Barbara Cartland

O fantasma De Monte Carlo


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a caminhar pelos jardins. A alameda fazia curvas, descendo cada vez mais, até chegar a um portão de ferro, um trabalho lindo. Abriu o portão e saiu.

      Não seguiu pela estrada; entrou por uma porteira, do outro lado dos jardins públicos que o famoso François Blanc tinha desenhado há alguns anos, quando planejou a construção da nova cidade de Monte Carlo.

      Os jardins ainda não estavam terminados, mas já prometiam grande beleza. O atalho que ele seguia deu a volta em torno de uma oliveira, e o perfume de eucalipto se misturava com o de jasmim e mirta.

      Durante o dia, quem passasse por ali poderia admirar os canteiros de violetas e heliotrópios azuis. Mas, no silêncio do amanhecer, Robert só via a neblina suave que pairava sobre as flores.

      Então, lembrou-se da neblina sobre os campos de milho, onde brincava quando criança com seu cachorrinho; as caçadas que faziam juntos e os pássaros que o animalzinho lhe trazia. No começo do inverno, Cheveron atingia uma beleza incomparável.

      Cheveron. Sempre Cheveron! Devia estar pensando em Violet. Nos lábios dela, nos braços que o abraçavam.

      Chegou ao fim do caminho, onde havia uma escadinha rodeando um rochedo sobre o qual se curvava uma árvore florida. Então, deu um encontrão em alguém que gritou.

      Estendeu as mãos, para impedir que a pessoa caísse e percebeu que se tratava de uma moça.

      —Cuidado! Olhe por onde anda!— como estava pensando em Cheveron, instintivamente falou em inglês.

      A mulher respirou fundo e respondeu:

      —Perdão, senhor. Oh, mas, é inglês?

      —Sim, sou. Isso faz alguma diferença?

      Era difícil vê-la claramente, pois se encontrava na sombra da árvore. Entretanto, a moça estava ofegante, como se tivesse corrido. Parecia também amedrontada.

      —Não, não. É que... aquele homem falou comigo. Acho que talvez... tenha bebido demais. Eu, muito estúpida, parei para ouvir. Só então percebi o que estava dizendo, e saí correndo.

      —Vou lá falar com ele— Sir Robert disse, aborrecido.

      Mas, pensando melhor, achou que aquilo podia ser alguma armadilha. Mulheres sérias não andavam sozinhas pelos jardins de Monte Carlo. Hesitou.

      Como se percebesse o que ele pensava, a moça se afastou.

      —Está tudo bem, agora, obrigada. Foi tudo culpa minha. Não devia ter vindo aqui sozinha. Sei que agi errado, mas estava acordada, e queria tanto ver o sol nascer sobre o mar.

      Havia algo infantil na explicação dela, e imediatamente as suspeitas de Sir Robert desapareceram. Não era uma armadilha. Aquela mulher... aquela mulher... era jovem demais. E sincera. Ele tinha certeza disso.

      —Não vai precisar esperar muito. Está quase na hora de o sol aparecer.

      Apontou um pouco para a esquerda, onde o caminho se alargava na beira de um desfiladeiro protegido por uma grade de ferro.

      —Oh, obrigada.

      A moça caminhou diante dele e, ao sair da sombra da árvore, viu que era mesmo muito jovem.

      Usava uma capa longa e cinza, de um tecido macio. O capuz estava puxado sobre os cabelos, de modo que ele só podia ver o contorno do rosto. Traços delicados, olhos de cílios escuros e uma boca bonita.

      —Foi aqui que santa Devote apareceu.

      —O que disse?

      Ela levantou os olhos para ele.

      —Estava falando comigo mesma. Não precisa se incomodar, senhor.

      —Acho que vou ficar com você alguns minutos, caso o bêbado apareça outra vez.

      Ela olhou sobre o ombro dele, um pouco apreensiva. De onde estava, via até o fim da alameda vazia.

      —Ele já foi embora.

      —Então, podemos assistir em paz ao nascer do sol! Gostaria que repetisse o que acabou de dizer.

      —Eu disse: foi aqui que santa Devote apareceu.

      —Achei que tinha dito isso, mas pensei que estava enganado. Não há muitas santas em Monte Carlo.

      Ela deu uma risada suave e musical.

      —Agora não, talvez. Mas santa Devote apareceu no ano 300 d.C.

      —Verdade? E se tornou a santa protetora do rochedo?

      —Sim. Mas pensei que não soubesse.

      —Não sabia. Só tentei adivinhar. Fale-me mais sobre ela...

      —Santa Devote morava na Córsega e foi assassinada depois de se tornar cristã. O padre que a converteu planejava levar seu corpo para a África, mas o barco foi trazido pelo vento para esta costa. O padre teve um sonho em que viu um pombo voando sobre o peito da garota morta e depois pousando numa ravina estreita. Quando acordou, ancorou o barco e desceu na praia de Mônaco, diante dele, estavam a ravina estreita e o pombo.

      A voz da garota era baixa e suave, enquanto contava aquela lenda.

      —Quem lhe disse tudo isso?

      —Uma freira lá do internato. Era de Mônaco e sempre falava sobre a beleza de sua terra, os laranjais, o monte Angel, os vilarejos nas montanhas e santa Devote, que a tinha inspirado a ser freira.

      —Então, por causa dessa freira, você queria ver o sol nascer sobre Monte Carlo?

      —Não sobre Monte Carlo, sobre a baía de Hércules e sobre Mônaco. Olhe, lá está um lugar onde, garanto, há uma capela à santa Devote.

      Apontou, mas Sir Robert não olhou na direção que indicava, e, sim, para sua mão. Era longa e muito delicada.

      —Olhe!

      Ela parecia estar em êxtase.

      Os primeiros raios de sol surgiam no horizonte, transformando tudo.

      A paisagem, que tinha sido cinzenta e sem cor, agora se transformava em um cenário brilhante. O mar estava completamente azul e no céu não havia uma nuvem. As montanhas, com picos cobertos de neve, brilhavam ao longe, e todas as flores pareciam adquirir vida.

      —Lindo! Lindo!

      A moça também estava linda. Sir Robert nunca tinha visto um rosto tão estranho e encantador. E como era jovem! Não jovem como o dia que acabava de surgir diante de seus olhos, jovem como os botões das flores de laranjeira.

      —Acho que seu nome deve ser Aurora.

      Ela fez um esforço para desviar os olhos da paisagem e o encarou.

      —Aurora? Oh, não, é Mistral!

      —Mistral? Que nome estranho, para uma garota! É o nome de um vento muito desagradável, nesta região.

      —Sim, eu sei.

      Havia algo no tom de voz dela que o advertiu para não continuar a fazer comentários.

      —E qual o seu sobrenome?

      Ela ia dizer, quando, de repente, lembrou que não devia.

      —Eu... mão posso dizer. Como sabe, eu não devia estar aqui. Minha tia ficaria muito zangada comigo, se soubesse. Não devia ter saído sem a permissão dela. Mas já estava acordada há tanto tempo, e a irmã Héloise tinha falado tanto do amanhecer.

      — Acho que fez bem em vir ver por si mesma. Descobri em minha vida que é sempre bom fazer o que se tem vontade e pedir permissão depois.

      Mistral sorriu.

      —As freiras diriam que isso é uma trapaça.

      —E você sempre faz o que as freiras dizem?

      —Sim, até agora. Nunca tive a oportunidade de fazer o contrário. Só saí do internato há pouco