Javier Salazar Calle

Sumalee


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Não, obrigado. Tendo uma mulher como você ao meu lado, não acho que conseguiria encontrar nem de longe nada que chegasse aos seus pés no bairro vermelho, nem procurando em toda Cingapura. Com certeza, nem em toda Ásia.

      Por um instante, ela ficou me olhando com firmeza sem dizer nada. Sentia como se ela estivesse esquadrinhando minha mente através dos olhos. Temi, por um momento, tê-la ofendido, mas não disse nada.

      — Também há muitos templos e a Vila Cultural Malaia. Um museu onde se pode ver artesanatos, escutar música tradicional e degustar a culinária típica.

      — Já que estamos em uma região malaia, poderíamos escutar um pouco de música tradicional e comer alguma coisa tímica, não? Eu sou um turista de livro. Na verdade, li um na viagem para cá.

      — Tudo bem! Vamos para lá.

      Com sua mão direita ela pegou a minha esquerda e me deu um puxão para que a seguisse. Durante um instante, apertei sua mão com força para ter certeza de que ela estava ali.

      Chagamos em poucos minutos ao museu. Era um complexo de vários edifícios baixos de telhados canelados, muito no estilo oriental. Dentro, havia representações de objetos e utensílios malaios, como carroças puxadas por bois, exposições de artesanato e todo tipo de informação sobre sua cultura e gastronomia. Também tinha uma casa visitável decorada como se supunha que eram as tradicionais. Notava-se que ela gostava de viajar e conhecer coisas novas, além de trabalhar naquilo, porque olhava tudo com a curiosidade típica de uma criança, surpreendendo-se e emocionando-se com tudo. Eu gostei da visita, mas na verdade não tanto quanto ela, porque só estava concentrado no roçar de minha mão na sua e em observar, fascinado, todas as expressões de seu rosto. Tinha um rosto angelical. Queria tanto beijá-la!

      Quando terminamos, ela me disse que me levaria para comer algo típico cingapurense e me deixei levar sem dizer nem uma palavra. Em vez de entrar pela porta principal, ela me levou pela viela de trás e chamou à porta da saída da cozinha. Eu estava intrigado. Quem abriu a porta foi um homem barrigudo e com um avental, gritando irritado, mas quando viu Sumalee, se calou e voltou para dentro, fechando a porta com uma forte batida. Um minuto depois, ela voltou a ser aberta e apareceu uma moça muito pequena, que também parecia tailandesa, e que se jogou nos braços de Sumalee, abraçando-a. Começaram a conversar em tailandês e logo Sumalee me fez sinal para que me aproximasse.

      — Este é David. David, esta é minha amiga, Kai-Mook, de quem falei um pouco ontem à noite. Também é tailandesa e trabalha neste restaurante. Ela vai preparar a comida para a gente.

      — É um prazer. Não se preocupe, Sumalee não disse nada de mau de você — eu disse, sorrindo.

      — Igualmente. Entrar para escolher o Swikee. — Seu inglês não era muito bom.

      — Escolher o que? — olhei para Sumalee.

      — Entre e verá.

      Eu a segui pela cozinha e ela me levou até um lugar onde havia uma bacia gigante com uma tampa. Kai-Mook a levantou e dentro havia uma dezena de rãs saltando para tentar escapar de sua prisão de plástico.

      — Rãs? — exclamei, olhando para Sumalee.

      — Sim, são consideradas uma iguaria típica por aqui. Eles preparam uma sopa de rã deliciosa aqui no Swikee.

      — Se você diz… Na verdade, nunca comi.

      Estava um pouco indeciso, mas não queria parecer muito fresco, então escolhi as rãs que queria, as que me pareceram mais bonitas, se é que era possível, e me sentei à mesa que nos apontaram para esperar a refeição enquanto falava com Sumalee sobre o que faríamos depois. Não demorou muito para Kai-Mook aparecer com uma sopeira nas mãos. Quando ela a abriu e nos serviu a sopa de rãs, tive que reconhecer que tinha uma aparência muito apetitosa. Notava-se traços de pimentas vermelhas, algo que parecia coentro, chili e mais alguma coisa que não fui capaz de identificar.

      Comecei a comer com um pouco de apreensão, mas quando dei a primeira bocada, todos os meus temores de dissiparam. Estava muito boa! Devorei o restante da rã com avidez. Ergui a cabeça e vi que Sumalee me observava, se divertindo.

      — Está delicioso, não é?

      — Tenho que reconhecer, esse é um prato de luxo. Tenho que trazer meus amigos aqui. Vão ficar loucos.

      — Sabia que iria gostar. O cozinheiro deste restaurante prepara a sopa de rãs mais gostosa de toda a cidade. Se vier com eles, pergunte por Kai-Mook e vocês terão o tratamento especial da casa. Agora ela já te conhece e cuidará de você como se fosse eu mesma.

      Olhei nos olhos dela enquanto suspirava. Não sabia que loucura estava fazendo, mas ia dizer a ela o que estava começando a sentir quando Kai-Mook nos interrompeu, aproximando-se para perguntar como estava a sopa. Disse o mesmo que tinha dito a Sumalee, que estava deliciosa, e ela voltou contente para a cozinha. O restante da refeição também foram pratos que eu não conhecia; muito saborosos, mas nenhum como a sopa. Ficamos o tempo todo rindo e contando histórias divertidas que tinham acontecido com a gente no passado em nossas viagens.

      Quando terminamos, Kai-Mook deu uma bolsa a ela. Ela não quis me dizer o que era. Também não me deixou pagar e insistiu que era seu dia de guia e que os gastos ficavam por sua conta. Segurei seu rosto e, observando-a com intensidade, dei um beijo muito suave em sua testa enquanto acariciava com os dedos suas têmporas. Pude notar que ela tremia quando fiz isso, não sabia se de emoção ou de repulsa. O importante foi que ela não se afastou. Um calafrio de excitação percorreu meu corpo ao contato com sua pele. Naquele momento, senti uma vontade quase irrefreável de lançar-me sobre ela e beijá-la, mas consegui me conter. Não apenas gostava de estar com ela e me sentia muito confortável, mas ela também me excitava demais.

      Saímos para a rua. Fomos direto para um pequeno parque que ficava bem em frente de onde estávamos, e ela entregou a bolsa a uma mulher que parecia uma mendiga. A mulher tirou algo de dentro e vi que era comida. Conversaram um pouco como se se conhecessem a vida toda e, então, continuamos nosso caminho.

      É uma mulher que está passando por apuros. Eu a conheço de outras vezes que vim ver Kai-Mook. Sempre trago um pouco de comida quente para que ela tenha uma boa refeição no dia.

      Além de bonita, é uma boa pessoa. Não para de me surpreender.

      Passei o braço por cima de seus ombros e pegamos o ônibus para o parque East Coast, no sudeste da ilha. Tínhamos decidido mudar totalmente de ambiente e eu queria ver um pouco de água, e ali havia praias, palmeiras e mar. Um lugar perfeito para conhecer um pouco mais Sumalee.

      Quando chegamos, nos metemos por um dos caminhos que entravam no parque. Sumalee ficou pensativa um momento e, então, se dirigiu a mim.

      — Sabe patinar?

      — Não, nunca tentei. Quando eu era pequeno, andei um pouco de patinete, mas não tinha o equilíbrio muito desenvolvido, então desisti logo.

      — Bom, então ensinarei a você outro dia. E andar de bicicleta?

      — Isso, sim, claro.

      — Então vamos alugar umas bicicletas para visitar o parque. O que acha?

      ― Perfeito!

      Dito e feito. Nos dirigimos para o lugar onde alugavam bicicletas e, ainda que pudéssemos escolher bicicletas tandem ou carrinhos com teto, decidimos por duas vermelhas individuais para o restante do dia. Aparentemente, era uma atividade popular, porque o parque estava cheio de ciclistas e de gente patinando. Havia uma pista com dois sentidos claramente demarcados. Sumalee foi contando-me tudo enquanto pedalávamos com tranquilidade.

      — O parque está dividido em diferentes áreas. De acordo com a área, pode fazer uma coisa ou outra. Você vai acabar descobrindo que eles são muito organizados em Cingapura.

      — Sim, estou percebendo.

      —