Andres Mann

Tess


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      - Foi por isso que eu o convidei para me visitar, Belcour. Meus oficiais são medrosos, não têm coragem de conversar sobre coisas desagradáveis.

      Uma verdade, visto que Kim tinha propensão a mandar executar sumariamente quem lhe dissesse qualquer coisa que não fosse do seu agrado.

      - Bem, você disse que queria uma opinião sem censura da situação atual, e que eu lhe sugerisse possíveis soluções. Vou fazer um resumo de onde estamos. Há as sanções impostas pelos Estados Unidos e outros países do Ocidente, porque o seu programa nuclear e de mísseis impediram seu país de participar da comunidade financeira internacional. Para compensar, a China tem apoiado a Coreia do Norte, permitindo que o seu povo trabalhe nas fábricas deles, localizadas fora das suas fronteiras. Os chineses pagam o salário deles para o seu governo, e você paga aos trabalhadores o quanto quer. Você tinha um acordo semelhante com a Coreia do Sul para as fábricas dentro do seu país, mas os sul-coreanos se retiraram depois que começou a lançar mísseis para a estratosfera. Isso não ajudou. Você precisa muito dos dólares gerados pela cooperação com a Coreia do Sul.

      - Eu não me preocuparia muito com as minhas discussões com meus camaradas do sul; eles são fracos e medrosos. Sabem que sou capaz de apagar Seul do mapa em um ou dois dias, porque a cidade fica muito perto da nossa fronteira. Dependo da China, e me divirto aborrecendo os chineses. Eles sabem muito bem que não têm outra opção a não ser apoiar o meu regime, porque a última coisa que podem querer é uma Coreia reunificada, apoiada e armada pelos Estados Unidos logo atrás da fronteira. De qualquer modo, você sabe que boa parte do nosso comércio é com a China, que fornece os artigos de luxo de que eu preciso para manter o meu alto escalão contente.

      - Com o devido respeito, Grande Líder, a situação não é sustentável no longo prazo. Quanto mais ameaçar uma guerra com suas armas nucleares, mais os aliados irão apertar o nó. Em algum momento você será forçado a capitular, a menos que encontremos soluções criativas.

      - Gosto da sua linha de raciocínio, Belcour. Soluções criativas é um ingrediente em falta nos meus círculos. Conte-me as suas ideias.

      - Será um prazer lhe dar as minhas ideias, mas primeiro tenho de sair desta banheira, antes que seja cozido vivo.

      O Líder Supremo fez um aceno com a mão, e várias mulheres lhes trouxeram grandes toalhas. Kim e Belcour passaram para uma mesa de canto, enfeitada com um belo arranjo de flores. Outras mulheres trouxeram duas taças e serviram de uma garrafa de Dom Perignon.

      Belcour deu um gole e se preparou para mostrar o seu plano.

      - Grande Líder, precisamos pensar de maneira pouco convencional, se quisermos avançar e superar os obstáculos à nossa frente. Os Estados Unidos e seus aliados vão continuar impondo sanções, e não irão afrouxar até você abandonar seu programa de armas nucleares. Eles conseguiram forçar o Irã a abandonar o programa deles, e agora acham que podem usar a mesma estratégia com seu país.

      - Os iranianos não tinham as bombas, mas eu tenho. Meus militares estão trabalhando na miniaturização de armas nucleares neste exato momento. Em breve, terei condições de lançar mísseis capazes de atingir o oeste dos Estados Unidos. Isso conseguirá chamar a atenção deles.

      - Grande Líder, já está atraindo mais atenção do que deveria. A Frota do Pacífico dos Estados Unidos está no mar do sul da China. Seu objetivo principal é enviar uma mensagem aos chineses depois de eles terem ocupado ilegalmente algumas ilhas desertas, mas também estão lá para deixá-lo cercado. Voaram impunemente dentro do seu espaço aéreo com caças invisíveis F-22, e estão trazendo bombardeiros B-52, capazes de transportar armas nucleares. Se lançar um míssil rumo a qualquer lugar próximo à zona de interesse deles, os americanos irão atacá-lo com tudo para se vingar. Se lançar suas armas nucleares para onde elas não deveriam ir, os americanos irão transformar o seu país num enorme pátio de estacionamento.

      - Não antes de eu ter apagado Seul do mapa.

      Belcour começava a perder a paciência com a obstinação daquele Calígula asiático. Sabia que precisava encontrar alguma solução para demovê-lo daquela irracionalidade.

      - Grande Líder, não pode esperar que a China continue a apoiá-lo se soltar bombas atômicas nos seus vizinhos, nem precisa ser nos Estados Unidos. A China agora tem laços econômicos muito fortes com os Estados Unidos e a Europa. Não teriam nada a ganhar entrando em guerra com seus maiores clientes.

      - Os chineses continuarão me apoiando, porque não têm outra opção.

      - Novamente, eu não contaria mais com isso. De qualquer modo, se começar uma guerra, você não tem recursos para resistir por mais do que umas poucas semanas. Pode se vangloriar de suas armas nucleares mas, se chegar a usá-las, isso causará o fim do seu regime e do seu povo. Peço desculpas se estiver sendo demasiadamente direto e objetivo.

      - Vamos supor que você tenha razão, Belcour. Qual é o seu plano?

      Belcour sorveu mais um gole de champanhe e falou como se estivesse dando uma aula.

      - Grande Líder, precisamos desviar a atenção dos poderes ocidentais de sua pessoa, para permitir a execução de certas ações destinadas a melhorar a situação estratégica do seu país. Esta é a minha sugestão: use um dos seus valiosos ativos para criar um tumulto capaz de forçar os aliados a posicionarem seu aparato bélico em outro lugar e prestarem menos atenção no que você pretende fazer.

      - De que ativos está falando, Belcour?

      - Das suas bombas nucleares, é claro. Tudo o que precisamos é “perder” uma delas, ganhar uns trocados vendendo-as aos terroristas do Oriente Médio, e deixar as coisas acontecerem.

      Kim parou para pensar.

      - Sem dúvida, os terroristas irão usar essas armas, e pouco me importa se o fizerem. O problema é que os americanos serão capazes de rastrear o material nuclear até sua origem. Então eles virão atrás do meu país.

      - É verdade, Grande Líder, a menos que sejamos suficientemente espertos com a maneira de fazer isso.

      - Sou todo ouvidos. – respondeu Kim.

      C

      omo Aara e sua amiga Marietta haviam viajado numa excursão musical para o norte do estado de Nova York, Tess e Jake resolveram desfrutar de um jantar sossegado em casa, um apartamento situado num arranha-céu em Manhattan. Jake telefonou para alguns restaurantes, pedindo para entregarem alguns de seus pratos favoritos. Missão cumprida, acomodaram-se em sua rotina habitual: Tess assistia ao noticiário na TV enquanto acariciava Maggie, uma bonita cadela da raça Cavalier King Charles Spaniel. Jake foi para seu estúdio e sentou-se diante do computador. Assim que se sentou, Sebastian, seu buldogue inglês, também conhecido como Tubby, Miolo-Mole e outros nomes, todos eles sugestivos de uma mente inepta, achegou-se a ele e deitou sua cabeça pelancuda sobre seus sapatos.

      Dez anos se passaram até Tess e Jake resolverem ter animais de estimação. Tess gostava de Cavs desde jovem e, quando saiu à procura de um cão, apaixonou-se por um filhote do tipo Blenheim, uma fêmea castanha e branca. Ela queria um companheiro para Maggie, porém Jake insistiu em direitos iguais. Ele sempre desejara ter um buldogue inglês e, quando viu um filhote castanho-avermelhado e branco, que parecia uma bola de bilhar com o dobro do peso, escolheu, e decidiu que aquele seria o seu cão. Na verdade, quem fez a escolha foi o filhote, dando uma lambida bem babada no