encarrega dos outros. Nós três nos apressamos e logo estamos refazendo nossos passos de volta à íngreme trilha. Em minutos, estamos de volta ao caminhão e estou aliviada de ver que tudo ainda está aqui. Olho para o horizonte e não vejo sinais de movimentação em lugar nenhum da montanha, nem no vale.
Entramos de novo no caminhão, giro a ignição, feliz de ver que ela funciona e partimos. Temos comida, suprimentos, nossa cachorra e eu pude me despedir da casa de papai. Estou satisfeita. Sinto que Bree, ao meu lado, também está contente. Logan olha para fora da janela, perdido em seus próprios pensamentos, mas não consigo deixar de imaginar que ele também acha que fizemos a decisão certa.
A trilha de volta, para descer a montanha, é desnivelada, para minha surpresa, os breques desta picape velha estão aguentando bem. Em alguns lugares, onde é bem íngreme, deslizamos controladamente, não brecamos realmente, mas, em alguns minutos, já passamos pelo pior e estamos de volta à estável Rota 23, em direção ao Leste. Vamos acelerando e, pela primeira vez em algum tempo, sinto-me otimista. Temos ferramentas preciosas e comida suficiente para nós para alguns dias. Estou me sentindo bem, realizada, enquanto cruzamos a Rota 23, apenas a alguns minutos de chegarmos ao barco.
E, então, tudo muda.
Aperto os freios repetidamente ao ver uma pessoa surgir do nada e ficar bem no meio da rua, balançando os braços histericamente, bloqueando nosso caminho. Ele está a menos de cinquenta metros de nós e eu preciso pisar nos freios com toda a minha força, fazendo a picape patinar;
“NÃO PARE!” Logan manda. “Continue dirigindo!” Ele está usando seu tom militar.
Mas eu não consigo lhe dar ouvidos. Há um homem ali fora, indefeso, usando uns jeans surrados e um colete sem manga, neste frio. Ele tem uma longa barba preta, cabelos rebeldes e olhos grandes e insanos. É tão magro que não deve comer há dias. Carrega um arco e flecha, preso ao seu peito. É um humano, um sobrevivente, assim como nós, está óbvio.
Ele movimenta seus braços freneticamente e eu não posso atropelá-lo. Também não posso deixá-lo aqui.
Nós paramos bruscamente, a apenas alguns metros do homem. E ele continua lá, de olhos arregalados, como se não esperasse realmente que iríamos brecar.
Logan não perde tempo e sai do carro, com as mãos em sua pistola, mirando na cabeça do homem.
“PARA TRÁS!”ele grita.
Eu também saio.
O homem lentamente levanta os braços, parecendo atordoado enquanto dá vários passos para trás.
“Não atirem!” o homem implora. “Por favor! Eu sou um de vocês! Preciso de ajuda. Por favor. Vocês não podem me deixar morrer aqui. Não como há dias. Deixe-me ir com vocês. Por favor. Por favor!”
Sua voz está fraquejando e eu vejo angústia em seu rosto. Sei como ele se sente. Há pouco tempo, eu estava que nem ele, implorando por qualquer comida nas montanhas. Na verdade, não estou muito melhor que isso agora.
“Aqui, peguem isso!” o homem fala, tirando seu arco e estojo de flechas. “É para vocês! Não quero machucar ninguém!”
“Movimente-se devagar,” Logan avisa, ainda suspeitando.
O homem estende cautelosamente suas mãos e entrega a arma.
“Brooke, pegue,” Logan fala.
Eu dou um passo para frente, pego o arco e as flechas e os jogo dentro do caminhão.
“Veja,” o homem diz, abrindo um sorriso. “Não sou uma ameaça. Só quero me juntar a vocês. Por favor. Não podem me deixar morrendo aqui.”
Lentamente, Logan baixa sua guarda e abaixa um pouco sua arma. Mas continua de olho no homem.
“Desculpe-me,” Logan fala. “Mas não podemos alimentar mais uma boca.”
“Espere!” eu grito para Logan. “Você não é o único aqui. Você não toma todas as decisões.” Viro para o homem. “Qual é o seu nome?” eu pergunto. “De onde você vem?”
Ele olha desesperado para mim.
“Meu nome é Rupert,” ele responde. “Estou sobrevivendo aqui há dois anos. Já vi você e sua irmã antes. Quando os comerciantes de escravos a levaram, eu tentei ajudar. Fui eu quem cortou aquela árvore!”
Meu coração aperta quando ele diz isso. Foi ele quem tentou nos ajudar. Não posso simplesmente deixá-lo aqui. Não é certo.
“Temos que levá-lo,” eu falo para Logan. “Podemos arranjar espaço para mais um.”
“Você não o conhece,” Logan replica. “Além disso, nós não temos comida suficiente.”
“Posso caçar,” o homem fala. “Eu tenho um arco e flechas.”
“E não está te ajudando muito aqui em cima.” Logan retruca.
“Por favor,” Rupert diz. “Posso ser útil. Por favor. Não me interessa a sua comida.”
“Ele vai conosco,” eu falo para Logan.
“Não vai, não,” ele responde. “Você não conhece este home. Não sabe nada sobre ele.”
“Eu mal sei alguma coisa sobre você,” eu falo para Logan, minha raiva crescendo. Odeio como ele consegue ser tão cínico, tão defensivo. “Você não é o único que tem o direito de viver.”
“Se você levá-lo, estará prejudicando todos nós,” ele diz. “Não apenas você. Sua irmã também.”
“Há três de nós aqui pelo que eu saiba,” ouço a voz de Bree.
Eu me viro e vejo que ela saiu do caminhão e está atrás de nós.
“E isto significa que nós somos uma democracia. E meu voto conta. E eu voto para a gente levá-lo junto conosco. Não podemos deixá-lo aqui para morrer.”
Logan balança sua cabeça, parece enojado. Sem mais uma palavra sequer, com sua mandíbula enrijecida, ele entra de volta no caminhão.
O homem olha para mim com um enorme sorriso, sua cara se contrai em milhares de rugas.
“Obrigado,” ele sussurra. “Não sei como posso agradecer.”
“Apenas ande, antes que ele mude de ideia,” eu respondo enquanto retornamos ao caminhão.
Quando Rupert se aproxima da porta, Logan fala, “Você não vai sentar aqui na frente. Fique na parte de trás da picape.”
Antes que eu possa argumentar, Rupert alegremente vai para a parte de trás. Bree entra comigo e logo partimos.
O restante do caminho de volta é desesperador. Enquanto dirigimos, o céu escurece. Eu olho constantemente para o pôr-do-sol através das nuvens, cor de sangue. A cada segundo que passa, fica mais frio e a neve se endurece, vira gelo em alguns lugares, dirigir vai ficando perigoso. O ponteiro do combustível vai caindo, piscando uma luzinha vermelha e, apesar de faltar um quilômetro e meio mais ou menos, sinto como se o caminhão estivesse lutando para andar cada centímetro. Também me sinto muito inquieta com a opinião que Logan tem de nosso novo passageiro. É só mais um desconhecido. Só mais uma boca para alimentar.
Eu silenciosamente desejo que o caminhão continue andando, que o céu continue claro, que a neve não congele enquanto eu piso no acelerador. E, quando acho que nunca iremos chegar, fazemos uma curva e eu finalmente vejo o nosso desvio. Piso com força pela estradinha de terra, descendo na direção do rio, rezando para que o caminhão aguente. O barco, eu sei, está a apenas uns cem metros de distância.
Damos outra curva e, ao fazê-lo, meu coração se alivia quando vejo o barco. Ainda está ali, balançando na água, vejo Ben em pé, parece nervoso, olhando para o horizonte, procurando por nós.
“Nosso barco!” Bree grita entusiasmada.
Esta rua tem ainda mais lombadas quando aceleramos pela descida. Mas vamos conseguir. Nunca me senti tão aliviada.
Enquanto