Emma Darcy

Recordações de um amor - Uma amante temporária


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àquela última pergunta.

      Procurando tempo, disse-lhe:

      – Porque é que achas que não fomos felizes?

      – Foste tu que me disseste isso.

      Infelizmente assim era e Dario desejou ter tido a sensatez suficiente para ter fechado a boca.

      – Estávamos prestes a divorciar-nos? – insistiu ela.

      Estavam? Só Maeve sabia a resposta a essa pergunta.

      – Não – respondeu. Afinal de contas, nenhum dos dois apresentara o pedido de divórcio, não convocaram os advogados para dividir as suas posses ou estabelecer os direitos de custódia sobre Sebastiano.

      – Então qual era o problema?

      – Um casamento… – Dario procurou uma resposta que estivesse perto da verdade – passa por momentos difíceis.

      – Mas estávamos casados há muito pouco tempo; ainda deveríamos estar na nossa lua-de-mel.

      Falar da lua-de-mel e das circunstâncias do seu casamento não seria seguir o conselho de Peruzzi…

      – Não penses que lá porque estávamos a passar por um mau momento o nosso casamento era um fracasso. Por cada desilusão havia mil alegrias e para mim ter-te de novo em casa é a maior de todas.

      – Se te importas tanto comigo, porque é que não me foste ver ao hospital?

      – Claro que fui, Maeve. Estive ao teu lado dia e noite durante semanas depois do acidente, rezando para que sobrevivesses.

      – Mas depois deixaste de ir. Porquê?

      «Porque temos um filho que também estava hospitalizado e que precisava de mim».

      – Tu não sabias que eu estava ali e, como não podia fazer nada, concentrei-me no que podia fazer.

      – Foste trabalhar para esqueceres o problema, queres tu dizer?

      – Sim – mentiu Dario porque não podia contar-lhe a verdade.

      – E quando despertei do coma?

      – Teria ido ver-te imediatamente, mas o doutor Peruzzi recomendou-me que não o fizesse. Não queriam que nada interferisse com a tua recuperação.

      – Desde quando é que ver o marido interfere com a recuperação de uma mulher?

      – Desde que ela não se recorda dele.

      – Ah, claro – murmurou Maeve.

      Dario decidiu levar a conversa para áreas mais seguras.

      – Embora te seja difícil, temos de ir devagar. A última vez que falámos, o doutor Peruzzi advertiu-me que não devíamos apressar-nos. Se ele estivesse aqui agora, garanto-te que ficaria horrorizado por ver que não estás na cama.

      – Mas há tantas coisas que preciso de saber!

      – E temos muitos dias para descobrir tudo isso. Agora tens que descansar.

      Quando chegaram a casa, Dario deu-lhe um beijo casto na face, mas até essa carícia o excitou. O tecido do vestido sussurrava-lhe como um convite, recordando-lhe a pele suave e cremosa que havia por baixo dele. E a cor, tão rosada como a meia-noite nos trópicos, fazia com que os seus lindos olhos parecessem cor de ametista.

      – Vou lembrar-me do nosso casamento mais cedo ou mais tarde, não é verdade? – perguntou Maeve, com a voz entrecortada.

      – Sim, com certeza que sim.

      – Prometes-me isso?

      – Dou-te a minha palavra – ele sorriu. – Dorme bem. Vemo-nos amanhã.

      Quando Maeve desapareceu, Dario entrou no seu escritório e serviu-se de um copo de grappa. O álcool queimou-lhe a garganta, mas não conseguiu saciar o desejo que o consumia.

      Não chegara ao topo graças à indecisão, pensou depois, mas utilizando a sensatez e a habilidade para analisar os outros. Ele podia ver a fraqueza, detectar a falta de integridade no oponente. No entanto, Maeve deixava-o cheio de dúvidas.

      Ter-se-ia rendido ao beijo porque o desejava tanto como ele ou era uma maneira de suplicar o seu perdão pelo que se passara antes do acidente?

      Quando falara de cumprir as promessas e que ele lhe dera a entender que não era assim, a sua angústia teria sido sincera ou enganadora?

      Não tinha respostas. Nem para Maeve nem para si mesmo.

      Nessa noite sonhou com a sua casa… mas já não era a sua casa mas de outras pessoas. E ela estava em frente à campa dos seus pais, com todas as suas posses guardadas em caixas e baús.

      – Parto para não voltar – disse-lhes, – mas estarão sempre no meu coração.

      As folhas das árvores mexiam-se com o vento.

      – Não podes ir. Este é o teu lugar.

      – Tenho de ir – protestava ela, assinalando uma figura à distância. – Ele precisa de mim. Está a chamar-me…

      – Não – os ramos das árvores inclinaram-se, enredando-se ao seu redor, afogando-a, retendo-a.

      Maeve despertou banhada em suor e com o coração a pulsar descontroladamente. A luz do sol enchia o quarto…

      Tentava agarrar-se ao sonho, intuindo que estivera prestes a recordar-se de alguma coisa. Com os olhos fechados, tentava ver essa imagem longínqua, mas as nuvens que ocupavam o seu cérebro depois do acidente fecharam-se de novo, impedindo a visão. Talvez no dia seguinte…

      Então ouviu uma pancadinha na porta. Seria Dario?

      Nervosa, saltou da cama e correu para a abrir.

      – Espera um momento – murmurou, passando as mãos pelo cabelo. Outrora, a sua cabeleira ter-lhe-ia caído sobre os ombros, mas agora não passava de um monte de madeixas rígidas, como se tivesse recebido uma descarga eléctrica.

      Quando abriu a porta não se encontrou com o seu marido, mas com Antonia, que trazia uma bandeja com café e fruta fresca.

      A governanta sorriu amavelmente enquanto colocava a bandeja numa mesa do terraço. Falava num dialecto italiano tão cerrado que Maeve mal podia comunicar com ela mas, ajudada por gestos, conseguiu entender que o signor tinha tomado o pequeno-almoço horas antes e não estava em casa.

      Maeve olhou para o relógio, surpreendida ao ver que eram quase onze horas. Ela estava habituada a levantar-se cedo, mas devia estar demasiado cansada.

      Com a chávena de café na mão passeou pelo jardim, parando ocasionalmente para admirar o mar ou provar as uvas pretas e a fruta que Antonia lhe levara.

      Onde estava Dario?, perguntava-se. E qual era o significado do seu sonho? Quanto tempo demoraria para recuperar a memória?

      Suspirando, decidiu tomar um banho na piscina. Nem sequer tinha de usar biquíni porque estava sozinha na casa e os muros que a isolavam da estrada mediam mais de três metros de altura.

      Rapidamente, antes de perder a coragem, tirou a camisa de dormir e lançou-se à água.

      Era maravilhoso, como cetim a enredar-se nos seus membros. Maeve percorreu a piscina de um lado ao outro pelo menos oito vezes. Depois, esgotada pelo exercício, começou a flutuar, desfrutando daquela sensação de bem-estar.

      Mas, de repente, intuiu que não estava sozinha. Não sabia porquê, talvez um reflexo na água ou por que a porta que dava para a piscina estava aberta quando ela a deixara fechada… ou o frio repentino no ambiente, como se uma sombra ameaçadora se interpusesse entre ela e o sol. Mas nada disso importava; o que importava era que alguém a estava a ver nua.

      Maeve meteu-se debaixo da água e nadou para o lado onde estava o intruso. Uma vez ali, ficou numa esquina, ao lado dos degraus, com os braços cruzados sobre o peito e os joelhos levantados.

      –