Aproximo-me do ninja, o meu grande adversário. Ele me parece ainda desacordado. Sinto tê-lo tratado daquela forma, mas estavam em jogo o meu sonho, a minha esperança e o meu destino. O homem tem que tomar decisões importantes em situações importantes. O medo, a vergonha, as regras morais só atrapalham em vez de ajudar. Acaricio o seu rosto e tento restabelecer a vida em plenitude em seu corpo. Eu ajo assim, pois já não somos adversários, mas sim companheiros de episódio. Ele se levanta e com um comprimento ninja me felicita. Tudo ficou para trás: a luta, as nossas “forças opostas”, o idioma diferente, os objetivos distintos. Vivemos uma situação diferente da anterior. Podemos conversar, nos entender e quem sabe ser amigos. Cumpro assim o seguinte ditado: Faça do seu inimigo um ardoroso e fiel amigo. Por fim, ele me abraça, despede-se e me deseja boa sorte. Eu retribuo. Ele continuará fazendo parte do mistério da gruta, e eu, do mistério da vida e do mundo. Somos “forças opostas” que se encontraram. É esse o meu objetivo neste livro: reunir as “forças opostas”.
Continuo caminhando na galeria que dá acesso ao primeiro cenário. Eu me sinto confiante e totalmente tranquilo, diversamente de quando entrei na gruta. O medo, o escuro e o imprevisto me atemorizavam. As três portas que significavam felicidade, medo e fracasso me ajudaram a evoluir e entender o sentido das coisas. O fracasso representa tudo aquilo de que fugimos sem saber por quê. O fracasso deve sempre ser um momento de aprendizado. É nesse momento que o ser humano descobre que não é perfeito, que o caminho ainda não está traçado e é o momento de reconstrução. É isso que devemos fazer sempre: renascer. Vejam o exemplo das árvores: elas perdem as folhas, mas não a vida. Sejamos como elas: metamorfoses ambulantes. A vida exige isso. O medo é presente sempre que nos sentimos ameaçados ou subjugados. Ele é ponto de partida para novos fracassos. Supere seus medos e descubra que ele só existe em nossa imaginação.
Eu já percorri uma boa parte da galeria da gruta e, nesse exato momento, ultrapasso a porta da felicidade. Todos podem ultrapassar essa porta e se convencer de que a felicidade existe e é alcançada se estivermos completamente em sintonia com o universo. Ela é relativamente simples. O operário, o pedreiro, os serventes são felizes ao realizarem o seu mister. O agricultor, o canavieiro, os boiadeiros são felizes ao recolherem o produto dos seus trabalhos. O professor, em ensinar e aprender. O escritor, em escrever e ler. O padre, em proclamar a mensagem divina, e os menores carentes, os órfãos, os mendigos, ao receber uma palavra de carinho e afeto. A felicidade está dentro de nós e espera continuamente para ser descoberta. Para sermos realmente felizes, devemos esquecer o ódio, as intrigas, os fracassos, o medo e a vergonha.
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