Aldivan Teixeira Torres

Forças Opostas


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para realizar sonhos materiais, como dinheiro, poder e ostentação social, ou sonhos egoístas. Todos fracassaram até aqui, e não foram poucos. A gruta é justa com os desejos.

      A conversa continuou animada durante algum tempo. Fui perdendo, pouco a pouco, o interesse por ela, pois uma estranha voz me chamava a sair da cabana. Cada vez que essa voz me chamava, eu me sentia compelido a ir por curiosidade. Eu tinha que ir. Queria saber o que significava aquela estranha voz no meu pensamento. Com delicadeza, despedi-me da senhora e pus-me a andar na direção indicada pela voz. O que me espera? Continuemos juntos, leitor.

      A noite era fria, e a insistente voz permanecia na minha mente. Era um tipo de ligação estranha entre mime ela. Já tinha andado poucos metros fora da cabana, mas pareciam ser quilômetros pelo cansaço que meu corpo respirava. As instruções que eu recebia mentalmente me guiavam na escuridão. Um misto de cansaço, medo do desconhecido e curiosidade imperavam em meu ser. Quem seria a dona daquela estranha voz? O que queria comigo? A montanha e seus segredos. Desde que a conheci, aprendi a respeitá-la. A guardiã e seus mistérios, os desafios que tive de enfrentar, o encontro com o fantasma, tudo a tornavam especial. Ela não era a mais alta do Nordeste, nem a mais imponente, mas era sagrada. O mito do pajé e os meus sonhos me levaram até ela. Quero vencer todos os desafios, entrar na gruta e fazer o meu pedido. Eu serei um homem transformado. Não serei apenas eu, mas serei o homem que venceu a gruta e seu fogo. Lembro-me bem das palavras da guardiã, para não confiar muito. Lembro-me melhor ainda das palavras de Jesus que disse: “Aquele que acreditar em mim terá vida eterna”.

      O meu risco de vida não me fará desistir dos meus sonhos. É com esse pensamento que eu permaneço com fé. A voz se tornava cada vez mais forte. Acho que estou chegando ao meu destino. Logo à frente, visualizo uma cabana. A voz me diz para eu ir lá. A cabana e a respectiva fogueira que a ilumina estão num lugar espaçoso e plano. Uma jovem alta, magra e de cabelos negros, assa um tipo de petisco em seu fogo.

      – Então você chegou. Eu sabia que você atenderia o meu chamado.

      – Quem é você? O que quer de mim?

      – Eu sou outra sonhadora que pretende entrar na gruta.

      – Que poder especial você tem para me chamar pela mente?

      – É telepatia, bobo. Não conhece?

      – Eu ouvi falar. Poderia me ensinar?

      – Você vai aprender um dia, mas não comigo. Diga-me que sonho traz você aqui?

      – Antes de tudo, meu nome é Aldivan. Eu subi a montanha em busca de encontrar minhas forças opostas. Elas definirão o meu destino. Quando alguém é capaz de controlar suas forças opostas pode realizar milagres. É disso que eu preciso para realizar o meu sonho, que é trabalhar no que gosto e, assim, fazer muitos corações sonharem. Quero entrar na gruta não apenas por mim, mas por todo o universo que me proporcionou os dons. Terei o meu lugar no mundo e assim serei feliz.

      – Meu nome é Nadja. Sou habitante do litoral pernambucano. Na minha terra ouvi falar dessa miraculosa montanha e de sua gruta. Imediatamente interessei-me em fazer uma viagem até aqui, mesmo pensando que tudo não passava de uma lenda. Reuni as minhas tralhas, parti, cheguei a Mimoso e subi a montanha. Eu tirei mesmo a sorte grande. Agora que estou aqui, entrarei na gruta e realizarei o meu desejo. Serei uma grande deusa, ornada de poder e riquezas. Todos me servirão. O seu sonho é apenas uma bobagem. Para que pedir pouco se podemos ter o mundo?

      – Você está enganada. A gruta não realiza desejos mesquinhos. Você vai fracassar. A guardiã não permitirá que você entre nela. Para entrar na gruta, é necessário vencer três desafios. Eu já conquistei duas etapas. Quantas você já venceu?

      – Que mané de desafio e de guardiã. A gruta só respeita o mais forte e o mais convicto. Eu realizarei os meus desejos amanhã e ninguém vai me impedir, ouviu?

      – Você é quem sabe. Quando quiser se arrepender será tarde demais. Bom, acho que vou indo. Preciso descansar um pouco, pois já é tarde. Quanto a você, não posso desejar boa sorte na gruta, pois quer ser maior do que Deus. Quando o ser humano chega a esse ponto, ele destrói a si mesmo.

      – Tudo bobagem e palavras. Nada me fará voltar atrás em minha decisão.

      Vendo que ela estava irredutível afastei-me dela com pena. Como as pessoas tornam-se pequenas, às vezes. O ser humano só é digno quando luta por ideais justos e igualitários. Percorrendo a trilha, lembrei-me das vezes que fui injustiçado, por uma prova mal corrigida, ou mesmo pelo descaso dos outros. Isso me deixa inconformado. Além de tudo, a minha família é avessa ao meu sonho e não acredita em mim. Como é doloroso! Um dia eles vão me dar razão e ver que os sonhos podem ser possíveis. Nesse dia, depois que tudo passar, eu cantarei a minha vitória e glorificarei o criador. Ele me deu tudo e só exigiu que eu resplandecesse meus dons, pois, como diz a Bíblia, não se acende uma luz para colocá-la debaixo da mesa, e sim em cima para que todos aplaudam e sejam iluminados. A trilha se desfaz, logo vejo a cabana que tanto suor me custou. Preciso dormir, pois amanhã será outro dia e tenho planos para mim e o mundo. Boa noite, leitores. Até o próximo capítulo.

      Surge um novo dia. A luz aparece, a brisa da manhã acaricia os nossos cabelos, pássaros e insetos fazem a festa, a vegetação parece renascer. Isso acontece todos os dias. Esfrego os olhos, lavo o rosto, escovo os dentes e tomo um banho. Esta é a minha rotina antes do café da manhã. A mata não oferece regalias nem opções. Eu não estou acostumado. A minha mãe sempre me mimou a ponto de servir o café para mim. Tomo meu desjejum em silêncio, mas com a mente aflita. Qual será o terceiro e último desafio? O que acontecerá comigo na gruta? São tantas as perguntas sem resposta que me deixam zonzo. A manhã avança e com ela minhas palpitações, meus temores e calafrios. Quem eu era agora? Certamente não era o mesmo. Subi a montanha sagrada atrás de um destino que eu mesmo não conhecia. Encontrei a guardiã e descobri novos valores e um mundo maior do que eu jamais pensei antes. Venci dois desafios e agora só me restava o terceiro. Um terceiro frio, distante e desconhecido. As folhas ao redor da cabana levemente se moveram. Aprendi a entender a natureza e seus sinais. Alguém se aproxima.

      – Oh de casa! Ou melhor, oh da cabana!

      De um sobressalto, mudo a direção do meu olhar e contemplo a figura misteriosa da guardiã. Ela me parece mais feliz e rosada, apesar da idade que aparenta.

      – Estou aqui, como me vê. Que novidades traz para mim?

      – Como você sabe, hoje venho anunciar o seu terceiro e último desafio. Ele será realizado no seu sétimo dia sob a montanha, pois é o prazo máximo que um mortal pode ficar sob ela. Ele é simples e consiste no seguinte: mate o primeiro ser, homem ou animal, que você encontrar ao sair da cabana nesse mesmo dia. Caso contrário, você não terá direito de entrar na gruta que realiza os desejos mais profundos. O que você me diz? Não é fácil?

      – Como assim? Matar? Por acaso sou um assassino?

      – É a única condição para você entrar na gruta. Prepare-se, pois, só faltam dois dias e.…um tremor de 3,7 graus na escala Richter abala todo o topo da montanha. O tremor me deixa tonto e penso que vou desmaiar. Pensamentos e mais pensamentos me vêm à mente. Sinto minhas forças se esgotando e algemas que prendem com força minhas mãos e meus pés. Num rápido momento, vejo-me escravo, trabalhando em cafezais dominados por senhores. Vejo o chicote, o sangue e o clamor dos meus companheiros. Vejo a riqueza dos coronéis, seu orgulho e sua perfídia. Vejo também o grito por liberdade e por justiça dos oprimidos. Ó, como o mundo é injusto! Enquanto uns vencem, outros apodrecem esquecidos. As algemas quebram. Eu estou parcialmente livre. Ainda sou discriminado, odiado e injustiçado. Ainda vejo a maldade dos brancos me chamando de negro. Continuo me sentindo inferior. Ouço novamente gritos de clamor, mas agora a voz é clara, nítida e conhecida. O tremor desaparece e pouco a pouco retomo a consciência. Alguém me levanta. Ainda um pouco tonto, exclamo:

      – O que aconteceu?

      A guardiã,