Barbara Cartland

O fantasma De Monte Carlo


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mas, antes disso, tornou a falar sobre o Grão-Duque:

      —Sem dúvida, agora ele já esqueceu você. Mas, caso mande algum convite, recuse. Entendeu? Não deve aparecer perto da casa dele. Fique aqui na praia. Assim que minha mãe melhorar, voltarei para buscá-la.

      Emilie partiu. Lembrava-se de Alice ter ficado na janela, acenando, até perdê-la de vista.

      Era essa última visão da irmã que a perseguia agora, ali no Hotel de Paris. Alice ao sol, com a cabeça atirada para trás, os cabelos esvoaçando e o rosto sorridente. Alice acenando, até que o cocheiro fizesse a curva do caminho.

      Devia ter sonhado com ela, ao adormecer naquele colchão macio, pois, quando acordou, ouviu sua própria voz murmurando:

      —Alice, Alice...

      «Não é um jeito bom de começar o dia», pensou. Na hora do café, Mistral achou-a nervosa.

      —Oh, tia Emilie, este é o lugar mais lindo do mundo! Eu não tinha ideia de que o céu podia ser tão azul.

      —Venha tomar seu café, menina! E pare de correr para o terraço. Já falei sobre isso ontem à noite.

      —Mas, titia, pensei que hoje não se importasse. Vamos sair, não vamos?

      Emilie tomou sua decisão.

      —Não, Mistral, não vamos. Você vai ficar aqui até a hora do jantar. Então, fará uma aparição.

      A moça ficou consternada.

      —Agora, Mistral, não discuta. Já lhe disse que precisa me obedecer, que tenho motivos para as decisões que estou tomando.

      —Mas não vamos sair em nosso primeiro dia em Monte Carlo?

      —Ficaremos no hotel mais algum tempo. Amanhã, passearemos pela cidade. Hoje, só apareceremos na hora do jantar.

      Mistral sabia que a tia já tinha resolvido aquilo e não ia mudar de ideia. Não adiantava discutir.

      —Titia— disse, depois de uma longa pausa—, há algo que quero perguntar.

      —O que é?

      —Por que me chamo Mistral? Sempre quis perguntar isso a você.

      —Sua mãe escolheu esse nome. Escolheu-o porque odiava o vento que sopra na praia, aqui.

      —Por que ... odiava? Então, minha mãe veio aqui? Ela conhecia Monte Carlo?

      —Sim, sua mãe veio aqui. Mas não conheceu Monte Carlo, porque não havia sido construída há dezenove anos.

      —Há dezenove anos! Então, ela esteve aqui antes que eu nascesse. Oh, tia Emilie, conte-me como foi. Ela gostou daqui? Talvez por isso me pareça um lugar tão lindo: porque minha mãe gostava daqui também.

      —Eu não disse que sua mãe gostou. Quando me falou qual deveria ser o seu nome, avisou apenas: «Se for menina, quero que se chame Mistral, esse vento terrível, que ainda estou ouvindo. Sim, sei que será uma menina; chame-a Mistral».

      —Por que teria dito isso? Como podia saber que eu seria uma menina?

      —Parecia ter certeza.

      Enquanto falava, Emilie lembrou-se dos olhos sofridos de Alice, quando lhe pediu:

      —Não quero que conte a ele! Jure sobre a Bíblia que não dirá a ele que vou ter um filho.

      Lembrou-se do tom da voz de Alice: nervoso, amedrontado. Lembrou-se do rosto pálido e assustado. Teria prometido tudo, naquele momento, só para acalmar o sofrimento da irmã.

      Mas depois se arrependeu amargamente do juramento feito sobre a Bíblia. Mesmo no fim, quando Alice já estava desenganada pelos médicos, o pedido foi o mesmo:

      —Prometa que não dirá nada a ele sobre Mistral.

      Emilie ajoelhou-se, chorando, ao lado da cama. E prometeu novamente. Mas, depois que a irmã morreu e levaram o corpo para o cemitério, teria dado tudo para se libertar daquela promessa.

      Queria ter partido para o Mônaco, para enfrentar o Grão-Duque com a verdade. Acusá-lo de assassinato, mostrar a ele a menina órfã, ter a satisfação de denunciá-lo como sedutor e traidor.

      Mas manteve a promessa; primeiro, por causa de sua religião, e também porque amava Alice e era muito supersticiosa. Não poderia quebrar um juramento feito três vezes. Era um voto tão sagrado como as lembranças da irmã.

      Um dia, jurou a si mesma fazer o Grão-Duque sofrer o que tinha feito Alice e ela sofrerem.

      Durante longas noites, lutou para salvar a vida de Mistral, dando remédios, quando a criança acordava gritando, e ninando-a no calor da cozinha até o amanhecer. Enquanto isso, pouco a pouco, um plano se formou em sua mente. Um plano que levaria longos anos para ser colocado em prática e ia requerer muito cuidado.

      À medida que o tempo passava, seu desejo de vingança aumentava. Finalmente, sentiu que não podia viver mais sem aquele plano e teve certeza de que um dia iria ser realizado. Sua vingança estava garantida.

      Agora, dezoito anos depois, a cortina se levantava para o primeiro ato. Mistral tinha se transformado numa mulher. Ao olhá-la, Emilie ficou satisfeita: era linda o suficiente para o papel que queria lhe dar naquele drama.

      Então, vendo o olhar límpido da garota, sentiu um aperto no coração. Era como se Alice a estivesse olhando. Era como se estivesse vendo Alice com os lábios trêmulos.

      —Por favor, tia Emilie, por favor! Explique as coisas para mim. Todos esses segredos estão me deixando com medo.

      Mesmo enquanto implorava, Mistral sabia que não ia adiantar. Os olhos da tia pareceram se suavizar de repente; depois, virou o rosto e caminhou para a lareira:

      —Deve confiar em mim. Além do mais, não há nada para explicar. Esta noite vamos jantar no restaurante. Deve usar o vestido de chiffon. O Gerente me avisou que haverá uma grande festa. Toda Monte Carlo estará aqui. Você conhecerá as pessoas famosas; depois, vamos ao salão de concertos do Cassino.

      Mistral bateu palmas.

      —Vamos ver as pessoas jogando, tia Emilie?

      —Sim, vamos observar as mesas. É interessante ver as pessoas passando por bobas.

      —Não é certo jogar?

      —Não vejo nada de errado em uma pessoa fazer o que gosta e se divertir. Geralmente, quem diz que o jogo é errado tem caráter fraco, pois não consegue parar antes de entregar todo seu dinheiro ou perder mais do que tem. Não vejo por que o jogo seria errado.

      —Eu só estava perguntando. Uma freira do colégio disse que, apesar de o jogo ter trazido grande prosperidade a Mônaco e ter beneficiado muito os pobres do principado, ela sentia que era errado porque incentivava o desejo das pessoas por dinheiro.

      —Uma ideia estreita para uma mulher que vive fechada— Emilie murmurou—, não deve aceitar as ideias das freiras, Mistral.

      —Até agora, não tive oportunidade de fazer outra coisa.

      Não foi uma resposta impertinente; apenas a confirmação de um fato. Mas, durante um momento, Emilie olhou-a, espantada:

      —Está certa. Tinha esquecido que passou muito tempo no internato e não conhece nada do mundo.

      —Por que nunca deixou que eu voltasse para a fazenda?

      —Porque eu também saí de lá. Queria que você crescesse como uma dama, como sua mãe. A vida na fazenda era dura. Depois que meu avô morreu, não havia dinheiro para pagar os empregados. A não ser que eu trabalhasse como escrava, dia após dia, não poderia continuar com ela. Queria pagar sua educação, Mistral, e queria uma vida agradável para mim mesma. Portanto, quando foi para o convento, vendi a fazenda e fui para Paris.

      —Paris? E gostou de lá, titia?

      —Trabalhei muito, mas acho que gostei