Emma Darcy

Recordações de um amor - Uma amante temporária


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encolheu os ombros.

      – Era para falar de alguma coisa.

      – Não faças isso – suplicou Maeve.

      – A que te referes?

      – Parecias dizer que estava a mentir e quero saber porquê. O que é que eu fiz para não acreditares em mim?

      Antes que ele pudesse responder a governanta apareceu para anunciar que o jantar estava pronto. Evidentemente aliviado pela interrupção, Dario deu-lhe o braço para a levar para uma zona do terraço protegida da chuva e do vento por um toldo, em que a governanta tinha posto uma mesa para dois.

      Era como ela imaginara, como uma cena das mil e uma noites. Sobre a mesa havia flores e velas em taças de vidro, guardanapos de linho e talheres de prata. Uma música suave saía de umas colunas de som escondidas na parede, mas a beleza do momento parecia manchada pela tensão que havia entre eles.

      Antonia começou a servir o jantar: uma salada de tomate, cebola e alcaparras com azeite e queijo fresco seguida de peixe-espada grelhado. E, como permaneceu perto deles, a oportunidade de perguntar a Dario o porquê dessa mudança de humor teria de esperar.

      Felizmente, depois de jantar ficaram sozinhos de novo e Maeve interrompeu-o quando estavam a falar dos efeitos terapêuticos dos mananciais da ilha.

      – Muito bem, agora estamos sozinhos e quero que respondas à pergunta que te fiz antes… e advirto-te que estou farta de que as pessoas não sejam sinceras comigo.

      Dario deixou escapar um suspiro.

      – Conheci muitos empresários cuja ideia de um acordo entre cavalheiros é tão falsa como um aperto de mãos – disse ele, olhando para o conteúdo do seu copo. – É uma pena, mas isso fez com que deixasse de acreditar em muitas coisas. Peço-te desculpas se te insultei, Maeve. Não era essa a minha intenção e entendo perfeitamente se me deres um pontapé por baixo da mesa.

      – Perdoo-te com uma condição – ela sorriu. – Fui eu quem mais falou, mas gostaria de saber mais coisas sobre ti.

      – Muito bem.

      – E não me importaria de dar um passeio enquanto falamos.

      – Tens a certeza de que não estás cansada? É o teu primeiro dia fora do hospital.

      – Desde que não tenha de correr uma maratona ou escalar uma montanha, estou perfeitamente bem.

      – Então vamos dar um passeio.

      Dario levou-a até um caminho de cascalho que rodeava a villa e que se perdia por uma série de jardins.

      – Porque é que estão divididos assim?

      – Para os proteger do vento. Estes limoeiros, por exemplo, nunca sobreviveriam se estivessem expostos ao siroco.

      Certamente ela saberia isso, pensou Maeve, tal com milhares de coisas corriqueiras que faziam parte da vida diária de uma pessoa, mas tudo isso podia esperar. Neste momento devia descobrir o que era realmente importante.

      – Vejo que tenho muito que aprender, portanto vamos começar.

      – Por onde começo?

      – Pela tua família, que agora é também a minha família. Vivem em Pantelleria?

      – Sim.

      – Estão aqui agora?

      – Sim.

      – Mas não vi ninguém.

      – Não vivem na minha casa.

      – Ah, muito bem. E onde vivem?

      – Somos vizinhos. A minha irmã vive na casa do lado e meus pais muito perto.

      – E quando não estás na ilha onde vives?

      – Temos casa em Milão, onde fica a sede da minha empresa. Mas não vivemos perto uns de outros como aqui. Na cidade, tu e eu temos um apartamento e a minha irmã e o marido vivem nos arredores da cidade.

      – Só tens uma irmã?

      – Sim.

      – E ela tem filhos?

      – Sim, mas penso que não é boa ideia confundir-te agora com tantos nomes – murmurou Dario, sem olhar para ela.

      – Bom, fala-me da tua empresa. A que te dedicas?

      – Começou por ser uma empresa familiar: Costanzo Industrie del Ricorso Internazionali. Pode ser que tenhas ouvido falar dela.

      – Não, parece-me que não.

      – Foi criada pelo meu bisavô há noventa anos. Depois da destruição da I Guerra Mundial, jurou ajudar aqueles que viviam na pobreza e começou a comprar terras aqui, em Itália, e a fazer parques em zonas que antes eram becos infestados de ratos.

      – Ah, então sabes que, pelo menos, um homem cumpriu a sua palavra.

      – Sim, é verdade – concordou Dario. – Com o tempo, o meu bisavô começou a levantar acampamentos para crianças necessitadas e, para pagar tudo isso, investiu em campos de golfe, estações de esqui, hotéis…

      – Eu teria gostado de o conhecer. Devia ser uma pessoa extraordinária.

      – Sim, certamente. Quando morreu em meados dos anos sessenta, a CIR Internazionali era um nome muito reconhecido em Itália. Hoje é conhecida no mundo inteiro e apoia muitas organizações que ajudam crianças necessitadas.

      – E o que fazes tu na empresa?

      – O meu pai é o presidente e eu sou o vice-presidente. Especificamente, encarrego-me das operações na Europa e nos Estados Unidos.

      – Então estou casada com um gigante das finanças.

      – Sim, algo parecido – tinham chegado a uns degraus de pedra e Dario deu-lhe a mão. – Tem cuidado aqui.

      Excepto as luzes da casa e os candeeiros que iluminavam o caminho, todo o resto estava na penumbra, criando tal sensação de isolamento que, instintivamente, Maeve apertou a sua mão.

      – Parece que somos as únicas pessoas no mundo.

      Ele apertou a sua outra mão um pouco mais. Estavam tão perto que, embora os seus corpos não se tocassem, sentiu como se uma corrente eléctrica os percorresse.

      – Incomodas-te se entrarmos?

      – Não – respondeu Maeve, levantando a cara. – Não me ocorre outra pessoa com quem eu gostasse de estar sozinha no mundo.

      Dario fez então o que desejava fazer desde que a vira descer do avião: inclinou a cabeça e beijou-a. Não na face como tinha feito antes, mas na boca. Não friamente, como uma pessoa a cumprimentar outra, mas como um homem possuído por uma ansiedade que não podia conter.

      E Maeve fechou os olhos, ao sentir o toque da sua língua, saboreando o seu desejo. O de Dario, o dela, mais embriagador do que o champanhe. E durante o tempo que durou o beijo, o vazio que havia dentro dela desde que chegara à villa desapareceu.

      Mas voltou em seguida, assim que a soltou. Levantando a cabeça, Dario afastou-se um pouco, respirando agitadamente.

      – Penso que já sabes o suficiente sobre mim.

      – Não, não é verdade – murmurou Maeve. – Tenho de te fazer mais uma pergunta.

      – Qual?

      – Se nos beijamos assim, como é possível que o nosso casamento não fosse feliz?

      Capítulo 4

      Peruzzi não ficaria contente. O neurologista pedira-lhe que respondesse com sinceridade às perguntas de Maeve, mas só sobre as questões que ela queria saber. E dissera-lhe que não devia ter pressa para retomar a relação…

      Em teoria, todo isto parecia simples.