Barbara Cartland

O fantasma De Monte Carlo


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e não pensavam mais no assunto. Não se sentiam muito à vontade com Emilie, porque ela era irônica e eles sabiam que seu sangue inglês fazia com que os desprezasse por terem inclinações a fazer pouco-caso de seu pai.

      Alguns parentes tinham até certo orgulho da ligação de Emilie com uma família inglesa tão distinta; principalmente, depois que John Wytham trouxe Alice para a Bretanha. Alice era uma verdadeira aristocrata, os Riguad repetiam entre si.

      Poucos minutos depois de chegarem, Alice já estava integrada com os primos, seus cabelos loiros esvoaçando junto com as cabeças morenas dos garotos Riguad. Todos rindo e cantando, pulando pelos campos onde a família criava cabras.

      A casa era um barracão antigo, quase na praia, mas os tios explicaram que tinham muita sorte em possuí-la, apesar de os garotos serem obrigados a andar bastante até chegar aos pastos das cabras.

      As casas dos camponeses em Mônaco eram poucas e muito velhas. Aliás, não poderiam ser diferentes, porque todo o principado estava empobrecido e parecia não haver meio de sair daquele estado.

      A princesa Caroline, esposa do Príncipe Florestan I, tinha tentado introduzir fábricas de rendas e perfumes. Havia plantações de flores e destilarias de álcool, mas nada disso ia adiante, já que as comunicações com o resto da Europa eram difíceis demais.

      Emilie e Alice ficaram felizes com a família Riguad, ali, perto do mar, A tosse da menina, motivo daquela viagem, começou a melhorar. Era uma tosse que aparecia sempre no inverno, quando os ventos fortes começavam a soprar gelados sobre a Bretanha e a geada cobria o gramado todas as manhãs.

      Nessa época, o rosto dela perdia o tom corado e quase não se ouvia seu riso.

      Agora, as coisas aconteciam ao contrário. Alice ria mais e sua pele estava levemente bronzeada. Aos olhos de Emilie, ela pareceu adquirir uma nova beleza. Sim, estavam felizes, naqueles dias de primavera, há dezenove anos... até que algo aconteceu. Algo que Emilie lembrava agora, cerrando os punhos e sentindo uma raiva violenta.

      Chegou a rever Alice, de vestido azul, combinando com o tom de seus olhos, segurando o bebê dos Riguad e passeando pelo rochedo perto do Palácio. A garota tinha se sentido atraída pelo Palácio. Nunca ouvira falar de Príncipes e princesas, pois havia passado os últimos oito anos na Bretanha e lá não se comentava muito a vida da aristocracia. Por isso, o Palácio e seus arredores pareciam fasciná-la. Era o seu passeio favorito.

      Subia da praia até a rocha e sentava lá, observando a troca de guarda ou o Príncipe Florestan saindo em sua carruagem puxada por dois magníficos cavalos brancos.

      De vez em quando, olhava a outra construção que havia do lado oposto da península. Era de pedra cinzenta, com uma torre no centro e portões de ferro que se abriam para a estrada.

      Apesar de o jardim ter flores e fontes, era a grandiosidade do edifício que exercia uma atração inexplicável sobre Alice.

      Era lá, tinham dito a ela, que morava o Grão-Duque Ivã da Rússia. Era amigo do Príncipe Florestan e havia construído o Castelo há seis anos. A princípio, só o usava nas férias, mas gostou tanto do clima de Mônaco que resolveu ficar indefinidamente, voltando poucas vezes à Rússia. E, a cada ano que passava, ia aumentando o prédio, até que ficou mais grandioso do que o próprio Palácio real.

      —Como é o Grão-Duque?— Alice tinha perguntado.

      —É alto e muito bonito— alguém lhe contou—, mas agora está triste, porque a esposa, uma linda senhora russa, morreu. O frio da Rússia foi forte demais para ela. Dizem que eles tinham voltado para lá porque o Czar queria que estivessem presentes a um baile da corte. Mas fez um frio terrível e a Duquesa pegou uma gripe que foi piorando, piorando, até que nenhum médico conseguiu salvá-la.

      —Pobrezinha! E agora, o Grão-Duque está sozinho?

      —Não. Tem um filho, o Príncipe Nicolai. Está com dois anos e nunca sai daqui porque o Grão-Duque tem medo que o frio o mate também, como aconteceu com a pobre mãe.

      Emilie se lembrava de como Alice tinha se interessado por aquela história. Dia após dia, ela subia ao rochedo para olhar o Château d’Horizon, onde o Grão-Duque morava. Então, aconteceu...

      A carruagem do Grão-Duque vinha velozmente pela estrada que passava pela península e quase atropelou a pequena Térèse, o bebê dos Riguad.

      Alice correu a tempo de salvar a menininha, que, tremia e gritava de terror.

      O Grão-Duque parou a carruagem e desceu para falar com Alice e ter certeza de que nada havia acontecido com a criança.

      Ninguém mais estava presente; por isso, ninguém nunca soube exatamente o que disseram. Mas Alice devia ter contado que admirava a casa dele e que a fazia lembrar a mansão de seus avós, na Inglaterra, pois no dia seguinte a carruagem do Duque parou diante do barracão dos Riguad, para levar a menina ao Castelo .

      Foi só então que ela contou o que havia acontecido na véspera. Antes que Emilie, muda de espanto, pudesse protestar, a garota já tinha partido para a visita.

      Se Emilie ficou sem fala naquele momento, o mesmo não aconteceu mais tarde, quando Alice voltou. Levou-a até a praia, pois em casa não poderiam conversar a sós, e arrancou dela toda a verdade sobre o encontro com o Grão-Duque. Palavra por palavra, descobriu o que havia acontecido naquela tarde, no Castelo .

      —Ele foi muito gentil— Alice contou—, e o filhinho é tão meigo!

      —Isso não interessa. O que ele lhe perguntou?

      —Nada. Só queria me mostrar o Castelo .

      —E por que ia querer isso? Tem amigos da própria classe social...

      —Acho que sou amiga dele— Alice disse, depois de um momento.

      Emilie ficou furiosa e falou brutalmente com a irmã, como jamais havia feito durante todos os anos em que estavam juntas.

      Repetiu o que Alice já sabia: que seu pai jamais tinha casado com Marie Riguad. Contou como o pai dele tinha vindo buscá-lo para que voltasse à Inglaterra, prometendo uma quantia em dinheiro para a criança que ainda não havia nascido; quantia que Marie esperou, mas que esqueceram de mandar ou, deliberadamente, resolveram negar.

      —Seria o meu dote— Emilie disse—, mas pensa que teria me ajudado em alguma coisa? Nasci entre dois mundos, com metade de sangue nobre e metade camponês. Os homens que me queriam, eu achava sujos e os que eu poderia querer, achavam que eu estava numa posição inferior à deles.

      —Pobrezinha!— Alice disse, com simplicidade, mas Emilie sabia que ela não tinha entendido.

      —É o que vai acontecer a você e ao filho que pode ter, se continuar amiga de homens como o Grão-Duque. Ele nunca fará nada por você. Pensa que vai lhe propor casamento? Não. Está interessado porque é bonita e jovem. Há centenas de mulheres no mundo dele que estariam prontas para casar. Só precisaria fazer o pedido. Um homem como o Grão-Duque não está preocupado com casamento. Não deve vê-lo novamente. Está me ouvindo?

      Emilie tinha falado num tom apaixonado que amedrontou Alice. A garota não respondeu, ficou apenas olhando o mar.

      —Está me ouvindo?

      —Sim, estou.

      —E vai me obedecer? Alice, não deve vê-lo novamente, não deve aceitar outro convite para ir ao Château d’Horizon.

      A irmã não respondeu, mas Emilie sabia que não desobedeceria. Nunca tinha tido problemas com Alice; era uma garota muito dócil.

      Então, o destino resolveu intervir. Pelo menos, foi o que Emilie pensou, depois.

      No dia seguinte, chegou uma carta de Marie Riguad, avisando que estava muito doente. Tinha caído e quebrado a perna. Emilie precisava voltar logo.

      Por um momento, ela pensou em levar Alice, mas ã moça parecia tão feliz ali. E tinham acabado de chegar. O sol brilhava todos os dias e o clima estava delicioso, fazendo