Emma Darcy

Recordações de um amor - Uma amante temporária


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que recuperasse completamente a sua memória.

      – Não acredites que é fácil viver contigo e não me deixar levar pelos meus instintos mais básicos, Maeve. Sou um homem, não um santo.

      Ah, aleluia! Então não era apenas ela, que cada noite na cama desejava não estar sozinha.

      – Há mais uma coisa – começou a dizer. – Uma coisa que anda às voltas na minha cabeça, mas que não consigo entender… – ficou com a voz enfraquecida nesse momento e não conseguiu continuar.

      – Calma, Maeve.

      – Sinto um vazio que nada, nem sequer tu, podes preencher – conseguiu dizer ela uns segundos depois. – Senti-o desde que cheguei a esta casa.

      Dario tomou-a entre os seus braços, acariciando o seu cabelo.

      – Esforças-te demasiado e, no final, sentes-te frustrada.

      – E o que queres que faça? Há um limite e penso que eu cheguei ao limite.

      – Tu não gostas que cuidem de ti?

      – Será que Napoleão gostava de estar exilado na ilha de Elba?

      – Tu não és uma prisioneira, Maeve.

      – Mas é como se fosse. Não posso pestanejar sem que alguém se dê conta. E não posso passear livremente pela casa ou discutir o menu semanal com a cozinheira porque «eu não devo fazer tais coisas». Basicamente, estou confinada ao quarto a menos que esteja contigo. É como viver num acampamento militar!

      Dario riu, tão relaxado, tão encantador.

      – Não pode ser assim tão mau.

      Pior, na verdade. Tratavam-na como se fosse uma visita e esse era o problema. Ela não era uma visita, era a senhora da casa ou pelo menos deveria sê-lo. Mas, a única vez que lhe ocorreu entrar na cozinha, a cozinheira tirou-a dali amavelmente, como se fosse uma menina.

      – Hoje, por exemplo, quando decidi dar um passeio até ao outro lado do imóvel, uma criada disse-me que não deveria cansar-me tanto. E depois fui encontrando gente… jardineiros, empregados de manutenção, todos me advertiam que não deveria aproximar-me da falésia.

      – E o que fizeste?

      – Cheguei até ao portão, mas estava fechado. E quando perguntei a um jardineiro porque é que estava fechado, o homem fingiu não me entender, embora lhe falasse em italiano.

      – Não me surpreende – disse Dario. – Certamente só fala o dialecto local, que é muito diferente do italiano que tu conheces. Inclusive os italianos têm problemas para se entenderem com as gentes da ilha.

      – Dario…

      – Queres um campari?

      Maeve abanou a cabeça.

      – Olha, entendo que queiras evitar que os estranhos entrem no imóvel, mas eu deveria poder sair. Mas até a porta da piscina está fechada agora!

      – Eu sei, eu pedi que a fechassem depois da visita da minha mãe.

      – Estou aqui há uma semana e estou a sufocar – protestou Maeve. – Sinto-me como um hamster, a correr na roda sem chegar a lugar nenhum.

      – O que te parece se tirar a tarde livre e formos dar um passeio de barco pela ilha? Até poderíamos parar na tua gruta favorita para mergulhar. Gostas da ideia?

      Gostaria que fosse sincero com ela em vez de ganhar tempo. Porque tinha visto um brilho de angústia nos seus olhos quando lhe contara que sentia um vazio estranho no seu interior e intuía que ele sabia o que o causava. E se pensava que nadar eliminaria a sua angústia, estava muito enganado. Ou Dario lhe dava as respostas que procurava ou encontraria outra pessoa que o fizesse.

      Mas depois de se queixar que estava aborrecida e confinada não podia rejeitar o seu convite e talvez indo àquele lugar que, segundo Dario, fora importante para ela, despertasse alguma lembrança.

      – Muito bem – suspirou, engolindo a frustração. – De acordo.

      Ver Pantelleria do barco deu-lhe uma nova perspectiva da ilha, rodeada de falésias. Algumas das praias eram de pedras, noutras havia enormes rochas de lava que saíam do Mediterrâneo criando lagoas naturais.

      Montagna Grande guardava os vales férteis e nas suas colinas cresciam juníperos e urzes.

      – Quando o vento sopra de oeste cheira tudo maravilhosamente – disse Dario.

      Passaram à frente de várias quintas isoladas e uma minúscula vila pendurada numa falésia com uma gloriosa vista panorâmica. Mas, embora tudo aquilo fosse fabuloso, o homem que estava junto dela fazia-lhe ferver o sangue.

      Dario com umas calças escuras e uma camisa branca era uma visão que aceleraria o coração de qualquer mulher, mas com uns calções de banho, com o vento a despentear-lhe o cabelo, era o suficiente para a pulsação de qualquer elemento do sexo feminino disparar.

      Sentada ao seu lado no barco, Maeve quase tivera de se beliscar para acreditar que aquele homem era mesmo o seu marido. E que de todas as mulheres que ele poderia ter escolhido, escolhera-a a ela.

      O seu peito bronzeado brilhava ao sol enquanto navegava pela costa de Pantelleria, dirigindo o leme do barco com aquelas mãos grandes. Umas mãos que uma vez a tocaram intimamente, pensou.

      E a sua boca… teria feito o mesmo? Ou aquela repentina excitação devia-se aos seus próprios desejos?

      – Relaxa, Maeve – Dario deve ter interpretado mal a sua expressão pensativa. – Sei o que faço, não vamos encalhar.

      – Não estava a olhar para ti, estava a admirar a paisagem.

      – Então estás a olhar para o lado errado. Olha para ali – disse ele então, assinalando com a mão para a direita.

      Maeve virou a cabeça e deixou escapar um grito de surpresa. A vinte metros do barco havia um grupo de golfinhos a saltar na água.

      – Adorava ser como eles. São tudo o que eu queria ser: elegantes, lindos, divertidos.

      – Tu também és linda, Maeve. Disse-te isso na primeira noite e não mudei de opinião desde então.

      – Não, não entendes. Estou a falar do espírito. Eles têm uma alegria de viver que eu perdi. Estou no limbo… sou uma estranha dentro da minha própria pele.

      – Para mim, não és – murmurou Dario, aproximando-se tanto que Maeve podia sentir a sua respiração na cara. – Tu és a mulher com quem me casei.

      – Conta-me como nos casamos… foi muita gente ao casamento?

      Ele hesitou durante um segundo.

      – Não, foi um casamento íntimo.

      – Porquê?

      – Porque nos casámos em Vancouver. Eu só podia estar lá alguns dias antes de voltar para Itália, de modo que não pudemos organizar uma grande cerimónia.

      – Foi uma decisão repentina?

      – Mais ou menos. Apanhou-te de surpresa… portanto só tiveste tempo de ir comprar um vestido.

      – De que cor?

      – Azul, o mesmo tom dos teus olhos.

      – E as flores?

      – Levavas um ramo de lírios brancos e cor-de-rosa.

      – As minhas flores favoritas!

      – Claro.

      – Quem foi ao casamento?

      – Houve duas testemunhas, uma antiga colega tua cujo nome não me recordo e um dos meus sócios.

      – Trocámos alianças?

      – Sim, de ouro branco, a tua com diamantes.

      – E onde estão agora?

      –