Блейк Пирс

Acorrentadas


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compassivamente, “Eu percebo. Eu compreendo.”

      April fitou-a com uma expressão de espanto. Por um segundo, parecia estar à beira das lágrimas. Riley ficou quase tão surpreendida como a filha. Não sabia o que lhe tinha dado. Só sabia que não era o momento de sermões parentais, mesmo que tivesse tempo para proferir um, coisa que na verdade não tinha. No seu íntimo também tinha a certeza que tinha dito as palavras certas.

      Riley e April saíram do carro e caminharam lado a lado em direção à casa. Não sabia se Ryan estaria ou não em casa. Não queria discutir com ele e já tinha decidido não lhe contar nada acerca do incidente com a marijuana. Sabia que devia, mas não havia tempo para lidar com as reações que provocaria naquele momento. De qualquer das formas, teria que lhe explicar que estaria fora durante alguns dias.

      Gabriela, a mulher guatemalteca robusta e de meia-idade que cuidava da casa da família há anos, cumprimentou Riley e April à porta. Os olhos de Gabriela, muito abertos, demonstravam preocupação.

      “Hija, onde estiveste?” Perguntou com o seu sotaque carregado.

      “Desculpa Gabriela,” Disse April docilmente.

      Gabriela olhou com atenção para o rosto de April. Riley viu pela sua expressão que percebera que April tinha fumado erva.

      “Tonta!” Atirou Gabriela asperamente.

      “Lo siento mucho,” Disse April, parecendo genuinamente arrependida.

      “Vente Conmigo,” Disse Gabriela. Ao afastar April, voltou-se e lançou a Riley um olhar de amarga desaprovação.

      Riley encolheu sob aquele olhar. Gabriela era uma das poucas pessoas no mundo que realmente a assustava. A mulher também tinha uma forma magnífica de lidar com April e naquele momento, parecia estar a cuidar melhor de April do que ela própria.

      Riley perguntou a Gabriela, “O Ryan está em casa?”

      Virando-se, replicou, “Sí.” Depois dirigiu a voz para o interior da casa, “Señor Paige, a sua filha voltou.”

      Ryan surgiu no corredor, vestido e penteado para sair. Parecia surpreendido por ver Riley.

      “O que é que estás a fazer aqui?” Perguntou. “Onde estava a April?”

      “Estava em minha casa.”

      “O quê? Depois de tudo o que aconteceu a noite passada, levaste-a para casa?”

      Riley exasperou-se.

      “Não a levei a lado nenhum,” Disse. “Pergunta-lhe se quiseres saber como lá foi parar. Não posso evitar o facto de ela não querer viver contigo. Só tu podes resolver isso.”

      “Isto é culpa tua, Riley. Deixaste que ela ficasse completamente fora de controlo.”

      Por um milésimo de segundo, Riley ficou furiosa. Mas a fúria acabou por dar lugar a um sentimento de impotência, à sensação de que ele podia ter razão. Não era justo, mas ele sabia despoletar aqueles sentimentos nela.

      Riley respirou profunda e longamente, e disse, “Vou estar fora da cidade durante uns dias. Tenho um caso em Nova Iorque. A April tem que ficar cá e vai ter que se portar bem. Explica, por favor, a situação à Gabriela.”

      “Explica tu a situação à Gabriela,” Disparou Ryan. “Neste momento, tenho uma reunião com um cliente.”

      “E eu neste momento tenho que apanhar um avião.”

      Ficaram a olhar um para o outro durante alguns segundos. A discussão tinha chegado a um impasse. Ao olhá-lo nos olhos, Riley lembrou-se que já o amara. E ele também. Mas isso fora na altura em que eram jovens e pobres, antes de ele se tornar num advogado de sucesso e ela numa agente do FBI.

      Não se conseguiu impedir de reparar que ele ainda era um homem muito atraente. Tinha muito trabalho para manter aquela aparência e passava muitas horas no ginásio. Riley também sabia bem que ele tinha muitas mulheres na sua vida. Isso era parte do problema – gozava demasiado a sua liberdade de homem solteiro para se preocupar em ser pai.

      Não que eu me esteja a sair melhor, Pensou Riley.

      Então Ryan disse, “É sempre o trabalho.”

      Riley sufocou a raiva. Já tinham falado imensas vezes sobre aquele assunto. O trabalho dela era demasiado perigoso e demasiado trivial. O trabalho dele era o mais importante, porque ele ganhava muito mais dinheiro e porque alegava que fazia a diferença no palco do mundo. Como se tratar de processos de clientes ricos fosse mais importante do que a interminável missão de Riley contra o mal.

      Mas ela não se podia deixar arrastar para esta velha discussão de sempre naquele momento. Nenhum deles ganhara o que quer que fosse com isso.

      “Falamos quando eu voltar,” Disse Riley.

      Virou-se e saiu da casa. Ouviu Ryan fechar a porta atrás de si.

      Riley entrou no carro e arrancou. Tinha menos de uma hora para estar em Quantico. Tinha a cabeça a andar à roda. Tantas coisas estavam a acontecer tão rapidamente. Ainda há pouco tinha decidido agarrar-se a um novo caso. Agora interrogava-se se era a atitude certa. Não só April estava a ter dificuldades em lidar com tudo, como tinha a certeza de que Peterson estava de volta.

      Mas de certa forma, fazia todo o sentido. Desde que April ficasse com o pai, estaria a salvo das garras do Peterson. E Peterson não ia matar mais ninguém na ausência de Riley. Por muito intrigada que ele a deixasse, Riley tinha uma certeza. Ela era o seu único alvo. Ela e mais ninguém era a sua próxima vítima cobiçada. E ia saber bem estar longe dele durante algum tempo.

      Também fez questão de se lembrar de uma dura lição que aprendera no decorrer do seu último caso. Não querer carregar às costas todo o mal do mundo ao mesmo tempo. Tudo se resumia a um simples lema: um monstro de cada vez.

      E naquele momento, ela estava no encalço de um assassino particularmente cruel. Um homem que acabara de conhecer, iria atacar novamente muito em breve.

      CAPÍTULO 7

      O homem começou a espalhar grandes correntes numa comprida mesa de trabalho na cave. Estava escuro lá fora, mas todos aqueles elos de aço inoxidável eram luminosos e brilhantes sob o fulgor do difuso candeeiro.

      Puxou uma das correntes ficando visível todo o seu comprimento. O intenso ruído despoletava-lhe as terríveis memórias de ser algemado, preso e torturado com correntes semelhantes àquelas. Mas era como continuava a dizer a si próprio. Tenho que enfrentar os meus medos.

      E para o fazer, tinha que provar que dominava as correntes. No passado, demasiadas vezes as correntes o tinham dominado a ele.

      Era uma pena que alguém tivesse que sofrer à custa daquilo. Durante cinco anos, julgara que era uma coisa do passado. Tinha sido uma grande ajuda a igreja contratá-lo como guarda-noturno. Gostava do trabalho, sentia-se orgulhoso da autoridade que podia exercer. Gostava de se sentir forte e útil.

      Mas no mês anterior, tinham-no dispensado daquele trabalho. Precisavam de alguém com conhecimentos de segurança, disseram, e melhores credenciais – alguém maior e mais forte. Tinham prometido mantê-lo a trabalhar no jardim. Ainda teria dinheiro suficiente para pagar a renda daquela casa minúscula.

      Contudo, a perda daquele emprego, a perda da autoridade que lhe conferia, abalara-o, fê-lo sentir-se indefeso. E aquela necessidade libertou-se novamente – aquele desespero de não estar indefeso, aquela frenética necessidade de dominar as correntes para que não o dominassem a ele outra vez. Já tentara ultrapassar o impulso, como se fosse possível deixar a sua escuridão interior ali abandonada naquela cave. Da última vez, fora até ao centro de Reedsport na esperança de lhe fugir, mas não conseguiu.

      E não sabia porquê. Ele era um homem bom com um bom coração e gostava de ajudar as pessoas. Mas mais tarde ou mais cedo, a sua bondade virava-se contra ele. Quando tinha ajudado aquela mulher, aquela enfermeira a carregar sacos de compras para o carro em Reedsport, ela tinha-lhe