Janette Kenny

Paixão cruel - Três semanas em atenas


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Enterprises.

      Porque é que os accionistas obrigariam Peter Bellamy a vender o império do seu pai?

      Talvez estivessem dispostos a uma fusão, como a que ela procurara com André antes de perceber a sua perfídia.

      Que ingénua! Se no início só se preocupava com o acordo com André sobre o Château, agora a ideia de ter um filho em comum desestabilizava-a pessoalmente. Como conseguiria contar a um amante fugaz, do qual se separara com hostilidade, que seria pai em breve?

      As náuseas que a tinham acompanhado constantemente durante as últimas semanas ameaçaram aparecer novamente. Kira concentrou-se nas instruções do médico em vez de pegar no telefone e telefonar a André para lhe contar a notícia.

      A porta abriu-se e ela afastou André da sua mente para enfrentar a massagista.

      – Espero que tenha uma boa desculpa para me deixar à espera durante quinze minutos – disse, sem se endireitar.

      Mas as suas palavras não obtiveram resposta.

      Kira franziu o sobrolho, com a sensação inquietante de que havia alguém à porta a observá-la.

      Alguém que não devia estar ali.

      Um arrepio de ansiedade percorreu-lhe as costas e ela tremeu, apesar da manta deliciosa que lhe cobria o corpo nu.

      – Quem está aí?

      – Bonjour, ma chérie – disse um homem, num tom grave e penetrante.

      André Gauthier! Em vez de retribuir a sua chamada, fora vê-la!

      O primeiro impulso de Kira foi levantar-se da marquesa e precipitar-se para os seus braços, mesmo que fosse apenas para se certificar de que não era um sonho. Mesmo que fosse apenas para o acariciar, para o beijar, para sentir novamente as suas mãos e a sua boca.

      – Sugiro que deixemos esta conversa para mais tarde, quando estiver apresentável – disse ela, fazendo um esforço para controlar as suas emoções.

      – Não vim para falar.

      Ele aproximou-se lentamente da marquesa.

      O homem apoiou uma mão nas costas femininas, à altura da cintura, marcando-a com o calor da palma, recordando-lhe que, da última vez que lhe tocara, a perdera num verdadeiro mar de paixão e prazer.

      Embora também não precisasse de se esforçar para a fazer lembrar-se.

      Mas onde antes sentira o ardor masculino, agora sentia apenas o seu antagonismo. Totalmente dirigido para ela.

      A raiva masculina não era o melhor augúrio para a notícia que tinha de lhe dar.

      – Então, porque vieste? – perguntou ela, com um tremor incontrolável na voz.

      – Para reclamar o que é meu.

      Kira cravou as unhas na marquesa. Claro, estava ali para continuar a negociar o hotel Château Mystique. Não por ela.

      Kira esperara aquela conversa. Embora numas circunstâncias muito diferentes, com ela vestida e em total controlo das suas emoções, na reunião de direcção que tinham marcado para daí a duas semanas, não nua, deitada numa marquesa e a tremer de desejo.

      André percorreu-lhe a coluna vertebral com a mão, deslizando lentamente a toalha sobre a pele. Ela cerrou os dentes, lutando contra as emoções que a embargavam, irritação, desejo, necessidade…

      Era uma batalha perdida.

      Desde que o vira pela primeira vez, Kira soubera tudo o que ele era, reconhecera a intensidade da sua presença, a virilidade do seu corpo e do seu cheiro, mistura de homem e de mar.

      Os dedos masculinos deslizaram sobre as costas nuas numa carícia sedosa, enchendo os seus sentidos de lembranças espontâneas dos beijos embriagadores que continuavam gravados na sua mente, das mãos experientes que a tinham levado ao topo do prazer e da noite partilhada, a experiência mais intensa e apaixonada da sua vida.

      Aquela carícia firme, mas suave, impedia-a de pensar. O seu corpo reagiu traiçoeiramente e Kira sentiu como os seus seios reagiam e os mamilos se arrepiavam.

      Com muita dificuldade, conteve um suspiro de prazer. Uma sensação intensa e sensual começou a convergir na união das pernas, fazendo-a tremer de desejo. Maldito!

      – Este não é lugar para falar de negócios.

      – Lamento discordar.

      O barulho de papel ouviu-se no silêncio. Uma pasta apareceu à frente dos seus olhos.

      Kira deixou escapar um suspiro, certa de que seria outra oferta tão vaga como as anteriores pelo Château. Mas ao ler o título sentiu-se atónita.

      Não! Não podia ser! Leu cada palavra sem conseguir acreditar no que via.

      – Que é isto? Queres enganar-me? – perguntou ela.

      – Nada de enganos, ma chérie. Como podes verificar, sou o accionista maioritário do Château Mystique.

      Impossível! As acções de Edouard tinham de passar para as suas mãos depois da leitura do testamento e ainda faltavam duas semanas para isso. Edouard prometera-lhe que, depois da sua morte, ela teria o controlo maioritário do hotel.

      No entanto, o documento demonstrava que as acções de Edouard tinham caído nas mãos daquele multimilionário arrogante. Kira duvidou da sua validade, apesar de ter a assinatura do seu advogado, uma assinatura que vira em inumeráveis ocasiões.

      Uma vez mais, sentiu-se traída, usada e abandonada.

      André controlava o seu hotel, o seu lar, e se lhe permitisse, acabaria por controlá-la também.

      A mão masculina deslizou sobre os seus ombros numa falsa carícia e ela tremeu, encolerizada como nunca antes.

      André desatou a rir-se, sem dúvida, desfrutando da reacção feminina, e a humilhação de Kira foi completa.

      – Levanta-te.

      Kira endireitou-se rapidamente, cobrindo o peito com a toalha e abanando a cabeça para afastar o cabelo da cara, tão furiosa e surpreendida que nem sequer viu o brilho de admiração nos olhos masculinos ao olhar para ela.

      Pelo menos, estavam sozinhos. Sabia que André nunca saía sem o seu guarda-costas, um valentão que certamente estava no corredor, certificando-se de que ninguém os interrompia.

      Levantando o olhar, Kira percorreu o corpo alto e musculado de André, vestido com um fato cinzento de corte impecável que marcava ainda mais a largura dos ombros e do peito poderosa. A camisa, imaculadamente branca, contrastava com a pele bronzeada, e a gravata prateada condizia com o relógio de platina que, certamente, custava mais do que ela ganhava por ano.

      Kira sentiu que o seu coração acelerava traiçoeiramente ao recordar como gostara de ter aquele corpo colado ao dela, aquelas mãos compridas e esbeltas a levá-la várias vezes ao topo do prazer.

      Com ele, fora assim desde o princípio. Duas horas depois de se conhecerem, estavam nos braços um do outro a fazer amor com uma urgência e uma paixão que a fizera ignorar as consequências de cair na cama de André.

      «Diz-lhe qual foi o resultado da aventura», gritava uma voz repetidamente na sua mente. «Diz-lhe de uma vez.»

      Com mãos trémulas, Kira olhou para ele nos olhos. Uma onda violenta de emoções caiu sobre ela, deixando-a sem forças. Não, aquele não era o momento.

      – Veste-te! – ordenou ele.

      Kira virou-lhe as costas e vestiu um vestido de Verão de seda azul sem conseguir evitar o tremor das suas mãos e os batimentos fortes do seu coração por o ter tão perto. Sob o olhar masculino sentia-se tremendamente vulnerável.

      – Suponho que agora quererás comprar as minhas acções – disse ela.

      – Oui.

      –