Aldivan Teixeira Torres

Forças Opostas


Скачать книгу

escuta e me apoia em todos os meus planos. Estamos completamente interligados durante a meditação. Toda essa harmonia e cumplicidade deixaram-me totalmente tranquilo e concentrado em meus desejos. Até que algo mudou: senti o mesmo toque que outrora me despertara. Abri os olhos, vagarosamente, e percebi que estava diante da mesma senhora que se denominou a guardiã da montanha sagrada.

      – Vejo que entendeu o segredo da meditação. A montanha o ajudou a descobrir um pouco do seu potencial. Você crescerá muito em todos os sentidos. Eu o ajudarei nesse processo. Primeiramente, peço que vá retirar da natureza caibros, ripas, esteios e linhas, para erguer sua cabana, e lenha, para fazer uma fogueira. A noite já está chegando, e você precisa se proteger dos animais ferozes. A partir de amanhã, eu o ensinarei a sabedoria da mata para que você possa vencer o seu verdadeiro desafio: a gruta do desespero. Somente o coração puro sobrevive ao fogo de sua análise. Quer realizar seus sonhos? Então pague o preço por eles. O universo não dá nada de graça a ninguém. Somos nós que nos tornamos dignos de alcançar o sucesso. Esta é uma lição que você deve aprender, meu jovem.

      – Entendo. Aprenderei tudo o que for necessário para vencer o desafio da gruta. Não tenho ideia do que seja, mas estou confiante. Se eu venci a montanha, também vencerei a gruta de seu topo. Quando eu sair de lá, penso que estarei preparado para vencer e ter sucesso.

      – Espere, não tenha tanta confiança. Você não conhece a gruta da qual eu estou falando. Saiba que muitos guerreiros já foram provados por seu fogo e foram destruídos. A gruta não tem pena de ninguém, nem mesmo dos sonhadores. Tenha paciência e aprenda tudo o que vou ensinar. Assim você se tornará um verdadeiro vencedor. Lembre-se: a autoconfiança ajuda desde que na medida certa.

      – Compreendo. Obrigado por todos os seus conselhos. Prometo segui-los até o fim. Quando o desespero da dúvida me açoitar, eu me lembrarei deles e do Deus que me guarda sempre. Quando eu não tiver mais saída na noite escura da alma, eu não temerei. Vencerei a gruta do desespero! A gruta da qual ninguém jamais escapou.

      A senhora despediu-se amigavelmente, prometendo voltar no outro dia.

      Um novo dia aparece. Pássaros assobiam e cantam suas melodias, o vento é nordeste, e sua brisa refresca o sol que, nessa época, é forte, mesmo quando amanhece. O mês corrente é dezembro e representa para mim um dos mais belos meses por ser o início das férias escolares. É um descanso merecido após um longo ano de dedicação aos estudos no curso de licenciatura em Matemática. O momento requer o esquecimento de todas as integrais, derivadas e coordenadas polares. Preciso preocupar-me agora com todas as provas que a vida me desafiar. Disso depende o meu sonho. As minhas costas doem, é o resultado de uma noite mal dormida no terreno batido que eu preparei. A cabana que construí com muito esforço e a fogueira que acendi me deram uma certa segurança à noite. Porém, não deixei de ouvir uivos e passos ao redor dela. Onde os meus sonhos me levaram? A um fim de mundo onde as comodidades da civilização não chegam. O que você faria, leitor? Arriscar-se-ia numa viagem para realizar seus sonhos mais profundos? Continuemos a narrativa.

      Envolto em pensamentos e indagações, nem percebi que, ao meu lado, estava a estranha senhora que prometia me ajudar no meu caminho.

      – Acordou bem?

      – Se bem significa estar inteiro, sim.

      – Antes de qualquer coisa, devo avisar que o solo que você está pisando é sagrado. Portanto, não se deixe levar pela aparência ou por impulsividade. Hoje é o seu primeiro desafio. Não lhe trarei mais alimentos nem água. Você irá buscá-los por conta própria. Siga seu coração em todas as situações. Você deve provar que é digno.

      – Há água e alimentos nesse matagal, e eu devo pegá-los? Olha, senhora, que estou acostumado a fazer compras em supermercado. Vê esta cabana? Custou-me muito suor e ainda considero que não está segura. Por que não me concede o dom de que necessito? Creio que já provei ser digno no momento que escalei essa montanha tão íngreme.

      – Procure o alimento e a água. A montanha é apenas uma etapa do seu processo de aperfeiçoamento espiritual. Você ainda não está pronto. Devo lembrar que eu não concedo dons. Não tenho poder para isso. Sou apenas a seta que indica o caminho. A gruta é quem realiza os desejos. É chamada a gruta do desespero por ser procurada por aqueles cujos sonhos se tornam impossíveis.

      – Eu vou tentar. Não tenho mais nada a perder mesmo. A gruta é a minha última esperança de sucesso.

      Dito isso, levantei-me e comecei a realizar o primeiro desafio. A senhora desapareceu como fumaça.

      À primeira vista, percebo que na minha frente há uma estrada de vereda batida. Começo a andar por ela. Diante daquele matagal cheio de espinhos, o melhor seria seguir a trilha. As pedras que meus passos derribam parecem querer me dizer alguma coisa. Será que estou no caminho certo? Penso em tudo que deixei para trás em busca do meu sonho: casa, alimento, roupa lavada e meus livros de Matemática. Será que valerá a pena? Penso que vou descobrir (o tempo dirá). A estranha senhora parece não ter me dito tudo. Por mais que eu ande, não encontro nada. O topo não parecia ser tão extenso assim logo que cheguei. Uma luz? Vejo uma luz à frente. Preciso ir até lá. Chego a uma clareira espaçosa, onde os raios de sol refletem claramente o aspecto da montanha. A trilha se desfaz e renasce em dois caminhos distintos. O que fazer? Há horas que eu ando e minhas forças parecem ter se esgotado.

       Sento-me um momento para descansar. Dois caminhos e duas escolhas. Quantas vezes, na vida, nos deparamos com situações como essa. O empresário que tem de escolher entre a sobrevivência da empresa e a demissão de alguns funcionários. A mãe pobre do sertão do Nordeste que tem de escolher um dos filhos para alimentar. O marido infiel que tem de escolher entre sua esposa e a amante. Enfim, são inúmeras as situações na vida. A minha vantagem é que a minha escolha só afetará a mim mesmo. Preciso seguir minha intuição, como a senhora recomendou.

      Levanto-me e escolho o caminho da direita. Caminho a largos passos nessa trilha e não demora muito para eu vislumbrar outra clareira. Desta feita, encontro um poço de água e alguns animais à sua volta. Eles se refrescam na água límpida e transparente. Como proceder? Encontro a água, mas ela está infestada de animais. Consulto o meu coração e ele me diz que todos têm direito à água. Eu não poderia tangê-los e privá-los desse bem. A natureza dá em abundância seus recursos para a sobrevivência de seus seres. Eu sou um de seus fios que ela tece. Não sou superior a ponto de me considerar dono dela. Com as minhas mãos, tenho acesso à água e a reservo em um pequeno pote que trouxe de casa. A primeira parte do desafio está cumprida. Preciso achar agora o alimento.

      Continuo andando para a frente, na trilha, esperando encontrar alguma coisa para comer. O meu estômago ronca, pois já passa do meio-dia. Começo a olhar de lado. Talvez o alimento esteja dentro da mata. Quantas vezes não procuramos o caminho mais fácil, mas não é ele que conduz ao sucesso (nem sempre o escalador que percorre uma trilha consegue ser o primeiro a chegar ao topo de uma montanha). Os atalhos conduzem mais rápido ao objetivo. Com esse pensamento, saio da trilha e, pouco tempo depois, encontro uma bananeira e um coqueiro. É deles que vou retirar alimento. Preciso subir neles com a mesma força e fé que escalei a montanha. Tento uma, duas, três vezes. Consegui. Voltarei agora para a cabana, pois cumpri o primeiro desafio.

      Ao chegar à cabana, encontro a guardiã da montanha mais fulgurante do que nunca. O seu olhar não consegue separar-se do meu. Penso que sou realmente especial para Deus. Em todos os momentos, sinto a presença Dele. Ele me ressuscitou em todos os sentidos. Quando eu estava sem trabalho, ele me abriu as portas; quando eu não tinha oportunidades de crescer profissionalmente, ele me abriu caminhos; quando eu estava em crise, ele me libertou das amarras do demônio. Enfim, aquele olhar de aprovação da estranha senhora lembrou-me o homem que eu era até pouco tempo atrás. O meu objetivo atual era vencer, sem me importar com os