Javier Salazar Calle

Sumalee


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Como você é besta!

      Nós três rimos muito. Um pouco de bobagem não me caía nada mal. É verdade que era uma garota linda e com um corpo incrível. É claro que isso foi a primeira coisa que me chamou atenção quando a vi no bar. Mas, conforme falava com ela no sábado durante a festa, fui percebendo quase com certeza que era ainda mais bonita por dentro do que por fora, e que podia me acrescentar muito. Eu me escutava dizendo essas tolices e ria pensando que não poderia ter me apaixonado em apenas dois dias. Provavelmente era pelo estado de ânimo tão baixo que tinha trazido da Espanha pelo fim do meu último relacionamento. Dámaso me surpreendeu logo com a história de uma garota de Cingapura com quem Josele tinha se envolvido.

      — E vai ficar com ela? — perguntei.

      — Com ela? Não só não tenho o telefone dela, como também não sei como se chama. Com esses nomes tão diferentes… — Josele não parava de rir.

      Voltamos a rir com vontade. Josele era um Casanova incurável. Dámaso não desprezava uma boa oportunidade se cruzava com uma, mas o atraía mais a festa, todos os esportes em que pudesse apostar, bronzear-se e o golfe.

      Fui para a cama cedo porque o dia seguinte era segunda e tinha que trabalhar, mas não conseguir pegar no sono a noite toda. Revirava na cama olhando para o celular para ver se ela me mandava uma mensagem ou pensando se eu deveria escrever algo para ela. Acabei não fazendo isso porque não queria incomodá-la, mas vontade não faltou.

      Quando chegou a hora de me levantar, tinha dormido apenas algumas horas em curtos períodos. Cada vez que acordava, olhava rapidamente para o celular para ver se tinha alguma novidade. Tentei me convencer de que não era para tanto, mas não tinha jeito. Fomos para o escritório e tomamos café da manhã na cantina com Diego, Tere, Jérôme e uma garota chinesa muito tímida de Pequim chamada Aileen Meng. Desde que soube que Diego e Tere estavam juntos, não conseguia olhar da mesma forma para eles. Agora tudo pareciam gestos de cumplicidade entre eles. Não podia evitar sorrir quando os via juntos. Inveja, talvez.

      Jérôme e Diego contavam uma história que parecia ser muito divertida pela forma como todos riam, sobre a cara que fez um turista norte-americano quando deram uma multa de mil dólares a ele por mascar chiclete. Em Cingapura, o chiclete estava banido. O homem tentou discutir com o policial sobre o sentido da exclusão nomeando as liberdades individuais e um monte de ideias mais típicas de filmes que da realidade de Cingapura. Eu me esforçava para esboçar um sorriso quando notava que os demais também faziam isso, mas estava muito distraído. No fim, me pareceu que já era uma boa hora para falar com Sumalee. Me afastei um pouco dos outros e escrevi uma mensagem a ela, que respondeu quase imediatamente.

      — Bom dia.

      — Olá!

      — Posso ligar para você?

      — Sim, claro.

      Saí da cantina e liguei para ela enquanto dava uma volta pelos corredores.

      — Como vai?

      — Bem, e você?

      — Muito cansado, não pude dormir muito.

      — E… por que?

      — Pensando sobre ontem.

      — Foi legal, não foi?

      — Sim, foi ótimo, mas você me deixou um pouco confuso.

      — Por que?

      Era o momento da verdade. Meu lema nesses casos era que a sinceridade leva você para onde deve estar ou para onde acabará indo, portanto, quanto antes, melhor. Com todas as consequências.

      — Não sei. Eu gostei de beijá-la, tinha muita vontade de fazer isso. Mas depois você me deu a sensação de que algo a deteve. Talvez eu tenha me precipitado e não deveria ter me lançado tão depressa. Nos conhecemos há apenas dois dias…

      — Não, não, não. Eu gostei.

      — Então por que essa cara de repente?

      — Por nada… Estava cansada e estava ficando muito tarde para conseguirmos sair do parque com luz. Só isso.

      — Tem certeza? Sumalee, não quero pressioná-la. Podemos ir no ritmo que quiser, mas preciso que seja sincera. Odeio mentira, para o bem e para o mal.

      Durante um momento, ela não disse nada. A espera estava me deixando louco.

      — Sumalee?

      — Sim, sim. De verdade, não era nada. Gostei do beijo. Foi um dia muito divertido e com um final muito especial.

      — Eu também gostei muito. De tudo, quer dizer. Não só do beijo. O mercado, a comida, que estava deliciosa no restaurante da sua amiga, Kai-Mook, e o passeio de bicicleta pelo parque… e o beijo, claro. Essa foi a melhor parte. O que acha de nos encontrarmos de novo?

      ― Claro! — disse, com a voz jovial que tanto gostava de ouvir. — Mas antes de quarta-feira, não posso. Tenho muito trabalho.

      — Até quarta-feira! Tudo bem, tudo bem. Tentarei aguentar até lá. Se quiser, posso te convidar para jantar.

      — Me parece uma boa ideia. Onde?

      — Bom, digo a você amanhã ou na quarta de manhã. Tenho que encontrar um lugar bonito à altura do restaurante da sua amiga.

      — Justo. Vamos nos falando. Preciso ir, estão chegando clientes na agência. Um beijo.

      — Outro.

      Ouvi o som do beijo pelo telefone. Ainda que fosse virtual, também foi muito bom. Não sabia muito bem que conclusão tirar da conversa, porque no começo parecia reservada e prudente, mas depois voltou a ser a Sumalee risonha. No fim, a pessoa acredita no que quer. Guardei o celular no bolso e me dirigi para minha mesa com um sorriso de orelha a orelha torcendo para que o tempo passasse o quanto antes para que eu pudesse vê-la na quarta-feira. Quando contei a meus colegas de apartamento sobre a conversa, eles comemoraram por confirmar que não era nada e Josele tomou para si a tarefa de procurar um restaurante diferente para poder levá-la.

      O dia passou voando. Eu me sentia como se estivesse flutuando em uma nuvem. Toda vez que fechava os olhos, lembrava do beijo e revivia o suave toque de seus lábios entre os meus. Minha pele se arrepiava só de pensar.

      Jérôme, Dámaso e outros colegas iam beber alguma coisa na saída do trabalho. Como não tinha muito mais o que fazer, fui com eles. Fomos a um pub que parecia mais um de qualquer esquina de Londres, com a diferença de que a metade da clientela era de origem asiática. E que a bebida era caríssima. Muita gente fazia um “esquenta” antes, que era legal, e faziam isso principalmente em algumas pontes que ligam a área Clark Quay, região de caminhada por excelência para os turistas, ou iam a um hawker para comprar baldes de cerveja Tiger. Em seguida, iam para as discotecas com o álcool no corpo, como eu fazia em Madri quando era mais jovem. Em nosso caso, que não pagávamos pela moradia, dinheiro não era um problema.

      Depois, organizamos um campeonato de bilhar e dardos que me manteve entretido até ir para casa. Ali, assaltei um pouco a geladeira e fui para a cama cedo. Sem ter dormido na noite anterior e com tanta festa, meu corpo se vacilava de vez em quando. Um pouco antes de me preparar para dormir, escrevi para Sumalee para desejar boa noite. Ela me mandou um desenho de uma menina oriental mandando um beijo que me fez sentir euforia e calor por dentro e eu retornei com outro igual. Naquela noite, dormi como um bebê.

      No dia seguinte, levantei cheio de energia. Fomos para o trabalho, mas desci vários pontos antes do nosso. Eu queria me movimentar um pouco. Precisava. Além disso, assim poderia ver um pouco mais da cidade. A rua estava cheia de ocidentais que estavam indo trabalhar. Isso não era de se estranhar, levando em conta que 40% da população de Cingapura era formada por expatriados.

      Passei o dia trabalhando sem parar e arrastando pelo andar com minha energia o pobre Jérôme, que não tinha ido dormir tão cedo quanto eu e estava com ressaca. Quando terminou o dia, eu ainda estava