tem escolha.

      – O que você quer dizer com ele não tem escolha? – Suki exigiu. – É contra tudo o que os Guardiões defendem tirar esse privilégio de qualquer pessoa, muito menos da sua sacerdotisa. Além disso, se Kyou gostou de Kyoko o tempo todo, então por que ele não disse algo antes, em vez de roubá-la como um ladrão?

      Sennin sorriu, – Pelas mesmas razões que o nosso amigo Shinbe manteve o seu silêncio.