Aldivan Teixeira Torres

Forças Opostas


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a minha mente.

      Num momento, parecia que todo meu corpo flutuava sob o céu. Uma voz bem fininha me chamou de longe. Noutro momento era como se eu ultrapassasse portas e portas como obstáculos. As portas eram muito bem trancadas, e eu fazia um imenso esforço para abri-las. Cada porta dava acesso a salões ou santuários, alternadamente. No primeiro salão encontrei jovens vestidas de branco, reunidas ao redor de uma mesa onde no centro havia uma Bíblia aberta. Eram as virgens escolhidas para reinar no mundo futuro. Uma força me empurrou para fora do salão e, quando abri a segunda porta, fui parar no primeiro santuário. À beira do altar, estavam sendo queimados incensos com pedidos dos pobres do Brasil. Do lado direito, um sacerdote orava em voz alta e repentinamente começou a repetir: Vidente! Vidente! Vidente! Ao lado dele, havia duas mulheres com camisetas brancas onde estava escrito: sonho possível. Tudo começou a escurecer e, quando dei por mim, fui arrastado violentamente para fora com tal velocidade que me deixou um pouco tonto.

      Abri a terceira porta e desta feita encontrei uma reunião de pessoas: um pastor, um padre, um budista, um islamita, um espírita, um judeu e um representante das religiões africanas. Eles estavam dispostos em círculo e no centro havia um fogo, cujas chamas desenhavam a expressão: união dos povos e caminhos para Deus. No fim, eles se abraçaram e me chamaram para o grupo. O fogo se moveu do centro, pousou na minha mão e desenhou a palavra aprendizado. O fogo era pura luz e não provocava queimaduras. O grupo se desfez, o fogo apagou-se e novamente fui empurrado para fora do salão.

      Abri a quarta porta. O segundo santuário estava totalmente vazio e aproximei-me do altar. Ajoelhei-me em reverência ao santíssimo, peguei um papel que estava no chão e escrevi meu pedido. Dobrei o papel e coloquei-o aos pés de uma imagem. A voz que estava longe gradativamente tornava- se mais clara e nítida. Saí do santuário, abri a porta e finalmente acordei. Ao meu lado estava a guardiã da montanha.

      – Então você acordou? Meus parabéns! Você venceu o desafio. O segundo desafio teve como objetivo explorar sua capacidade de autodoação e ação. Os dois caminhos que representavam as “forças opostas” tornaram-se um só, e isso significa que você deve trilhar o lado direito sem se esquecer do aprendizado que terá ao conhecer o esquerdo. A sua atitude salvou o menino, apesar de que ele não precisasse disso. Toda aquela cena foi uma projeção mental minha para avaliá-lo. Você tomou a atitude certa. A maioria das pessoas, quando se deparam com cenas de injustiça, preferem não se intrometer. A omissão é um pecado grave, e a pessoa torna-se cúmplice do agressor. Você auto doou-se como fez Jesus Cristo por nós. Isso é uma lição que você levará para toda a vida.

      – Obrigado por me parabenizar. Eu agiria sempre em favor dos excluídos. O que me intriga é a experiência espiritual que tive agora há pouco. O que significa? Poderia me explicar, por favor.

      – Todos nós temos a capacidade de penetrar em outros mundos através do pensamento. É o que se chama viagem astral. Há alguns experts em relação a esse assunto. O que você viu deve estar relacionado ao seu futuro ou ao das pessoas. Nunca se sabe.

      – Entendo. Eu subi a montanha, cumpri os dois primeiros desafios e devo estar crescendo espiritualmente. Creio que brevemente estarei pronto para enfrentar a gruta do desespero. A gruta que realiza milagres e torna os sonhos mais profundos.

      – Você deve realizar o terceiro desafio, e eu lhe direi qual é amanhã. Aguarde instruções.

      – Sim, general. Esperarei ansiosamente. O filho de Deus, como a senhora me denominou, está com muita fome e preparará uma sopa para mais tarde. A senhora está convidada.

      – Ótimo. Eu adoro sopa. Aproveitarei para conhecê-lo melhor.

      A estranha senhora afastou-se e deixou-me sozinho com meus pensamentos. Fui procurar na mata os ingredientes para a sopa.

      A Jovem

      A montanha já se encontrava às escuras quando a sopa ficou pronta. O vento frio da noite e o cricri dos insetos tornava o ambiente mais rural. A estranha senhora ainda não se encontrava na cabana. Esperava deixar tudo em ordem até que ela chegasse. Experimentei a sopa: ela realmente havia ficado boa, apesar de que eu não tivesse todos os temperos necessários. Saí um pouco da cabana e contemplei o céu: as estrelas eram testemunhas dos meus esforços. Subi a montanha, encontrei sua guardiã e cumpri dois desafios (um mais difícil do que o outro), encontrei um fantasma e ainda estou de pé. “Os pobres esforçam-se mais por seus sonhos. ” Olho a disposição das estrelas e sua luminosidade. Cada qual tem sua importância no grande universo em que vivemos. As pessoas também são assim, importantes. Sejam brancas, negras, ricas, pobres, da religião A, da religião B, ou de qualquer crença. Todas são filhas do mesmo pai. Eu também quero ter o meu lugar no universo. Sou um ser pensante e sem limites. Creio que um sonho não tem preço e estou disposto a pagá-lo ao entrar na gruta do desespero. Contemplo mais uma vez o céu e volto à cabana. Qual não foi a minha surpresa ao já encontrar a guardiã.

      – Você já está aqui? Eu nem me dei conta.

      – Você estava tão concentrado em contemplar o céu que não quis quebrar o encanto do momento. Além disso, considero-me de casa.

      – Muito bem. Sente-se nesse banco improvisado que fiz. Vou servir a sopa já.

      Com a sopa ainda quente, servi a estranha senhora na cuia que eu mesmo encontrei na mata. O vento gelado da noite me acariciou o rosto e sussurrou algumas palavras no meu ouvido. Quem seria aquela estranha senhora que eu estava servindo? Será que ela queria mesmo me destruir como insinuou o fantasma? Eu tinha muitas dúvidas sobre ela e essa era uma ótima oportunidade para saná-las.

      – A sopa está boa? Eu prepararei com muito esmero.

      – Está ótima! O que você usou para prepará-la?

      – É sopa de pedra. Brincadeirinha! Comprei um pássaro de um caçador e usei alguns temperos naturais da mata. Mas, mudando de assunto, quem é você realmente?

      – É da boa hospitalidade que o anfitrião fale primeiro sobre si mesmo. Já faz quatro dias que você chegou aqui ao topo da montanha e não sei qual é o seu nome.

      – Tudo bem. Mas é uma longa história. Prepare-se. Meu nome é Aldivan Teixeira Tôrres e curso o sétimo período da faculdade de Matemática. Minhas duas grandes paixões são a literatura e a matemática. Eu sempre fui um amante dos livros e desde pequeno ambiciono escrever o meu. Quando eu estava no primeiro ano do ensino médio, eu reuni alguns trechos dos livros de Eclesiastes, Sabedoria e Provérbios. Fiquei muito feliz apesar dos textos não serem da minha autoria. Eu mostrei a todo mundo, com muito orgulho. Terminei o ensino médio, fiz um curso de informática e parei meus estudos por um tempo. Depois, ingressei num curso técnico de Eletrotécnica pertencente na época ao Centro Federal de Educação Tecnológica. No entanto, percebi que não era minha área por um sinal do destino. Eu estava preparado para estagiar nessa área. Porém, no dia anterior ao teste que eu ia fazer, uma força estranha me pedia continuamente para eu desistir. Quanto mais passava o tempo, maior era a pressão exercida por essa força. Até que eu resolvi não fazer o teste. A pressão acalmou, e o meu coração também. Creio que tenha sido um sinal do destino para eu não ir. Temos que respeitar nossos próprios limites. Fiz alguns concursos, fui aprovado e atualmente exerço a função de assistente administrativo educacional. Há três anos tive outro sinal do destino. Eu tive alguns problemas e acabei entrando em crise nervosa. Comecei então a escrever e em pouco tempo isso me ajudou a melhorar. O resultado de tudo foi o livro: Visão de um médium, que não publiquei. Tudo isso me mostrou que eu era capaz de escrever e ter uma profissão digna. Penso que seja isso: quero trabalhar no que gosto e ser feliz. Será que é pedir demais para um pobre?

      – Claro que não, Aldivan. Você tem talento e isso é o que é mais raro no mundo. No tempo certo você vencerá. As pessoas vitoriosas são aquelas que acreditam em seus sonhos.

      – Eu acredito, sim. Por isso estou aqui nesse fim de mundo, aonde as comodidades da civilização ainda não chegaram. Dispus-me a subir a montanha, a vencer os desafios. Resta-me agora entrar na gruta e realizar os meus sonhos.