Janette Kenny

Paixão cruel - Três semanas em atenas


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Não me passaria pela cabeça – declarou ele, dirigindo-se para a cama para fechar a mala e pô-la no chão.

      Com apenas cinco segundos de sobra, Kira saiu do roupeiro com uma saia estampada que lhe marcava as nádegas e as coxas e deixava os joelhos e a barriga das pernas a descoberto e com uma camisola de Verão turquesa perfeitamente moldada aos seios que ele conhecia tão bem. Inconscientemente, ele sentiu-os novamente nas palmas das mãos enquanto ela calçava umas sandálias de salto alto e punha o nécessaire numa pequena mala de viagem. Depois, procurou a sua mala e pegou no telemóvel. Rapidamente, André tirou-lhe a mala e o telefone, que deixou numa estante.

      – Portanto, conseguiste telefonar a Peter? – perguntou ele, brincalhão, segurando a mala e dirigindo-se para a porta.

      – Deixei uma mensagem ao meu advogado.

      – Espero que tenha sido de despedida – André abriu a porta e convidou-a a sair.

      Kira olhou para a estante uma última vez e, com a cabeça erguida, saiu para o corredor. André seguia-a, observando o movimento sinuoso das suas ancas. Ela entrou no elevador e André fez o mesmo. A bagagem obrigou-os a ficarem mais próximos.

      As portas começaram a fechar-se e, exactamente naquele momento, começaram a abrir-se as portas do elevador da frente. Durante uma décima de segundo, ambas as portas permaneceram abertas e André olhou para Peter Bellamy. O seu rival olhou para ele com raiva e, depois, fixou o olhar em Kira.

      Ao vê-la tão perto de André, Peter ficou boquiaberto: a sua amante ia fugir com o seu inimigo. Furioso, fixou novamente o olhar em André.

      Ele sorriu, passou um braço pelo ombro feminino e ofereceu um sorriso carregado de ironia ao seu rival.

      Capítulo 2

      Ao trocar o avião privado de André pela limusina que os esperava no aeroporto internacional de Martinica, Kira perguntou-se quando acabaria aquele dia, cansada depois do longo trajecto de Las Vegas, durante o qual nem sequer pudera falar com André. Ele perdera-se num silêncio absoluto e frustrara as suas esperanças de falar com ele racionalmente durante o voo.

      E não era só ela que estava cansada.

      As olheiras e a barba incipiente no rosto masculino reflectiam também o seu cansaço. Ao olhar para ele, Kira recordou a sensação daqueles lábios firmes nos seus, destruindo as suas defesas e dissipando os seus medos. Recordou como as suas mãos, a sua boca e o seu corpo a tinham levado ao primeiro orgasmo demolidor e tinham continuado a fazê-lo mais vezes do que ela conseguia recordar, até a deixarem deliciosamente saciada e mais feliz do que nunca.

      Isso fora a calma antes da tempestade. O que agora não conseguia imaginar, enquanto a limusina avançava pelos campos de açúcar em direcção a Fort-de-France, era que tempestade se aproximava com André.

      Há três meses, ambos, dominados pela raiva, tinham expressado o desejo de não quererem voltar a ver-se. No entanto, pouco depois, ela telefonara-lhe e, agora, ele fora ter com ela. Ou teria planeado ir ao Château de qualquer modo, para a raptar?

      Provavelmente, esse era o caso e fora por isso que ela decidira que seria melhor manter o seu segredo durante um pouco mais de tempo. Demasiado cansada para continuar a pensar, Kira esticou as pernas e observou os exuberantes jardins tropicais que se prolongavam para ambos os lados da ampla avenida. À medida que se aproximavam do porto, entraram numa zona de lojas pitorescas e casas às cores com um fundo de colinas de palmeiras frondosas. Música reggae ecoava na zona do mercado ao ar livre, onde as mulheres vestiam roupas de cores vivas e as crianças brincavam, despreocupadas, nas calçadas.

      Kira levou uma mão à barriga, ainda plana, e esboçou um sorriso triste. Como é que André reagiria quando lhe dissesse que esperava o seu filho? Aceitaria a sua responsabilidade com uma indiferença resignada, como o seu próprio pai fizera? Não, não podia ser assim tão cruel e tão frio.

      – O que se passa? – perguntou André, inclinando-se para ela. – Estás doente?

      «Estou grávida». Kira olhou para ele, disposta a dizer-lhe, mas os olhos do homem eram tão pretos e turbulentos como uma tempestade invernal. E ela estava demasiado cansada para enfrentar toda a força e a raiva que o imaginava capaz de desencadear.

      – Estou cansada – disse, finalmente. – Foi uma viagem muito comprida.

      – Poderás descansar no barco – disse ele. – Só falta uma hora de viagem.

      A limusina chegou, finalmente, à baía de Flamands Bay, onde estava atracado um enorme barco de cruzeiro entre um bom número de catamarãs e iates que se balançavam languidamente nas águas turquesa das Caraíbas. André saiu da limusina assim que ela parou e deu a volta para lhe abrir a porta. Baixando-se ligeiramente, estendeu-lhe a mão.

      Kira olhou para a mão de dedos compridos e elegantes e pele bronzeada e recordou a sensação daquelas mãos a acariciarem o seu corpo nu e a levá-la várias vezes ao máximo prazer.

      – Não mordo – disse ele, ao vê-la hesitar, num tom não isento de arrogância.

      – Não seria a primeira vez – respondeu ela e viu nos olhos masculinos o mesmo brilho de paixão que ela sentia. Imediatamente, arrependeu-se das suas palavras.

      – Eu não era o único com dentes, ma chérie – defendeu-se ele, segurando na sua mão.

      Kira gostaria de se afastar, mas não conseguiu. Desejou apoiar-se nele, mas não se atreveu. No entanto, o calor da sua pele e o contacto fizeram-na sentir-se segura e protegida e, deixando-se levar, saiu do veículo.

      Que patética! Só uma parva teria fantasias com o homem que a acusava de levar os paparazzi para a sua ilha, um homem que ficara com as acções maioritárias no seu hotel e que a obrigara a voltar à ilha, ao mesmo lugar onde vivera os momentos mais apaixonados da sua vida, onde tinham concebido um filho.

      No molhe, André levou-a até uma pequena lancha atracada no barco. Kira sentiu-se atónita.

      – Por favor, diz-me que não tenho de andar naquela lancha.

      – Oui, é a forma mais rápida.

      Inconscientemente, chegou-se para trás, o que não era fácil, tendo em conta que ele continuava a dar-lhe a mão e tremiam-lhe os joelhos.

      – Não, não consigo.

      Ele olhou para ela com intensidade.

      – Não tens outra alternativa.

      Kira engoliu em seco e fechou os olhos, tentando acalmar a sua ansiedade.

      – As lanchas pequenas dão-me verdadeiro pânico.

      – Não tens nada a recear.

      Aterrada, percebeu que ele falava muito a sério, ignorando, é claro, que ela estivera prestes a morrer num acidente de barco no lago Mead, perto de Las Vegas. Aquela lembrança e as suas consequências devastadoras ainda continuavam vivas na sua mente. Não, não conseguia entrar naquela lancha.

      Escapou bruscamente da mão masculina, contudo, antes de conseguir virar-se e fugir dali, André pegou nela ao colo e entrou na lancha com ela.

      – Calma, ma chérie. Vês aquele iate ancorado no meio da baía?

      Efectivamente. Um iate branco e elegante brilhava como uma pérola contra o céu alaranjado do entardecer. Mas estava muito longe.

      – No Sans Doute estarás perfeitamente – declarou ele, pondo-a no chão, ao mesmo tempo que dava instruções em francês ao jovem que se ocupava do motor. Depois, sentou-se no banco e puxou-a, sentando-a ao seu lado.

      O corpo de Kira tremia com um medo incontrolável e agarrou-se com tanta força ao banco que ficou sem sensibilidade nos dedos. André observava-a com o sobrolho franzido.

      – Mon Dieu, tens mesmo medo.

      Ela assentiu em silêncio.

      André